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sexta-feira, 15 de julho de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - COLD MOUNTAIN

Os romances épicos fazem parte de um tipo de cinema que vira e mexe cai em desuso. Por questões de despesas e até mesmo modismos estéticos, as produções mais simples são privilegiadas enquanto aquelas que exigem um apuro maior da parte técnica e artísticas são consideradas verdadeiros riscos por parte dos estúdios. Já houve diversos títulos épicos de sucesso no passado, mas a lista de fracassos também é bem grande, incluindo vários de safras recentes. O estilo romântico ao extremo e a longa duração, além da pretensão de se tornar um marco na história cinematográfica do tipo E o Vento Levou, podem ser as razões do fracasso de público de Cold Mountain (2003), um filme superestimado pelo seu criador, o já falecido cineasta Anthony Minghella, mas subestimado pelas platéias e até por parte da crítica especializada. Uma grande injustiça feita a um belíssimo filme que não apresenta problemas a olhos nus. Talvez a rejeição que sofreu seja proveniente de histórias de bastidores que ganharam as páginas dos jornais e revistas.

Minghella já havia ganhado muitos prêmios com O Paciente Inglês, um épico romântico e de longa duração, e já havia conquistado também algumas vagas nas premiações com O Talentoso Ripley, assim ele se acostumou a se envolver com produções que preservam características do cinemão hollywoodiano de antigamente agregadas ao estilo dos chamados filmes de arte e que são obras declaradamente feitas para participarem das temporadas de entrega de troféus. Com este trabalho não foi diferente, até porque foi realizado sob a batuta da Miramax, produtora que acumulou mais de uma centena de indicações e diversas estatuetas do Oscar em poucos anos enquanto era independente (hoje ela é integrante do império Disney). A história reúne todos os elementos que podem nos remeter aos grandes clássicos de antigamente e o título foi lembrado nas premiações, porém mais pela parte técnica. Na festa da Academia de Cinema, realmente surpreendeu, mas foi pelo fato de não ter obtido o reconhecimento esperado. Apesar das sete indicações, que não incluem as famigeradas categorias de melhor filme, direção, roteiro e atriz, a produção ganhou apenas a estatueta de atriz coadjuvante conquistada por Renée Zellweger, que se sobressai no elenco. Nicole Kidman, mesmo interpretando a típica mocinha dos romances de outrora, acabou sendo ofuscada na trama pela colega, enquanto Jude Law fez um papel correto de um homem atormentado pelos horrores da guerra e buscando voltar a encontrar a paz em sua bucólica cidade, mas em um desempenho abaixo dos seus concorrentes na disputa.


A história guarda muitos paralelos com o clássico texto grego "A Odisséia", de Homero. O fio condutor do enredo é mantido, mas o cenário é alterado para uma idílica paisagem de campo e as ações se passam em pleno auge da Guerra Civil Norte-Americana. Os homens do povoado de Cold Mountain imediatamente unem-se ao exército dos Confederados quando o conflito é declarado. Ada (Nicole Kidman) se apaixona por Inman (Jude Law), um dos empregados do sítio de seu pai, o Reverendo Monroe (Donald Sutherland), mas o rapaz também foi recrutado e irá lutar com o exército. Ambos prometem esperar o tempo que for necessário para voltarem a se ver, mas a batalha parece não ter fim e a moça nunca recebe respostas das cartas que envia ao soldado, o que a leva a crer que ele faleceu ou desistiu do amor. Após a morte de seu pai, Ada fica sozinha e precisa aprender a cuidar da sua propriedade, inclusive passa a vender tudo o que tem para conseguir dinheiro. Eis que surge em seu caminho Ruby (Renée Zellweger) uma moça humilde e com hábitos rudes e masculinizados que a ajuda a superar o momento difícil e a encoraja a ir atrás de seu grande amor. Enquanto isso, Inman também está tentando voltar para a casa, mas ele está em rota de fuga por ter desertado de seu posto no combate.

O filme nos apresenta, portanto, a duas histórias paralelas que se cruzarão no final. Em uma, as mulheres se unindo para protegerem suas vidas e conseguirem se manter em um mundo dominado por homens e onde o perigo pode estar em qualquer lugar escondido prestes a atacar as donzelas indefesas. Na outra, um homem está em uma jornada tentando voltar para sua amada e passando por diversas dificuldades e encontrando os mais variados tipos de pessoas em seu caminho. Aliás, o elenco principal é pequeno e invejável, mas a lista de coadjuvantes é extensa e também repleta de nomes de destaque como Natalie Portman, Brendan Gleeson, Giovanni Ribisi e Philip Seymour Hoffman. Como estão muito bem caracterizados, é até difícil reconhecer algumas das participações especiais.


Baseado no livro homônimo de Charles Frazie, que utilizou muitas referências de seus parentes que lutaram na Guerra Civil, além do já mencionado conto grego para escrever sua obra, esse filme é um daqueles trabalhos impecáveis que de tão bem feitos acabam causando reações inesperadas e contrárias. No caso, o apuro técnico aliado ao excelente texto e um elenco afiado gerou muitas críticas negativas, até pelo fato de já vir embalado como um produto oscarizável. Puro preconceito. É preciso ser razoável e no mínimo classificar este título como um bom entretenimento e que merece uma nova chance. O único defeito de Cold Mountain foi ter tido seu lançamento realizado de forma pretensiosa demais o que acaba chegando à imprensa soando negativamente e contaminando o público pouco a pouco, mas para quem assistir livre destas amarras tolas certamente reconhecerá um dos grandes clássicos românticos do século 21. Aproveite as férias para viver essa odisséia de amor e esperança.

Um comentário:

renatocinema disse...

Grande filme, em minha opinião, com três grandes atuações dos protagonistas.

Adoro essa linha de roteiro.

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