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segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - O CLÃ DAS ADAGAS VOADORAS

Os filmes épicos orientais são verdadeiros colírios para muitos olhos e nos primeiros anos da década de 2000 conquistaram de vez as platéias ocidentais com um cinema vibrante, poético, colorido e que sabe utilizar as artes marciais com delicadeza e fascínio. O Clã das Adagas Voadoras (2004) não foge a regra. O diretor Zhang Yimou tem verdadeira paixão por obras que aliam a história da China com combates meticulosamente coreografados e pensados como se cada fotograma fosse tão belo quanto uma pintura. Depois do sucesso de seu longa anterior Herói no qual o cineasta investiu pesado em sequências de luta aqui ele encontrou formas mais sutis de mostrar seus golpes e chutes, começando muito bem com uma belíssima introdução mostrando a protagonista vivida por Zhang Ziyi em um balé de sons e de tecidos esvoaçantes que impressionam pela beleza plástica e perfeitos efeitos sonoros. Só vendo para crer e com a certeza de que depois deste início dificilmente alguém não ficará com os olhos grudados na tela.

A história se passa no ano de 859 quando a China passava por terríveis conflitos durante a dinastia Tang, antes próspera, mas decadente no momento. Corrupto, o governo é incapaz de lutar contra os grupos rebeldes que se surgem, sendo o mais poderoso e prestigiado deles o Clã das Adagas Voadores. Leo (Andy Lau) e Jin (Takeshi Kaneshiro), dois soldados do exército oficial, recebem a missão de capturar o misterioso líder dos Punhais Voadores e para tanto elaboram um plano. Jin se disfarça como um combatente solitário e ganha a confiança da bela deficiente visual Mei (Zhang Ziyi) a nova funcionária de uma casa de prostituição que desconfiam que ela faça parte do tal clã. Com a ajuda da moça os dois corajosos combatentes conseguem se infiltrar no grupo revolucionário, mas a dupla não contava com a paixão que Mei despertaria neles. São várias as reviravoltas do roteiro até que o clímax é atingido quando o passado do clã vem a tona e segredos são revelados.


Com um tom romântico guiando os caminhos, o enredo privilegia a sua figura feminina principal, que inicialmente mostra-se frágil e retraída, mas lá pela metade do filme se revela uma mulher decidida e muito valente. Zhang é a responsável pelas cenas mais emocionantes, como já dito no início do texto a respeito da dança do eco por exemplo, e ela aparece muito natural no papel e conquista rapidamente os espectadores, confirmando seu talento para produções dramáticas e empenho para complicadas coreografias de lutas marciais, sobressaindo até mesmo aos seus companheiros de cena que apesar de atuarem com vigor não chegam ao mesmo patamar que a protagonista. Claro que as sequências de luta ganham toques muito especiais graças aos caprichadas figurinos, direção de arte e locações que são de encher os olhos, como na cena de batalha em uma floresta de bambu que por pouco não chega a passar a sensação de frescor daquele ambiente a quem está assistindo. Porém, os cenários em que predominam a cor verde estão longe de serem bucólicos. São nesses locais que os protagonistas correm perigo. Vale destacar o efeito especial usado nas sequências em que as adagas ou facas são jogadas contra os inimigos. O movimento da câmera acompanhando esses objetos reproduz a ótica do espectador perfeitamente. A produção não é em 3D, mas se o espectador permitir que sua imaginação entre nesse mundo aparentemente tranqüilo, a tecnologia não fará falta alguma. Tudo foi idealizado com tanto cuidado que parece palpável ou, no mínimo, digno de observação detalhada.

Para quem espera ver cenas de ação e luta no estilo das produções estreladas por Jackie Chan passe longe deste título. Apesar de bons momentos mais agitados, o enredo é bem mais puxado para o lado sentimental e lírico e se aprofunda na criação da história e das personalidades e conflitos das personagens, o que é muito benéfico para criar um elo com o espectador. Diferentemente de tantos outros filmes do gênero, aqui os tipos criados são totalmente verossímeis e conseguem expor com muita eficiência os seus sentimentos. Se você já se desanimou por causa disso, não perca as esperanças. Chinesinhos voando para cá e para lá e distribuindo golpes fisicamente impossíveis estão garantidos. Yimou parece não querer abrir mão do aspecto fantasioso em seu trabalho e tem consciência de que é no absurdo que ele encontra espaço para criar verdadeiros espetáculos visuais.


Belíssimo da primeira até a última cena, O Clã das Adagas Voadoras é mais uma prova de que o cinema oriental tem qualidades relevantes e sabe como nenhum outro unir emoção e espetáculo em um mesmo produto. Ainda tem gente que tem um pé atrás com filmes fora do circuito norte-americano, mas até este enredo se for bem analisado não tem nada de quebra-cabeças como muitos encasquetam. No fundo é mais uma bela história de amor contada de uma maneira diferenciada, mas ainda mantendo aspectos tradicionais. Dois homens dispostos a tudo para conquistarem o amor de uma bela dama é a espinha dorsal desta obra que apesar de ser muito elogiada e indicada a diversos prêmios encontrou resistência para ser exibida nos Estados Unidos. A exibição só ocorreu graças aos esforços do cultuado cineasta Quentin Tarantino, fã confesso do estilo, que ajudou a levar esta obra de arte para os ianques. O Oscar para variar ignorou um trabalho verdadeiramente artístico para atender aos apelos comerciais, assim indicando o filme apenas para a categoria de fotografia. Era grande a expectativa pela indicação a filme estrangeiro e em várias categorias técnicas que, diga-se de passagem, deixaria seus concorrentes praticamente sem chances de levar a tão cobiçada estatueta dourada para cara. Infelizmente na temporada de premiações o conceito de cinema como arte é frequentemente esquecido. Se você nunca assitiu a esta deliciosa viagem onírica que Yimou proporcionou ao mundo não sabe o que está perdendo, mas nunca é tarde para correr atrás do tempo perdido.

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