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terça-feira, 17 de janeiro de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - DEIXE-ME ENTRAR

O cinema produzido fora do circuito hollywoodiano cada vez mais vem ganhando projeção e admiração do público, mas basta fazer sucesso que logo os produtores ianques se entusiasmam e correm atrás dos responsáveis para comprar os direitos de refilmagens. Isso acontece há anos, mas essa onda tem se intensificado devido a escassez de idéias que o cinema americano frequentemente enfrenta. Um dos trabalhos que gerou certo burburinho foi Deixe-me Entrar (2010), produção que foi lançada com a propaganda extra de ser baseada no terror sueco Deixa Ela Entrar, um sucesso de público e crítica que foi exibido em diversos festivais de filmes de terror e independentes e chamou a atenção dos americanos.

A versão original ganhou destaque em jornais e revistas brasileiros e instigou os leitores, mas o remake é mais fácil de encontrar e muita gente levou para casa gato por lebre. Ou quase isso. Os nomes muito parecidos confundem aqueles que querem optar por uma versão apenas, mas tanto uma quanto a outra são praticamente idênticas. O diretor Matt Reeves, o mesmo do inesperado sucesso Cloverfield - Monstro, foi escolhido justamente pela sensação que causou ao aguçar a curiosidade dos espectadores em seu trabalho anterior e se valeu da atração que os vampiros sempre exerceram no cinema. Ele levou a sério o ditado "em time que está ganhando não se mexe" e não adaptou a produção sueca, preferindo refilmá-la literalmente. Tal medida tem um por que bem patriota do cineasta ou por parte do estúdio: agradar o público americano que em geral odeia legendas e quase sempre ignora filmes estrangeiros. Dessa forma, o projeto já nascia com tudo para dar certo e com uma proposta bem interessante. A figura vampiresca é apresentada de uma forma diferenciada, um tanto humanizada, deixando quase esquecida a imagem de criaturas sanguinolentas e perversas propagadas pelas fitas de terror, mas ainda longe da aura romântica que ganharam na cinessérie Crepúsculo.

A trama gira em torno de Owen (Kodi Smit-McPhee), um garoto solitário que vive com a mãe após a separação dos pais. Frequentemente ele é provocado e humilhado pelos valentões da escola e nutre dentro de si um desejo de vingança que extravasa as escondidas e para si mesmo repetindo ameaças e ações que lhe são destinadas. Certa noite ele conhece sua vizinha Abby (Chloe Moretz), uma garota que aparenta ter a mesma idade que ele, vive nas sombras e é tão quieta e sozinha quanto Owen, o que gera uma identificação imediata entre eles. Ele nem desconfia que a jovem guarda segredos muito peculiares: ela é muito mais velha que sua aparência indica e precisa se alimentar de sangue. Para consegui-lo, seu acompanhante (Richard Jenkins) realiza assassinatos na calada da noite com o intuito de retirar o sangue das vítimas e levá-lo para Abby que se esforça ao máximo para não deixar que seus instintos a dominem forçando-a a matar para sobreviver. Ambos tentando se esconder daqueles que podem lhes fazer algum mal, não é de se estranhar que a noite para eles é uma benção e o momento que se sentem mais a vontade.
Essa história macabra e ao mesmo tempo dramática e com toques de atualidade (o tema bullying) é baseada na obra do romancista John Ajvide Lindqvist que desmistifica, como já dito, a imagem do vampiro que o cinema ajudou a construir. O sadismo, glamour e sensualidade são deixados de lado para apresentar os aspectos negativos das vidas de tais criaturas. Vivem muitos anos, precisam matar para sobreviver e não conseguem controlar seus instintos, tudo para afastá-los de qualquer possibilidade de viver uma vida comum. São seres deslocados que ou se adaptam a sua triste ou feliz realidade, dependendo do ponto de vista, ou se escondem do mundo, vivem nas sombras para não serem notados, como faz a protagonista que sofre por aparentar ser uma criança comum, mas que carrega o peso da idade em sua consciência e não pode ter relacionamentos estreitos com humanos, pois qualquer um pode ser a sua próxima vítima. Apesar de a trama ter um viés inovador, não é difícil imaginar no que vai dar a amizade entre duas pessoas que passam por conflitos semelhantes e que aqueles que durante todo o longa humilharam Owen no final irão pagar pelo que fizeram, aliás, em uma cena que pode decepcionar aqueles afoitos por sangue, mas que deixa a câmera e a sonorização (ou a falta dela) fazerem o trabalho de amedrontar o espectador.
Passado na década de 1980, o filme conta com muitas referências a época, como o popular jogo Cubo Mágico e o costume de frequentar pequenos comércios em busca de doces (raridade hoje em dia), além de uma trilha sonora também datada, tudo para ajudar a manter o clima sombrio e de suspense das produções do período, porém, evitando os efeitos especiais, imagens bizarras e sangue jorrando por todos os lados que eram uma coqueluche do cinema de terror antigamente. Pensando bem, atualmente esses elementos também estão em alta e talvez por isso mesmo Deixe-me Entrar se destaque. Explorando a idéia de que um vampiro só pode entrar em uma casa quando é convidado, a trama é bem intrigante e deve deixar muita gente roendo as unhas sem recorrer a sustos fáceis, o que certamente decepciona aqueles que procuram uma ataque sanguinolento a cada cinco minutos. Bem avaliado pela crítica, todavia, a obra perde alguns pontos por ter sido lançada com pouco tempo de distância da versão original e sem acrescentar nada. Já diz o velho ditado: quem tem pressa come cru. Não é excelente, mas vale uma conferida, principalmente pelo foco diferenciado da história que, no fundo, coloca em pauta a situação dos excluídos da sociedade. Em resumo, digamos que este é um suspense com uma pegada intelectual.

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