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sexta-feira, 27 de janeiro de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - HORROR EM AMITYVILLE

Remexer em situações misteriosas do passado para conseguir material para filmes de terror e suspense pode soar como uma idéia batida e que vai dar com os burros n'água, mas esse tipo de produção tem seu público cativo e por isso anualmente ao menos uns dez títulos com pretensões de deixar os espectadores roendo as unhas desembarcam nos cinemas ou diretamente nas locadoras. O famoso baseado em fatos reais é o chamariz e quanto mais instigantes e bizarros forem os fatos que deram origem ao roteiro melhor, embora muitas produções utilizem esse recurso de forma desonesta só para atrair público. Ainda bem que vez ou outra surge um excelente filme de terror que não se prende a apenas agradar platéias acéfalas, mas tem pretensões de arrebatar novos fãs para o gênero e agregar ou até mesmo reconstruir sua imagem. Um bom exemplo disso é Horror em Amityville (2005), longa dotado de muitas qualidades, como uma narrativa coesa e crível, boas interpretações, ambientação aterrorizante e cenas que assustam, mas não chegam a chocar totalmente. Uma pena que pouca gente o tenha assistido, ao menos no cinema.


Os fatos que originaram esta história começaram no dia 13 de novembro de 1974 quando a polícia da região de Amityville foi chamada para atender um caso de assassinato coletivo. Em uma casa grande, de estilo antigo e a beira de um lago, o sonho de muitos, a cena que foi encontrada é digna de pesadelo. Uma família inteira foi assassinada de madrugada enquanto dormia. Poucos dias depois, Ronald Defeo Jr. confessou ter matado com um rifle seus pais e seus quatro irmãos e alegou que foi levado a esses atos por vozes misteriosas que ouvia dentro da residência. Ignorando a história macabra, um ano depois a propriedade é adquirida pelo casal George (Ryan Reynolds) e Kathy Lutz (Melissa George) que vão morar lá com seus dois filhos. Não demora muito e situações estranhas passam a acontecer e o chefe da família começa a demonstrar um comportamento violento. Kathy passa a investigar o passado da casa e tem certeza de que há algo de maligno por lá que precisa ser combatido o mais rápido possível antes que o destino de sua família seja o mesmo dos antigos habitantes.


Lendo a sinopse você pode não se entusiasmar muito. Filmes com casa assombradas existem aos montes, mas aqui somos poupados de clichês do tipo adolescentes babacas que serão limados um a um ou fantasmas criados por péssimos efeitos especiais que mais causam risos que espanto. Aqui o medo é mais psicológico e o espectador vai vivenciando a imersão do protagonista em um mundo de loucuras pouco a pouco assim como acompanha o desespero de sua esposa em tentar solucionar o caso. As cenas em que o lado do mal se manifesta em Reynolds realmente deixam quem assiste em estado de tensão, mas não espere banhos de sangue ou uma morte a cada cinco minutos. O clima de terror é proposto gradativamente e cada vez que uma isca é jogada ficamos ainda mais envolvidos no conflito. O segredo do negócio é justamente não escancarar tudo. Existe abertura para se perguntar se o que vemos em cena é um caso de loucura ou de possessão, seja do marido ou do próprio casal. É bom lembrar que nem as crianças são poupadas dos sustos. A cena da baby-sitter é aterrorizante e também um tanto nostálgica. A maior parte dos filmes de terror antigos investia no enredo "crianças em casa sozinhos com babá jovem e gostosa passam por maus bocados em uma noite escura e cheia de mistérios".

O ar de nostalgia da produção não se deve apenas ao fato da história em que se baseia ser de décadas atrás. Os cenários, fotografia, iluminação e efeitos sonoros nos remetem a uma filmografia de terror antiga justamente por este caso verídico que chocou os EUA e o mundo já ter sido adaptado para o cinema em outras ocasiões. Após virar enredo de livro do escritor Jay Anson, que se baseou em relatos reais sobre os fatos vividos pelas duas famílias que habitaram o casarão, o conto macabro ganhou as telas grandes em 1979. A Cidade do Horror talvez tenha impactado na época tanto quanto seu contemporâneo O Exorcista, mas sua fama não se manteve tão intacta. Ambos têm em comum o fato de estranhos acontecimentos com sinais de serem coisas do além atingirem uma família comum, o que gera interesse no público, afinal todos estariam propensos a sofrer com aquilo, sem essa de que o mal só volta para quem o deseja aos outros. O longa teve o título muito genérico trocado por Terror em Amityville (é quase uma raridade achá-lo) e algumas sequências dispensáveis foram lançadas no auge das fitas VHS, mas é melhor nem ir em busca destas pérolas trash.


Com a produção de Michael Bay e roteiro de Scott Kosar, os mesmos responsáveis pela refilmagem de 2003 de O Massacre da Serra Elétrica, o diretor Andrew Douglas estreou com o pé direito sua carreira ao aceitar a refilmagem do longa setentista. O antigo era bom, causava sustos, mas no conjunto faltavam alguns elementos para torná-lo memorável. O estreante lapidou o material, inseriu algumas coisas e ofereceu um trabalho extremamente satisfatório e de qualidade superior ao que a demanda do gênero pede.  Seus cortes bruscos de cena quando necessários, câmera atenta aos detalhes e bom aproveitamento da cenografia e iluminação tenebrosa provam que ele tem talento. Tudo bem que uma ou outra cena sanguinolenta envolvendo algum visitante do além poderiam ser evitadas, como uma criatura ensanguentada no banheiro a noite, até porque tais fatos não existiram na realidade, nem mesmo em delírio. Fora alguns poucos deslizes, Douglas consegue dar um frescor a um roteiro que facilmente cairia no previsível e transitar com perfeição de uma narrativa predominantemente de suspense para um clímax cheio de adrenalina que muito diretor especializado no campo de ação não consegue atingir. Aliás, a conclusão deve encher de esperança aqueles que já estavam desacreditados no gênero de terror. Horror em Amityville é obrigatório para quem curta um bom filme que respeite a inteligência do espectador, embora gente para apedrejar esta produção não falte. Só espera-se que os mesmos no mínimo tenham assistido para poder julgar com sabedoria. Se alguém disser que esta obra está no nível ou até abaixo de coisas do tipo A Casa da Colina ou A Casa Amaldiçoada procure urgentemente um exorcista... Ops, melhor dizendo, um médico.  

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