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domingo, 22 de janeiro de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - O AVIADOR

Existem algumas produções que nascem com quase tudo contra o seu sucesso. O Aviador (2004) é um exemplo. Longo demais, biografia de um homem estranho a boa parte da população mundial, jeito de dramalhão e Leonardo DiCaprio como protagonista (na época o astro ainda batalhava para se livrar do estigma que Titanic lhe deixou). Por outro lado, o elenco coadjuvante, a reprodução impecável da primeira metade do século 20 e a metalinguagem de homenagear o cinema dentro de um filme chamam a atenção. Somam-se a isso tudo a direção sempre competente de Martin Scorsese e muitas indicações a prêmios. O longa ganhou notoriedade e levou bastante gente aos cinemas e movimentou o mercado de locações quando lançado em DVD, mas a aprovação não foi a esperada. Muita gente após o término (se é que assistiram até a última cena) provavelmente jurou não recomendar este filme nem para o seu pior inimigo. E isso não é exagero, é verídico, mas uma grande injustiça. 

O filme é baseado em eventos reais da vida do megalomaníaco Howard Hughes (DiCaprio), um homem cuja trajetória se confunde com os avanços da aviação e do cinema. Na década de 1920, depois de herdar uma verdadeira fortuna, o jovem passa a investir na sétima arte e filma um épico de realismo impressionante, porém, muito perfeccionista, ele decide regravar tudo quando o som chega ao cinema e jamais aceitava trabalhar quando um detalhe mínimo lhe escapava, o que irritava muitos seus companheiros de trás das câmeras. Ele também gastou boa parte de seu dinheiro investindo no que havia de mais moderno para melhorar o campo da aviação, algo que sem dúvida refletiu positivamente no futuro da área. Rico, bonito e atraindo a atenção da imprensa por onde passava, obviamente Hughes vivia cercado por belas mulheres, entre elas as estrelas de cinema Katharine Hepburn (Cate Blanchett, perfeita e vencedora do Oscar de coadjuvante pelo papel) e Ava Gardner (Kate Beckinsale, um pouco insossa). Outros artistas foram selecionados para participações especiais interpretando pessoas reais que fizeram parte da vida do excêntrico milionário, como o ator Errol Flynn (Jude Law), o jornalista Roland Sweet (Willem Dafoe), a atriz Jean Harlow (Gwen Stefani), seu contador Noah Dietrich (John C. Reilly) e seu desafetos, como o empreendedor Juan Trippe (Alec Baldwin) e o senador Ralph Owen Brewster (Alan Alda).

Em meio a tantas estrelas, quem se destaca durante todo o filme é DiCaprio, que até então apresentava sua melhor atuação e sua terceira parceria com Scorsese. Até a metade do longa, diga-se de passagem, muito interessante, o ator encanta o público com uma interpretação vigorosa e em certos momentos até engraçada devido ao jeito exagerado do personagem gastar seu dinheiro. Seu brilho só diminui um pouco com a entrada de Cate como uma das maiores atrizes do cinema, mas eles formam uma boa dupla em cena. A segunda parte é dedicada ao período de decadência do milionário que acaba sofrendo para enfrentar situações corriqueiras e simples, o popular transtorno obsessivo compulsivo, até chegar a insanidade. Exigido praticamente da primeira até a última cena, o eterno galã de Titanic realmente consegue nos fazer esquecer suas imagens e fofocas em tablóides e enxergar um grande ator em cena. Tanto empenho ele próprio se cobra a cada novo trabalho e aqui ainda precisava fazer o longa render elogios, afinal ele mesmo correu atrás para realizar essa cinebiografia. O homenageado já teve sua vida roteirizada em uma ou outra produção antiga, mas nunca como em O Aviador, projeto que passou pelas mãos de vários diretores que por motivos diversos declinaram o convite para dirigir uma superprodução. Sorte de Scorsese que conseguiu mais um belo filme para seu currículo.
Mas se as atuações são dignas, a história interessante, a parte técnica impecável e a direção é de um homem que dificilmente decepciona, por que este trabalho tem desafetos inflamados e outros defensores que tecem elogios aos montes? A resposta pode estar no roteiro. Os problemas começam ao enfocar a vida de uma pessoa desconhecida por muitos. Pelo menos no Brasil, só mesmo os aficionados por cinema ou aviação já tinham ouvido falar em Hughes antes do filme. Condensar uma vida em um longa-metragem também não é uma tarefa fácil. Mesmo contando com praticamente três horas de duração, parece que alguns fatos da vida do biografado são passados de forma muito rasteira o que ocasiona uma ausência de clímax. No conjunto, é difícil se lembrar de uma cena-chave para a obra. Seria alguma sequência de sua juventude em meio a um mundo glamoroso? Seus passeios por hangares sujos, provando que dentro da carapaça de um ricaço existia uma pessoa simplória? O acidente em que se envolveu? Seus ataques de loucura que o proíbem de tocar em uma maçaneta da porta de um banheiro público ou que o obrigam a evasar a própria urina? Ou ainda os momentos finais em que é levado a julgamento acusado de roubar milhões do governo para investir em seus sonhos? Talvez nenhum deles.

De qualquer forma, O Aviador é um belíssimo filme que entretém o espectador praticamente do início ao fim, isso se não fosse o fato da conclusão realmente decepcionar e não fazer jus ao restante da obra. Fora isso, a história realmente tem pontos interessantes e curiosos, interpretações vigorosas e um visual arrebatador, contando com uma bela reconstituição de época e fotografia e iluminação perfeitas que retratam de forma ensolarada a primeira parte do roteiro e abrem espaço para cores mais escuras para retratar o declínio do sonhador Hughes, um homem que escreveu seu nome na história com suas invenções em busca de seus objetivos e perfeições e que Scorsese e DiCaprio trataram de apresentar ao mundo em grande estilo. O Oscar agraciou a obra com cinco troféus, mas, estranhamente, não o de Melhor Filme, embora fosse apontado como o favorito. Aproveite o domingo e o tempo livre para curtir esta produção com a vantagem de poder pausar o DVD quando quiser descansar um pouco. Será que a falta do intervalo nas salas de cinema foi o motivo de tanta gente sair falando cobras e lagartos?

Um comentário:

Equipe Cinema Detalhado disse...

Léo Merecia o Oscar por este filme! Incrível sua atuação!

Estamos seguindo!!!

Abs!

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