
O enredo fala da relação entre Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), duas mulheres que dividem não só a cama, mas também os problemas familiares. Casadas há muitos anos, elas não abriram mão do desejo da maternidade e cada uma delas teve um filho por inseminação artificial. Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson) cresceram em uma família moderna, mas nunca demonstraram preconceito ou estranharam a situação. Tudo ia muito bem, até que os irmãos se unem para tentar encontrar o pai biológico e conseguem a papelada do laboratório onde foram feitos. Lá eles conseguem o contato de Paul (Mark Ruffalo) e marcam um encontro com ele. O início da relação entre os três é tímido, mas logo se identificam e criam laços de amizade, o que não deixa de soar estranhamente, porém, os jovens tem consciência que o pai não tem culpa, pois foram as mães que omitiram a gravidez do rapaz, procedimento totalmente aceito no caso, mas que certamente deve ser estudado antes da decisão de ter um bebê. Qualquer um tem direito a conhecer suas origens e talvez esse pequeno detalhe passou batido pelo casal lésbico.
Quando as mães descobrem que os filhos se encontraram com o pai as coisas complicam. Nic fica enciumada com a aproximação e exige falar com o sujeito antes de um próximo encontro dos adolescentes com ele. Assim Paul é convidado para um almoço em família, no qual se mostra muito simpático com Jules, esta que retribui da mesma forma, deixando sua companheira atenta. O rapaz fecha um acordo com Jules, que é paisagista, para que ela trabalhe para ele na reforma de seu jardim. Porém, o dia a dia juntos acaba favorecendo o contato e eles extrapolam as barreiras profissionais e passam a se relacionar sexualmente. Na medida em que o pai começa a fazer parte da vida de todos, inclusive demonstrando que os filhos tem dúvidas e problemas que não são percebidos ou tratados com seriedade pelas mães, um novo e inesperado capítulo se inicia para esta família pouco convencional e o amor das duas mulheres é colocado em xeque.
As protagonistas deste filmes estão em perfeita sintonia e parecem muito a vontade como o casal homoafetivo. Aliás, Julianne, que injustamente ficou fora das indicações ao Oscar, parece ter uma tendência a aceitar papéis nos quais precisa se envolver e até beijar outra mulher, como se pode conferir em As Horas e em O preço da Traição, mas precisa tomar cuidado para não ficar estereotipada. Falando nisso, a história ganha pontos por não mostrar as lésbicas de modo masculinizado, pelo contrário, elas são femininas, guardadas as devidas proporções na análise de uma e de outra, ao mesmo tempo em que podem fazer o papel do homem da relação bem sutilmente. Nic parece comandar a casa como um chefe de família, mas o ciúme que sente da companheira é uma característica da mulher. Já Jules quando está com Paul mostra-se extremamente bela e sedutora, mas, por trair a parceira, faz as vezes do macho que pula a cerca. Vale destacar que os adolescentes estão muito bem também retratando, mesmo que superficialmente, os dilemas pelos quais os jovens passam e registrar o crescimento de Ruffalo como ator. Aqui ele sobe mais um degrau em sua carreira com um papel grande e longe de ser o mocinho dos sonhos, papel que ele já fazia de olhos fechados de tanta experiência acumulada. Longe de ser o vilão da trama, até porque aqui ele é inexistente e enxergamos seres humanos comuns que poderiam ser nossos vizinhos ou parentes, o ator literalmente desestrutura os alicerces deste clã aparentemente perfeito.
O roteiro é um pequeno show a parte. Eficiente e correto, ele começa apontando uma linha narrativa caricatural pendendo para o humor, mas quando o triângulo amoroso é instaurado, as coisas mudam de figura e a cineasta mostra o quanto sua trama pode ser complexa e precisa ser discutida. Se manter um casamento tradicional já é difícil, uma união homossexual é ainda mais, até porque existe a tendência em acreditar que essas pessoas tem um apetite sexual intenso e trocam de parceiros como se trocassem de roupa. Aqui a traição ocorre não por devassidão, mas por uma dúvida tardia de uma personagem em relação a sua sexualidade. Sem apelar para cenas constrangedoras, exceto algumas rápidas sequencias veladas de nudez ou carícias que não machucam ninguém, Minhas Mães e Meu Pai é um filme honesto e delicado que expõe temas relevantes na sociedade moderna sem chocar, apenas com o intuito de ajudar a promover a discussão. Apesar da trama se fechar em um núcleo familiar que parece viver isolado ou simplesmente bem aceito, é preciso lembrar que cada vez mais as tais famílias modernas estão surgindo, legais ou ilegais, e precisam ser respeitadas. Vale a dica para se divertir e refletir, basta assistir sem pré-julgamentos.
Um comentário:
Gostei muito do filme. Belo roteiro com boas atuações.
Postar um comentário