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segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - MINHAS MÃES E MEU PAI

Para iniciar esta primeira semana de férias, para quem estudou e passou de ano direto, a dica é assistir a uma agradável mistura de comédia e drama que conquistou a crítica e provoca boas risadas e até emociona, apesar do tema não agradar a todo mundo. Minhas Mães e Meu Pai (2010) foi um dos títulos mais comentados da temporada de prêmios deste ano. Divertido, inteligente, com um toque de sensualidade em algumas partes e ainda nos fazendo refletir sobre a importância da família, por mais diferente que ela seja. Este trabalho da diretora Lisa Cholodenko ganhou projeção quando foi vencedor do Globo de Ouro, premiação que separa em algumas categorias os filmes de comédia dos de drama. Como humor no cinema geralmente é sinônimo de filmes pastelões, encontrar uma obra do tipo com um bom roteiro e que trata de um tema delicado com muita sutileza é uma raridade e quando surge é laureado. Assim, quando recebeu quatro indicações ao Oscar, a obra gerou muita expectativa, mas realmente é até fraquinho para estar na lista dos cinco ou dez melhores títulos do ano passado, mas é inegável a coragem da cineasta em levar aos cinemas uma história sobre lésbicas tentando levar uma vida comum, como um casal hétero e ainda mais com dois filhos adolescentes a tira-colo. Assistindo sem pensar em prêmios, o longa pode ser visto sob outro prisma e revelar seu valor.

O enredo fala da relação entre Nic (Annette Bening) e Jules (Julianne Moore), duas mulheres que dividem não só a cama, mas também os problemas familiares. Casadas há muitos anos, elas não abriram mão do desejo da maternidade e cada uma delas teve um filho por inseminação artificial. Joni (Mia Wasikowska) e Laser (Josh Hutcherson) cresceram em uma família moderna, mas nunca demonstraram preconceito ou estranharam a situação. Tudo ia muito bem, até que os irmãos se unem para tentar encontrar o pai biológico e conseguem a papelada do laboratório onde foram feitos. Lá eles conseguem o contato de Paul (Mark Ruffalo) e marcam um encontro com ele. O início da relação entre os três é tímido, mas logo se identificam e criam laços de amizade, o que não deixa de soar estranhamente, porém, os jovens tem consciência que o pai não tem culpa, pois foram as mães que omitiram a gravidez do rapaz, procedimento totalmente aceito no caso, mas que certamente deve ser estudado antes da decisão de ter um bebê. Qualquer um tem direito a conhecer suas origens e talvez esse pequeno detalhe passou batido pelo casal lésbico.


Quando as mães descobrem que os filhos se encontraram com o pai as coisas complicam. Nic fica enciumada com a aproximação e exige falar com o sujeito antes de um próximo encontro dos adolescentes com ele. Assim Paul é convidado para um almoço em família, no qual se mostra muito simpático com Jules, esta que retribui da mesma forma, deixando sua companheira atenta. O rapaz fecha um acordo com Jules, que é paisagista, para que ela trabalhe para ele na reforma de seu jardim. Porém, o dia a dia juntos acaba favorecendo o contato e eles extrapolam as barreiras profissionais e passam a se relacionar sexualmente. Na medida em que o pai começa a fazer parte da vida de todos, inclusive demonstrando que os filhos tem dúvidas e problemas que não são percebidos ou tratados com seriedade pelas mães, um novo e inesperado capítulo se inicia para esta família pouco convencional e o amor das duas mulheres é colocado em xeque.

As protagonistas deste filmes estão em perfeita sintonia e  parecem muito a vontade como o casal homoafetivo. Aliás, Julianne, que injustamente ficou fora das indicações ao Oscar, parece ter uma tendência a aceitar papéis nos quais precisa se envolver e até beijar outra mulher, como se pode conferir em As Horas e em O preço da Traição, mas precisa tomar cuidado para não ficar estereotipada. Falando nisso, a história ganha pontos por não mostrar as lésbicas de modo masculinizado, pelo contrário, elas são femininas, guardadas as devidas proporções na análise de uma e de outra, ao mesmo tempo em que podem fazer o papel do homem da relação bem sutilmente. Nic parece comandar a casa como um chefe de família, mas o ciúme que sente da companheira é uma característica da mulher. Já Jules quando está com Paul mostra-se extremamente bela e sedutora, mas, por trair a parceira, faz as vezes do macho que pula a cerca. Vale destacar que os adolescentes estão muito bem também retratando, mesmo que superficialmente, os dilemas pelos quais os jovens passam e registrar o crescimento de Ruffalo como ator. Aqui ele sobe mais um degrau em sua carreira com um papel grande e longe de ser o mocinho dos sonhos, papel que ele já fazia de olhos fechados de tanta experiência acumulada. Longe de ser o vilão da trama, até porque aqui ele é inexistente e enxergamos seres humanos comuns que poderiam ser nossos vizinhos ou parentes, o ator literalmente desestrutura os alicerces deste clã aparentemente perfeito.


O roteiro é um pequeno show a parte. Eficiente e correto, ele começa apontando uma linha narrativa caricatural pendendo para o humor, mas quando o triângulo amoroso é instaurado, as coisas mudam de figura e a cineasta mostra o quanto sua trama pode ser complexa e precisa ser discutida. Se manter um casamento tradicional já é difícil, uma união homossexual é ainda mais, até porque existe a tendência em acreditar que essas pessoas tem um apetite sexual intenso e trocam de parceiros como se trocassem de roupa. Aqui a traição ocorre não por devassidão, mas por uma dúvida tardia de uma personagem em relação a sua sexualidade. Sem apelar para cenas constrangedoras, exceto algumas rápidas sequencias veladas de nudez ou carícias que não machucam ninguém, Minhas Mães e Meu Pai é um filme honesto e delicado que expõe temas relevantes na sociedade moderna sem chocar, apenas com o intuito de ajudar a promover a discussão. Apesar da trama se fechar em um núcleo familiar que parece viver isolado ou simplesmente bem aceito, é preciso lembrar que cada vez mais as tais famílias modernas estão surgindo, legais ou ilegais, e precisam ser respeitadas. Vale a dica para se divertir e refletir, basta assistir sem pré-julgamentos.

Um comentário:

renatocinema disse...

Gostei muito do filme. Belo roteiro com boas atuações.

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