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quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - A FANTÁSTICA FÁBRICA DE CHOCOLATE

Um mundo a parte muito colorido, onde há muita diversão, novidades a cada canto que se olhe e o melhor é que praticamente tudo é comestível e bem docinho. Para completar, o anfitrião é uma figura excêntrica que usa roupas extravagantes e parece não querer crescer. Se fosse algumas décadas atrás essa descrição caberia perfeitamente para a propaganda de um programa da Xuxa. Também não estamos falando do mundo encantado em que o clássico personagem Peter Pan vive. Esse é o cenário com o qual o ator Gene Wilder conquistou milhões de crianças no mundo todo na década de 1970 sob a batuta de Mel Stuart. A idéia ganhou cores mais fortes e chamativas, além de efeitos especiais e uma trama com mais elementos pelas mãos do diretor Tim Burton comandando novamente Johnny Depp, o seu ator predileto. A refilmagem de A Fantástica Fábrica de Chocolate (2005), baseado no livro homônimo do britânico Road Dahl, é uma deliciosa aventura com boas doses de humor que uniu mais uma vez dois dos maiores nomes do cinema, aliás, a produção é a cara deles. Curiosamente, mesmo com uma legião de fãs do original e muitos outros fanáticos pelos trabalhos do cineasta e do protagonista, a readaptação de um clássico para a era moderna não agradou completamente.


A história nos apresenta à Willy Wonka (Depp), o estranho dono de uma fábrica de doces que há anos decidiu se esconder do mundo devido a problemas de seu passado, mas, principalmente, porque percebeu que suas receitas secretas e mágicas estavam sendo roubadas e produzidas por outros. De repente, de uma hora para a outra, ele decide realizar um concurso para levar cinco crianças com um acompanhante cada para conhecer o interior de seu mundo doce e de sonhos. No fundo ele quer encontrar alguém que mereça ser o herdeiro do império que construiu, já que ele não tem filhos ou parentes próximos. Dessa forma, começa uma corrida contra o tempo em todos os cantos do mundo para encontrar o bilhete dourado nas embalagens de chocolate da companhia Wonka, o passaporte para uma incrível experiência. Por ser um filme destinado ao público infantil, é óbvio que existem lições de moral e elas são passadas através do elenco infantil, cada um representando um estereótipo. Augustus (Philip Wiegratz) é gorducho, comilão e superprotegido pela mãe; Violet (Annasophia Robb) é exatamente uma cópia da mãe, prepotente e sempre querendo sair vencedora de tudo em que se mete; Veruca (Julia Winter) sempre teve tudo que quis graças a uma família rica, mas isso a transformou em uma menina arrogante; Mike (Jordan Fry) é acostumado a passar quase o dia todo na frente da televisão jogando videogame e tentando superar seus próprios recordes no jogo, o que explica seu comportamento agressivo e por vezes desligado; e, finalmente, Charlie (Freedie Highmore) é o garoto de bom coração, humilde e que sabe respeitar e ajudar o próximo. Em um time selecionado a dedo, é óbvio quem irá ser o escolhido pelo confeiteiro para dar continuidade o seu trabalho.

Ser previsível é praticamente a palavra-chave para uma produção infantil. Não se pode exigir demais de um roteiro do tipo para não comprometer o entendimento e a diversão dos pequenos, mas Burton tem o dom de transformar algo que podia ser uma bobagem em alguma coisa grandiosa e que atende perfeitamente ao público de diversas faixas etárias. Só mesmo sendo um crítico muito do cricri para detonar a obra, apesar de certos pontos serem exagerados. O problema maior talvez fique por conta dos funcionários da fábrica, os Umpas-Lumpas (todos interpretados pelo pequeno ator Deep Roy). A explicação de como Wonka os encontrou é um tanto caricata e as músicas que eles cantam ao longo da trama para pontuar os acontecimentos com as crianças são bem editadas, coreografadas e inspiradas em músicas famosas, mas as letras devem aborrecer aos adultos. Apesar disso eles são engraçadinhos e agrada muita gente. Outros apontam o uso excessivo de efeitos especiais um equívoco, pois quebram o aspecto artesanal do visual, mas nada que incomode muito até porque o cineasta prefere tudo o mais realista possível, como em um sequência em que cerca de quarenta esquilos atazanam uma das crianças. Qualquer um iria preferir recorrer a tecnologia para reproduzir várias vezes as imagens dos bichinhos e encher o cenário, mas estamos falando do trabalho de um adepto assumido do estilo bizarro que preferiu lidar com dezenas de esquilos de verdade.
Evitando comparações com a primeira versão, esta reinvenção por parte de Burton de um dos maiores clássicos das sessões da tarde de todos os tempos funciona muito bem do início ao fim e tem em cada fotograma a marca do cineasta. Após os créditos iniciais que retratam o funcionamento de uma fábrica de doces de modo bem modernizado ao som de uma canção um tanto sombria, somos apresentados a família que reside em um casebre escuro e bem acabadinho. Lá vive a família de Charlie de modo paupérrimo já que a única renda deles era a do pai do garoto (Noah Taylor), que foi substituído no emprego por uma máquina (olha a introdução moderninha fazendo sentido e provando que o diretor não dá ponto sem nó). Durante cerce de meia hora somos apresentados rapidamente a rotina deste clã e conhecemos as demais crianças felizardas, que só por suas apresentações já fisgamos o que há de crítico em cada um dos perfis. Tem gente procura pêlo em ovo e diz que falta aprofundamento psicológico e emocional aos personagens, mas o que há é o suficiente para a compreensão da gurizada, lembrando que este é o público-alvo. O restante do filme é dedicado a dar boas lições a cada um que conseguiu o bilhete dourado, mas não merece o grande prêmio da excursão. Tudo é bem esquematizado, todos os atores mirins têm chances de mostrar seu talento (e como eles tem!) e o espectador viaja por um mundo maravilhoso que inclui um rio de chocolate, chicletes com sabor de comida, funcionários especialistas quando o assunto é quebrar nozes manualmente e até um elevador de vidro que anda para os lados. Porém, é óbvio que o elemento que mais chama a atenção é Depp com seu divertido e sarcástico Willy Wonka. Acostumado a atuar sob maquiagens e figurinos pesados, aqui o ator mais uma vez veste a fantasia literalmente e constrói um tipo com diversas nuances, desde o patético até o amedrontador, e que consegue só com o olhar transmitir toda a tristeza que sente ao lembrar-se da convivência com o pai dentista (Christopher Lee) que, ironicamente, o proibia de comer doces.

Rumores dizem que o filme original não agradou em nada ao autor do livro em que a história se baseia, assim houve um pouco de dificuldades em fazer com que a viúva dele, Felicity Dahl, aprovasse ceder os direitos autorais mais uma vez, mas ela acompanhou a produção de perto e aceitou as mudanças feitas no roteiro, como alterações no perfil de Wonka para que ele tivesse uma história de vida, uma origem e motivos que o levassem a viver sozinho e a trabalhar com doces e também a inserção da sequência em que o excêntrico confeiteiro constrói um gigantesco palácio de chocolate para um nobre indiano que só queria saber de luxo e fama e não pensou que seu sonho uma hora derreteria literalmente. Enfim, o diretor mais uma vez deitou e rolou em uma obra em que ele conseguiu fantasiar e se divertir a vontade aliando inocência, sonhos, críticas, pesadelos e tudo o mais que ele sempre faz questão de trabalhar em suas obras, tanto no texto quanto no visual. Seu estilo está impresso em cada detalhe dos cenários e figurinos que misturam as citações do escritor Dahl com o estilo Burton de ser. A Fantástica Fábrica de Chocolates emociona e diverte tanto quanto sua versão original e tem fôlego para encantar as próximas gerações. Para aqueles que até hoje cultuam o Wonka de bom coração do simpático Wilder de décadas atrás e ainda não se arriscaram a ver a versão Depp dele, não perca mais tempo e se delicie com uma apetitosa obra que certamente você irá querer repetir nestas férias. Só uma ressalva: quem tem filhos ou costuma interagir com crianças diariamente provavelmente irá reconhecer algumas delas na tela, mas não se ofenda, é tudo uma crítica bem-humorada e um alerta a respeito da educação que não se aprende na escola e sim dentro de casa.

Um comentário:

Luís disse...

Aproveitando a sua sugestão - "evitar comparações" -, eu acredito que o filme funcione bem mesmo, havendo nele aspects muito bons, seja na fotografia excêntrica ou na atuação de um caricato estético em Johnny Depp. Gosto especialmente do humor ácido no filme, com direito inclusive a insinuações sobre canibalismo, aliás, a meu ver, na melhor cena do filme!

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