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sábado, 3 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - A ÓRFÃ

Primeiro sábado de férias e nada melhor que curtir um bom filme de terror a noite. A dica de hoje pode soar estranha quando resumida em poucas palavras. Garota órfã é adotada por um casal que já tem outros dois filhos e sua aparente doçura aos poucos abre espaço para o comportamento de uma assassina impiedosa e estrategista. Muita gente ao receber estas poucas informações sobre A Órfã (2009) deve ter torcido o nariz e desprezado o filme, seja por achar um enredo que beira o ridículo ou por ser contra a participação de crianças em produções que podem causar danos psicológicos a elas. Bem, realmente este segundo motivo é relevante e esvazia a primeira alternativa. O longa contém cenas fortes de violência, mutilação, incesto e tortura psicológica, algo que deve deixar de cabelos em pés quem defenda a moral, os bons costumes e a preservação da família. É difícil não imaginar como reagiu a mente dos atores mirins e quais os motivos que convenceram seus pais a permitirem suas participações em algo tão pesado. Não que essa fosse a primeira que a vez que menores de idade atuam em fitas assustadoras, mas aqui eles não estão presentes simplesmente para gritarem ou fazerem caras de sustos de algo que supostamente estão vendo ou que foi filmada a parte sem a presença deles, pelo contrário, eles participam ativamente das sequências fortes e a tal garota má em certo momento até se insinua para o pai adotivo.


Mesmo com a questão criança versus violência chamando a atenção, é inegável que este filme é surpreendente. O que poderia ser um roteiro absurdo e beirando o trash, foi tão bem desenvolvido que transformou esta obra de terror em uma das mais bem sucedidas, em termos de boca a boca, dos últimos anos. O diretor Jaume Collet-Serra é mais um que emigrou da Espanha para os EUA para trabalhar nos gêneros suspense e terror e após estrear com o pé direito com A Casa de Cera conseguiu manter o nível de tensão em alta em sua segunda empreitada. Ela já mostrou que é bom de criar atmosferas interessantes e arrepiantes, mas aqui ele recorre a clássica paisagem fria e triste do inverno rigoroso, com direito a muita neve. Se no clima o cineasta não surpreende, na condução da trama ele prende a atenção do espectador com situações bem amarradas, diálogos afiados e venenosos e com um ritmo que alterna muito bem sequências ágeis com outras mais lentas. Se em seu trabalho anterior ele focava a narrativa em cima de um grupo de jovens, aqui ele transfere as atenções para uma família que consegue cativar o espectador rapidamente, principalmente pela atuação forte de Vera Farmiga, a matriarca do clã.


A história gira em torno do casal Kate (Vera Farmiga) e John Coleman (Peter Sarsgaard) que está arrasado devido a um aborto. Apesar de já terem dois filhos, Daniel (Jimmy Bennett) e a surda e muda Maxime (Aryana Engineer), eles decidem adotar mais uma criança. Durante uma visita a um orfanato, os dois se encantam pela pequena Esther (Isabelle Fuhrman), de nove anos, e optam rapidamente por sua adoção. Ou talvez a garota os tenha escolhido. Ela inicialmente parecia uma criança que qualquer pai gostaria de ter, muito obediente e educada. O que eles não sabiam é que estranhos acontecimentos fazem parte do histórico da menina que passa a se tornar, dia após dia, mais misteriosa. Intrigada, Kate desconfia que Esther não é quem aparenta ser e o relacionamento entre as duas começa a estremecer. Ela fica mais atenta a cada passo da garota, mas devido ao seu passado com problemas de alcoolismo ela tem dificuldades de provar sua teoria de que a menina não é tão inocente quanto parece, o que gera vários conflitos em família. As coisas pioram quando a garotinha deixa claro que quer ver a mãe fora de seu caminho e passa a manipular a irmã mais nova e jogar os pais contra o irmão.
 
Collet-Serra acerta em cheio ao optar pelo desenvolvimento das relações entre os membros da família Coleman antes de começar a trilhar os caminhos do suspense propriamente dito. A primeira meia hora é dedicada a explorar os conflitos existentes nesse núcleo e mesmo sem se aprofundar nos assuntos consegue fisgar a atenção do espectador que a partir de então irá sentir mais profundamente os efeitos que a mudança de comportamento radical de Esther irá provocar. Aliás, a pequena atriz Isabelle Furhman é o grande destaque da produção. Muito versátil, ela convence fácil qualquer um quando está na fase boazinha da personagem e convence ainda mais mostrando seu lado perverso, chegando ao ápice nos minutos em que estreita sua relação com o pai adotivo, momento em que surge a grande revelação da história que infelizmente culmina em um final que não faz jus as demais duas horas do filme. Não que a produção seja livre de clichês até o fim, mas a conclusão poderia ter sido mais bem trabalhada, mas do jeito que está não compromete o resultado e não chega a ser frustrante.


Dizer que este trabalho de Collet-Serra é a mais nova obra-prima do suspense é um pouco demais, mas é inegável que a produção se destaca em meio a tantas outras que são lançadas reciclando velhas fórmulas. O argumento é um tanto interessante e dificilmente o espectador vai querer desgrudar os olhos do filme. A cada nova cena dá mais vontade de saber até onde vai aquela relação doentia da garota com a família. Como tudo na vida e no cinema, este trabalho não agrada a todo mundo. Como já dito, há quem o condene por expor menores de idade em situações impróprias, mas também há aqueles mais exaltados que apontam a obra como uma propaganda contra a adoção (a intenção não era mesmo fazer uma campanha, mas também passa longe de ser uma ofensa a iniciativa) e os críticos cuja maioria diz que o filme quase chegou lá em seus objetivos, mas não assumem que devem ter ficado com os olhos grudados acompanhando a macabra trama. A Órfã é sim um dos melhores títulos do gênero, disfarça seus tão comentados clichês muito bem com um excelente roteiro e uma atmosfera amedrontadora e é louvável que consiga prender a atenção mesmo com sua longa duração. Guardada as devidas proporções, nem parece que foi feito em Hollywood. Vale muito a pena.

Um comentário:

renatocinema disse...

Gostei do filme.

Achei bem feito, cativante e atraente.

Não chega a ser espetacular. Mas, um bom suspense

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