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terça-feira, 13 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - DIREITO DE AMAR

Nesta terça-feira a dica é mais uma vez conferir o talentoso ator Colin Firth em cena. Um ano antes de conquistar diversos prêmios com O Discurso do Rei, ele já havia chegado bem perto de diversos troféus pelo seu papel de professor homossexual que sofre com a perda do companheiro em Direito de Amar (2009). Esse é o primeiro trabalho atrás das câmeras do estilista Tom Ford, uma estréia sem inovações e com alguns pequenos tropeços no ritmo, mas muito competente. Intimista e difícil devido ao tema, tudo aqui é tratado com um sentimentalismo ímpar explicitado logo no início nos pensamentos proferidos pelo protagonista. Baseado no livro semi-autobiográfico do escritor Christopher Isherwood, a obra tem uma narrativa arrastada na qual a fotografia esplêndida tem grande importância, além de contar com uma trilha sonora escolhida a dedo.

O filme conta a história de George Falconer (Colin Firth), um professor universitário que tem um relacionamento estável com outro homem há muitos anos. Sua vida desmorona quando seu companheiro Jim (Matthew Goode) morre em um acidente. Ele tenta manter as aparências, mas sempre que está sozinho suas lembranças o atormentam e os pensamento suicidas vem a tona. Porém, coragem para se matar lhe falta e ele tenta vive em constante estado depressivo. Enquanto planeja seu suicídio, ele passa por diversas situações e sente as mais diferentes sensações ao recordar seu passado, pensar no presente e vislumbrar seu futuro, incluindo a alternativa de que esse tempo ele não viverá. Suas reflexões o levam a reencontrar uma antiga amiga, Charley (Julianne Moore), com quem se relacionou antigamente e a única pessoa capaz de lhe trazer alguns momentos de felicidade. Na história há também um aluno que chama a atenção de George. Ele é Kenny (Nicholas Hoult), que de tão insistente que é acaba conseguindo levar o professor a cometer alguns atos insanos para uma pessoa tão séria e respeitada. Eles acabam tendo um contato maior do que deviam, mas nem isso foi capaz de mostrar a George que a morte não é a saída para seus problemas.


O ator Colin Firth dá um show de interpretação. Vencedor do prêmio de Melhor ator no Festival de Veneza e no Bafta, ele tem no seu currículo dezenas de dramas e comédias românticas, mas vem surpreendendo nos últimos anos com projetos cada vez mais audaciosos e que lhe exigem muito mais preparo e concentração, aqui inclusive ele está bem diferente fisicamente, bem envelhecido. Deve ser muito difícil fazer transparecer toda a emoção do personagem em cenas sem fala alguma, apenas usando as expressões faciais e corporais num silêncio contemplativo. Julianne Moore também está maravilhosa como a grande amiga do professor. É interessante como ela consegue pegar um papel pequeno e simplesmente transformá-lo em algo grandioso. Em um filme melancólico como, a presença de uma mulher consegue trazer alguma cor e alegria com uma naturalidade incrível. Em comum, os dois personagens estão à beira de uma crise de nervos, mas ao mesmo tempo, em estado de espírito os dois estão em campos opostos. Tão importantes quanto os atores, a parte técnica aqui também exerce função de extrema grandeza. Para ajudar a contar uma história que fala basicamente sobre conflitos de sentimentos e é quase um monólogo sobre o que pensa e observa o protagonista, houve um apuro maior para que a estética ajudasse a criar um clima melancólico. Para tanto, foram usados filtros especiais nas câmeras para criar uma estética visual diferenciada. Em alguns momentos é possível se sentir o calor de uma ensolarada cena ao ar livre e logo em seguida sentir a gélida atmosfera do quarto escuro do professor. É como uma metáfora sobre a vida externa e a morte interna que o cerca. A trilha sonora constante ajuda a reforçar o sentimento de cada fotograma.

Se no quesito visual o filme é um deslumbre, no quesito roteiro o longa causa discórdia. Quem leu a obra original diz que Ford tirou o foco da narração do campo psicológico para se fixar no sentimentalismo, assim caiu na armadilha de carregar o longa com flashbacks. Porém, o promissor cineasta não tinha realmente a intenção em se arriscar e acabou trabalhando esse clichê em diversos momentos, algo que só deve incomodar aos mais críticos. Outro ponto a favor deste trabalho é que ele não faz uma campanha a favor do relacionamento homossexual. Filmes que deixam mais explícita essa temática têm sido recorrentes nos últimos anos e é louvável ver que o assunto está sendo tratado de forma respeitosa. Aqui é discutido e valorizado o amor em todas as suas formas e situações. Tudo é tão sutil e delicado que em certos momentos é até possível esquecer que está em cena um homem lamentando a falta de seu companheiro. Interessante que esta obra tem um intenso clima sensual sem apresentar uma única cena constrangedora de sexo. Fora uma ou outra cena em que há nudez mostrada ainda de forma velada, nenhuma sequência pode ser considerada de apelo erótico.


Todos os fatos apresentados aqui se passam no início da década de 60, quando as questões sobre preconceito eram ainda mais fortes. Imagine o quanto um homem sofria para esconder sua verdadeira orientação sexual. Um sacrifício tremendo e uma pressão moralista muito pesada, ainda mais para uma pessoa já baqueada por um triste acontecimento. Apesar de o roteiro ser bem feitinho, ele ainda deixa um pouco a desejar, mas ainda é difícil identificar exatamente o quê. No final, para os mais sentimentais, ainda fica o desejo de ver algo mais em cena. Talvez os poucos momentos de prazer que George tem devessem ter sido mostrados com maior intensidade para provar que a ele e aos espectadores, que a essa altura já estão impregnados pelo clima depressivo, que a vida vale a pena. De qualquer forma, Direito de Amar é tocante, profundo e reflexivo, um trabalho digno de elogios. Só uma ressalva: o título nacional combinaria melhor com algum romance rasgado. "A Single Man", traduzido como "Um Homem Só", cairia muito bem e expressaria de forma mais eficiente o conteúdo. Coisas do Brasil...

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