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sábado, 24 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - O EXPRESSO POLAR

Como se costuma dizer nas propagandas da televisão, hoje vai ter a noite mais mágica do ano. Para praticamente todos no mundo inteiro realmente a noite de hoje é muito aguardada e carrega um clima único de alegria, fraternidade e lúdico. Para as crianças, o entusiasmo é ainda maior. De madrugada, Papai Noel vai passar na casa de cada uma delas e deixar um belo presente embaixo da árvore enfeitada. Bem, essa historinha hoje já não cola mais, apenas os bem pequeninhos ainda caem nessa, mas o que seria do Natal se o que há de mais tradicional na data não fosse passado adiante as novas gerações? Até para os adultos a festa não teria o mesmo sentido se não fosse essa volta as memórias de infância e resgate de tradições. Pensando em agradar a estes dois públicos e exaltar o espírito natalino e a figura do bom velhinho, o diretor Robert Zemeckis teve a grande idéia de realizar O Expresso Polar (2004), uma bela fábula em animação especial.


Baseado no livro ilustrado infantil homônimo de Chris Van Allsburg lançado em 1985, a história é tão singela e agradável quanto ganhar uma lembrancinha de alguém muito querido. Na véspera de Natal, um garoto está acordado e ansioso. Ele não acredita que Papai Noel existe e nesta madrugada quer ter algum sinal que o faça voltar a crer neste símbolo natalino. No meio da noite ele ouve um barulho muito forte próximo a sua casa e quando vai ver o que é tem uma enorme surpresa. Simplesmente um gigantesco trem parou bem ali na sua porta e o condutor o convidou para seguir viagem com ele até o Pólo Norte. Após relutar um pouco, o menino decide embarcar, pois essa era a chance que ele precisava para voltar a acreditar no Natal. No vagão, ele encontra várias crianças de várias etnias e com características distintas, como o garoto solitário ou o metido a sabichão, mas todos com a mesma vontade de comprovar que a magia da tradicional festa existe de verdade. O convite para embarcar neste encantador passeio é um bilhete dourado, uma referência clara ao clássico infantil A Fantástica Fábrica de Chocolates que também inspirou alguns outros momentos da produção.


Tentando recriar a realidade em desenho animado, o projeto era de alto risco, mas necessário para transmitir a magia do livro. Para tanto, foi usada a técnica motion-capture, recurso que captura as imagens e os movimentos dos atores com roupas especiais para depois colocá-los em cenários reais ou também computadorizados. Para finalizar, as imagens dos artistas ganham cores fortes e contornos diferenciados, o que justifica a sensação de calor humano dos personagens. O grande chamariz disso tudo é a possibilidade de um adulto viver um personagem novinho e vice-versa, da mesma forma que um gordinho pode ser um magrinho e uma mulher se transformar em um homem. Um ator tem inúmeras possibilidades. O ponto negativo é que em algumas sequências as expressões faciais e o movimento dos olhos denunciam as falhas que a técnica possui, mas nada que quebre todo o encanto. Zemeckis se uniu a Tom Hanks novamente para este projeto. Eles já trabalharam juntos em Forrest Gump e Náufrago e aqui repetem a química de sucesso, mas de uma forma diferente. O ator aqui interpreta, entre aspas, diversos personagens em animação ou como uma pintura em movimento como o diretor gosta de dizer e com razão. O astro vencedor de dois Oscars interpreta um menino que não acredita mais no espírito de Natal, o pai dele, o condutor da locomotiva, um andarilho e também o Papai Noel. Mais versátil que isso impossível. Só mesmo a tecnologia para transformar um adulto beirando os cinquenta anos em um garotinho. Faltou pouco para ser perfeito. Inexplicavelmente o longa ficou de fora da categoria de Melhor Animação na festa do Oscar, mas algumas canções e a excepcional parte sonora foram indicadas.

Se o visual é arrebatador, do roteiro infelizmente não se pode dizer o mesmo. A história do livro é breve e precisou ser bastante espichada, o que gera a sensação de certas sequências serem cansativas e outras que só estão lá para encher linguiça, como um musical a la broadway cujo tema principal é chocolate quente. Apesar de bem realizada e enaltecer o clima aconchegante de dentro do trem em contraste ao frio do lado de fora, é uma passagem que dá a impressão de ser uma estranha no ninho. Todavia, cada segundo no ar é tão perfeito que as imagens parecem dignas a serem transformadas em cartão de boas festas. Mas voltando a falar do enredo, ele tem certos problemas de cadência. Ora conta com o humor, ora com a melancolia e por ai vai. São muitos estilos pontuando sequências que podem passar a falsa impressão de terem sido feitas sem um roteiro definido e foram agrupadas depois. É um incômodo que não atrapalha a diversão daqueles que buscam resgatar a magia natalina, outro ponto questionável. Muitos condenam que a história no estilo ver para crer é muito batida e que o longa reforça a idéia consumista da data. Realmente, o sentido religioso da festa não é lembrado, mas também não se encaixaria neste enredo. Porém, não se pode negar que mantém o espírito de solidariedade e renovação conforme a tradição. Aliás, a meia hora final exagera no colorido e referências ao lúdico e acaba sendo chatinha. É curioso, mas justamente o ápice de tudo, reflete a fragilidade do texto em detrimento a imagens arrebatadoras. Para finalizar o sobe e desce de ritmo, a cena final é reservada a um musical claramente inspirado em Shrek.


Todo filme que aborda o Natal automaticamente já nasce com potencial para se tornar um clássico, pois é aquela opção que sempre lembraremos em assistir com a família nesta data, os pais de hoje desejarão que seus filhos também vejam e os canais de TV certamente agendarão sua reexibição todos os anos. Porém, se não fosse calcado pelo reaquecimento do clima natalino, seria uma obra facilmente esquecível. Visualmente é lindo, mas o mesmo esmero não se percebe no roteiro. Um filme não sobrevive a ação do tempo só com o apoio de tecnologia (Final Fantasy, também feito em motion-capture, que o diga). Infelizmente, nem como um sucesso de bilheteria será lembrado. Já é de se esperar que produções natalinas tenham desempenho raquítico, mas a crítica também não foi generosa. Um importante jornal americano avaliou a obra com a pior classificação possível. De qualquer forma, O Expresso Polar cumpre o que promete. Emociona, remete a infância, resgata o espírito solidário e comprova a eficiência de uma tecnologia revolucionária que anos depois foi utilizada em Os Fantasmas de Scrooge, outro tradicional conto natalino. Enfim, embriagado do clima lúdico e longe do corre-corre dos mercados e shoppings, dá realmente vontade de acreditar que Papai Noel existe e deixará nosso presente gratuitamente ao pé da nossa árvore enfeitada para recepcioná-lo. Não deixe de verificar a sua amanhã... E não deixe de conferir este título, nem que seja só para matar a curiosidade.

Um comentário:

renatocinema disse...

É um belo visual para um roteiro abaixo da expectativa.


Mas, apreciei a ousadia das imagens, do estilo de animação.

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