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quinta-feira, 29 de março de 2012

JULIETTE BINOCHE, UMA ATRIZ À FRANCESA


Algumas atrizes e atores, intencionalmente ou não, constroem suas carreiras baseados na super exposição. Quanto mais eventos para participar, novidades de trabalho ou na vida pessoal ou até mesmo escândalos melhor para se manterem em evidência. Felizmente os grandes atores sabem que esse não é o melhor caminho a seguir e preferem só aparecer na mídia quando estão com algum novo filme na praça. Esse é o caso de Juliette Binoche, uma grande intérprete que faz jus a expressão “à francesa”, que comumente é utilizada atrelada a palavra saída como forma mais refinada de denominar o ato de fugir de mansinho, sem alardes. É dessa forma que esta francesa conduz sua carreira. Geralmente causa interesse entre os adeptos do cinema alternativo quando lança um novo trabalho, mas no geral pouco se sabe sobre sua vida pessoal e ela não aparenta ser uma “arroz de festa” enlouquecida pelos flashes dos fotógrafos. 
Nascida em Paris em 09 de março de 1964, Juliette é filha do cineasta, ator e também escultor Jean-Marie Binoche e de Monique Stalens, também atriz e professora, o que explica a predileção desta mulher pelas artes, principalmente as que são feitas fora dos grandes centros de produções. Tal apreço já estava no sangue. Os seus avós maternos eram considerados intelectuais e por esse motivo passaram algum tempo na prisão em Auschwitz durante a Segunda Guerra Mundial a pedido dos nazistas. Embora tenha herdado também dos pais o apreço pela cultura, ela e sua irmã Marion não tiveram muito contato com eles que se separaram quando Juliette era muito pequena. As duas meninas acabaram sendo mandadas para um colégio interno e pouco contato tiveram com a família.
Decidida pela carreira de atriz, Juliette foi estudar em uma conceituada escola de artes dramáticas parisiense e aos 15 anos de idade passou a viver sozinha com a irmã, tendo assim que acumular responsabilidades e se virar para sobreviver. Era como um começo de uma nova vida. Seguindo os passos da mãe, ela passou a atuar no teatro colhendo elogios e eventualmente fazia alguma participação em um longa francês, tendo feito sua estréia nas telas grandes em 1982 no filme Liberty Belle, produção que narra as aventuras d eum trio de heroínas francesas fictícias. A ascensão desta atriz foi meteórica. Três anos depois, em 1985, ela já causava frisson no Festival de Cannes com dois aclamados trabalhos: vivendo uma versão modernizada de uma jovem Virgem Maria no polêmico Je Vous Salue, Marie, do cultuado cineasta Jean-Luc Godard, e em Rendez-Vous, no qual interpreta uma atriz que se sente atraída e ao mesmo tempo aterrorizada por um estranho homem.
Em 1988 a atriz extrapolou fronteiras e tornou-se conhecida mundialmente graças ao cineasta Philip Kaufman que lhe deu o papel de protagonista de A Insustentável Leveza do Ser, adaptação do romance do escritor Milan Kundera. Com um desempenho brilhante sendo um dos vértices do picante triângulo amoroso formado também por Daniel Day-Lewis e Lena Olin, Juliette colheu elogios da crítica e em festivais. Foi nessa época que ela iniciou as filmagens de Os Amantes da Ponte-Neuf, no qual vive uma artista prestes a ficar cega que se apaixona por um vagabundo.  Por problemas financeiros esta produção dirigida por Leos Carax só foi lançada em 1991. Os dois viveram um romance que durou quatro anos, até que a jovem foi recrutada pelo cineasta Louis Malle para atuar em Perdas e Danos (1992), no qual vive um amor proibido junto com Jeremy Irons, uma relação que entra em choque com os valores tradicionais de uma família burguesa.
Trilhando uma carreira repleta de trabalhos invejáveis, Juliette entrou para o time das atrizes mais respeitadas do mundo cinematográfico definitivamente ao fazer parte de um dos projetos alternativos mais bem sucedidos da história e que ficou conhecido como “Trilogia das Cores”. O cineasta polonês Krzysztof Kieslowski lançou entre 1993 e 1994 os longas A Liberdade é Azul, A Igualdade é Branca e A Fraternidade é Vermelha. A atriz foi a protagonista do primeiro, sendo premiada como Melhor Atriz no Cesar (premiação francesa) e no Festival de Veneza, e fez participações nos seguintes. No primeiro título da série, que pode ser apreciada sem seguir uma sequência específica, Juliette vive uma mulher que perde o marido e a filha em um acidente, mas reencontra forças para continuar a sua vida ao lado de um novo amor. Resumidamente, a sinopse pode parecer comum e um tanto batida, mas a forma de contá-la faz toda a diferença.

Bem-vinda ao cinemão
Apesar do prestígio e fama crescentes, Juliette não se deixou seduzir pelos convites da grande indústria cinematográfica americana, tendo recusado papéis em Jurassic Park, Missão Impossível e em mais um tanto de produções menores que precisavam de mulher que aliasse sedução e inocência para fazer papéis estereotipados como a secretária que seduz o chefe ou a advogada que se envolve com o cliente, tipos corriqueiros em produções de Hollywood. Sua explosão em solo americano e seu definitivo reconhecimento, desta vez por parte do público já que a crítica estava seduzida há tempos por seu talento, foi com o papel da enfermeira que cuida de um sobrevivente da Segunda Guerra Mundial em O Paciente Inglês (1996). Ela ganhou o Oscar de Melhor Atriz Coadjuvante e uma série de outros prêmios por esse trabalho.
O sonho de 9 entre 10 atrizes de cinema é ganhar um Oscar e ver a agenda cheia de propostas de trabalhos em seguida, mas para Juliette isso não é importante, tanto que declarou que não merecia o prêmio da Academia de Cinema e continuou optando por produções modestas, restritas ao circuito de arte e que faturaram pouco nas bilheterias, como Alice e Martin, lançado em 2000, no qual vive uma violinista que tem dificuldades para lidar com frustrações. Curiosamente, ela voltou a ficar em evidência neste mesmo ano ao cair nas graças das premiações mais uma vez por sua atuação em Chocolate, vivendo uma forasteira que muda o cotidiano de um vilarejo tradicionalista e religioso com suas delícias feitas à base de chocolate e derivados.
Depois surgiram outros filmes pequenos franceses e vez ou outra a atriz se unia a estrelas americanas para algum filme mais comercial, porém ainda privilegiando os roteiros com propostas interessantes como Em Minha Terra (2004), em que vive uma jornalista investigando casos de abusos contra os direitos humanos cometidos por causa do regime do apartheid, e Palavras de Amor (2005), no qual interpreta uma mulher que vê sua família se desconstruir devido a fixação do marido em fazer a filha ganhar concursos com seu dom para soletrar palavras.
Seus últimos projetos alternativos de relevância foram Caché (2005), no qual vive uma mulher que junto com sua família passa a ser ameaçada de forma estranha e insistente, e Cópia Fiel (2010), onde interpreta a dona de uma galeria de arte que se apaixona por um escritor que conhece por acaso, papel que lhe rendeu o prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes. A surpresa entre suas últimas escolhas fica por conta de Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada (2007), comédia romântica tipicamente americana, mas acima da média, na qual ela tem seu amor disputado por Dane Cook e Steve Carell. E é assim que Juliette Binoche conduz sua carreira. Sem preocupações com fama ou dinheiro. Ela apenas quer atuar em bons projetos, sejam eles franceses, americanos ou de qualquer parte do mundo. Já teve até diretor brasileiro de olho nela no passado, mas devido a problemas financeiros o projeto da época não pôde ser tocado adiante. Os prêmios? Bem suas indicações e troféus conquistados são apenas consequências de trabalhos bem realizados e feitos com muita paixão por uma mulher que deve se orgulhar de ser uma atriz de primeira, mas que nunca deixa ela própria aparecer mais que seus personagens. Muito sábio de sua parte.

Um comentário:

Luís disse...

Eu nem sequer conheço o trabalho mais popular dessa atriz. Conheço apenas dos títulos nos quais ela tenha atuado, que são a trilogia das cores e o filme "Chocolate", do qual eu, aliás, gosto muito. Acho-a bastante carismática e pretendo conhecer mais do seu trabalho.

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