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quarta-feira, 14 de março de 2012

ESQUECERAM DE... PLEASANTVILLE - A VIDA EM PRETO E BRANCO

O objetivo desta coluna é sempre relembrar filmes que estão indisponíveis no mercado ou que até existem, mas são raridades de achar, lembrando que o foco é destacar as produções que não estão disponíveis no formato de DVD, a forma mais comum e simples de se curtir um filminho. Hoje, porém, o filme puxado do fundo do baú não está totalmente esquecido, mas está à disposição de um nicho restrito de consumidores. Pleasantville - A Vida em Preto e Branco (1998) é um curioso título que só pelo seu apelo visual diferenciado e enredo crítico automaticamente já foi classificado por especialistas e pelo mercado como um trabalho destinado a platéias mais seletas. Nem as suas três indicações ao Oscar conseguiram ampliar seu circuito de exibição quando lançado nos cinemas. A fita VHS também não causou barulho. No formato do DVD, ao que tudo indica, a produção nunca chegou a ter um lançamento dignamente divulgado. Na televisão, bem, dificilmente alguém deve se lembrar quando o longa foi exibido pela última vez, até mesmo na TV fechada. Agora se você tem seu aparelho de Blu-ray, aí sim você pode se dar ao luxo de conferir a este trabalho injustamente esquecido pela maior parte das pessoas, até mesmo pelos mais apaixonados por cinema.

Para muitos pouco importa saber se o filme só está disponível de forma legal e original no formato Blu-ray, mas para uma quantidade muito maior de pessoas isso faz diferença sim. Pela lógica, o DVD custaria no máximo uns R$ 20,00 hoje em dia, mas no formato disponível você o adquire dispensando R$ 50,00 basicamente. Além do problema do custo, entra em questão também o fato de no Brasil a pirataria e o download ilegal serem tão fortes que é difícil compreender o que leva uma empresa experiente como a Warner decidir diminuir seus lucros ao eliminar de seu catálogo um produto que poderia ser bem rentável ao suprir a necessidade de outras classes consumidoras. Acreditam que vão fazer fortuna com o novo formato? Parece que esse sonho ficou no passado. A elite quer ver filmes on-line e o povão mal consegue ter uma televisão decente e muitos ainda sonham com um aparelho de DVD player. Bom, essa questão mercadológica é complicada e nem é o objetivo desta coluna explorá-la, mas acho que fica evidente que algumas distribuidoras estão forçando a entrada do Blu-ray no mercado nacional sendo que aparentemente nem no internacional a moda pegou de forma satisfatória. Lei do mercado: oferta e demanda ou vice-versa. Cada um sabe o que faz com seu suado dinheirinho.

Bom, vamos voltar a falar de Pleasantville - A Vida em Preto e Branco que pensando bem até se relaciona um pouco com a idéia expressa nos primeiros parágrafos deste texto. Se querem impor novos brinquedinhos para moldar a sociedade contemporânea na forma de como se deve assistir filmes, é preciso que quem esteja insatisfeito com isso expresse suas opiniões para não ser engessado e ajudar a fomentar mudanças. É mais ou menos isso que acontece nesta original obra roteirizada e dirigida por Gary Ross. A idéia central é fugir da padronização. O enredo começa em meados da década de 1990 nos apresentando aos irmãos David (Tobey Maguire) e Jennifer (Reese Witherspoon). Ele é muito pacato e sua maior diversão é assistir “Pleasantville”, um seriado em preto e branco datado dos anos 50. Sua irmã já é bem mais inquieta e não curte muito o mesmo programa e assim um dia eles discutem pela posse do controle remoto da TV e com o apertar de um botão acabam parando num passe de mágica dentro da série que se passa em uma cidade que é um verdadeiro sonho. Tudo lá é perfeito, a alegria reina absoluta e os novos participantes do programa ganham personagens na trama, mas, intencionalmente ou não, acabam desvirtuando este mundo ideal com suas atitudes moderninhas. A partir de tais mudanças, as cores começam a surgir neste acinzentado ambiente, para alegria de alguns e a ira de outros.
Com um excelente elenco, que inclui nomes como Jeff Daniels e Joan Allen, e parte técnica apurada e até certo ponto inovadora, a grande mensagem deste trabalho é falar sobre como uma sociedade lida com mudanças repentinas, o que fica evidenciado pelo contraste do preto e branco e do colorido, uma metáfora para expor a idéia daqueles que são contra e os que são a favor das novidades respectivamente. Por este ponto de vista, podemos considerar absurda a ausência desta obra no formato do DVD, muito mais abrangente e que poderia dar a oportunidade de um número bem maior de pessoas conferirem o longa. Chega a ser contraditório uma empresa que tem os direitos de um filme que fala justamente sobre a expansão de sentimentos e idéias, sobre a liberdade para contestar e o direito de amar livremente (não há nem insinuações sexuais no mundo perfeito do seriado fictício até a chegada de seus novos habitantes), enfim, uma obra que fala sobre a multiplicidade de fatores como ferramentas essenciais para a sociedade caminhar para frente, e sua empresa distribuidora tirar do consumidor o direito de escolher como deseja assisti-lo.

A idéia de Pleasantville - A Vida em Preto e Branco continua completamente válida e se aplica muito bem a nossa realidade. Para quem teve o privilégio de assistir ao filme pode parecer um tanto boba a mensagem deste texto condenando a disponibilidade do título em apenas um tipo de plataforma (isso se o mesmo não existir nos serviços de assinatura on line que também não são a salvação da lavoura), pois o longa defende justamente a idéia de sair da rotina, fazer as coisas de forma diferente, mas olhando a situação por um outro prisma fatalmente cairíamos na rotina no futuro. Se o Blu-ray ou o download enterrarem de vez o DVD vamos combinar que voltaremos a estaca zero, tudo padronizado, a sociedade robotizada em que todos precisam da mesma ferramenta para curtir um filme. Se você não tem condições de entrar na onda (acreditem ainda tem gente que não tem condições de usufruir de DVDs e cinema no seu modo mais simples) o problema é seu. Corra atrás e quando você chegar lá uma outra novidade já estará no mercado para te deixar novamente parado no tempo. Pode parecer estranha a intertextualidade entre essa realidade do mercado de filmes e a mensagem da produção destacada, mas analisando com mais calma encontrarão o sentido. É uma pena que discussões como esta sejam mais bem aceitas em publicações acadêmicas. No mundo da internet, embora pareça que a democracia impera, é perceptível que pouco a pouco a padronização toma conta e o espaço para pensar diferente se torna restrito e quem ousa expressar uma opinião contrária a maioria está se colocando a disposição para ser alvo de apedrejamentos. Felizes aqueles que conseguem assistir a um filme, decodificar sua mensagem e aplicar o conhecimento adquirido à sua realidade, ideologia e pensamentos. Este texto é a síntese desta última frase.

2 comentários:

Josielly T Fonseca disse...

Eu adoro esse filme me lembro de tê-lo visto pela primeira vez no corujão do SBT em 1996 e foi amor a primeira vista não me cansava de falar de como havia me cativado. Complicado foi depois de 5 anos eu tentar achar ele em VHS para comprar foi uma raridade e enfim eu consegui ter essa relíquia e jamais vou vender, procurei também ano passado em DVD mas não consegui achar bom saber que está disponível em Bluray vou ver se compro. Parabéns pelo blog.

Guilherme Z. disse...

Só uma correção: visto o ano de lançamento do filme, ele deve ter sido exibido na TV aberta em 2006. Na realidade, acho que bem antes disso o SBT já o havia exibido. Pelas regras contratuais, o filme continua no acervo desse canal, mas nunca mais foi exibido. Hoje em dia o que eles não acham mais interessante está sendo repassado para a Globo, mas por lá ele também não deu as caras. De qualquer forma, ta ai o blu-ray no mercado, mas torço para que seja lançado em DVD também e assim consiga atingir um público maior.

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