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quarta-feira, 21 de março de 2012

ESQUECERAM DE... POLLOCK

A vida de grandes pintores já foi retratada pelo cinema que frequentemente também abre espaço para conhecermos artistas que tiveram sua importância, mas cuja obra o tempo tratou de apagar da memória coletiva. Infelizmente o mesmo destino é dado à muitas versões cinematográficas que se propõem a invadir a intimidades desses criadores e apresentar ao mundo um pouco de seus trabalhos. Foi esse o caminho trilhado por Pollock (2000), drama que deu o Oscar de atriz coadjuvante para Marcia Gay Harden e que marca a estréia na direção do ator Ed Harris que também atua no filme fazendo o protagonista, o artista plástico Jackson Pollock que revolucionou a pintura ao abdicar dos pincéis e passar a utilizar diversos objetos para espalhar as tintas de forma desorganizada e que cada traço ou borrão fosse único e tivesse textura, técnica moderna que acabou virando moda décadas mais tarde.


Harris levou cerca de dez anos para realizar o projeto que ele também produziu e mostrou competência na frente e atrás das câmeras. Este trabalho é bem pessoal e ele se entregou totalmente a dura rotina de atuar e dirigir ao mesmo tempo e se arriscou ao decidir levar para o cinema um pouco da história de um dos maiores nomes da pintura moderna norte-americana. Além de estar exposto as várias críticas tão comuns às cinebiografias devido aos exageros ou omissões que esse tipo de produção pede para se tornar viável, o ator também já devia estar preparado para as fracas bilheterias, afinal Pollock para muitas pessoas era um desconhecido até então e pelo visto continua, só assim para explicar a ausência do título no mercado. O pintor ficou famoso com telas que se assemelhavam ao estilo moderno de artistas cubistas e surrealistas. Os especialistas diziam que ele nada mais fazia que misturar técnicas dessas duas vertentes das artes plásticas, mas anos mais tarde reconheceram seus trabalhos como representantes do expressionismo abstrato. Bem, a opinião das pessoas que sempre procuravam explicações e significados em seus borrões de tintas o deixavam irritado, afinal cada um compreende uma obra de arte de forma diferente do outro e não é necessário entender o desenho conforme as idéias do criador. Os significados são inúmeros e suas percepções dependem de fatores externos e emocionais individuais.


Baseado no livro “Jackson Pollock: An American Saga”, de Steve Naifeh e Gregory White Smith, também roteiristas do filme, a trama se concentra em um período profissional peculiar de Pollock e sua relação com a mulher Lee Krasner (Marcia Gay Harden), também artista e uma espécie de agente do pintor. O longa se passa na década de 1940 em um bairro boêmio de Nova York, mas naquela época o artista era ainda pouco conhecido e vendia uma ou outra obra de arte. Talvez esse fracasso profissional o tenha levado ao alcoolismo, mas esse fato aliado ao seu egoísmo, um ponto comum entre vários pintores, só o afundavam ainda mais. As coisas mudam quando ele conhece Lee que confirma a teoria que sempre existe uma grande mulher atrás de um grande homem. Ela coloca a vida profissional do companheiro em ordem incentivando-o a produzir mais telas e agendando exposições e outros eventos. De quebra, ela ainda tentava colocar a rotina pessoal dele em ordem afastando-o do vício em bebidas. O filme segue cerca de dez anos da vida de Pollock até o seu reconhecimento por uma grande revista e os críticos em geral, mas o final não é feliz. Qualquer pesquisa na internet com seu nome revelará a conclusão desta história. Em um fatídico acidente de carro ele falece.

Apesar de Harris idolatrar o trabalho de Pollock, ele não o poupa e apresenta suas fraquezas e defeitos detalhadamente, mas os melhores momentos tanto de sua porção ator quanto de diretor são revelados quando o enfoque é o processo criativo das telas. O pintor não utilizava pincéis ou ao menos não da maneira comum. Ele trocava as pinceladas pelo gotejamento de tinta e comumente usava facas, pás, pedaços de madeira e até areia para criar efeitos diferenciados à produtos únicos, praticamente impossíveis de serem replicados. A técnica ficou conhecida como action painting e é a essência do expressionismo abstrato que por sua vez expõem as idéias do artista por meio de imagens distorcidas. Por conta deste enfoque, obviamente a parte artística deste trabalho é primorosa. Além da bela fotografia, a trilha sonora e até mesmo os figurinos e cenários ajudam a compor um retrato fiel da época. Aliás, o estilo de roupa do casal protagonista foi minuciosamente estudado, pois eles eram considerados ousados também nas vestimentas.  

Mostrando muito bem o contraponto da fúria e do êxtase do artista quando em meio as suas criações e nos momentos em que se entregava ao vício do álcool, Pollock consegue escamotear o tom triste e melancólico da história verídica e imprimir certo colorido à trama. Não foi preciso jogar as cores na tela de forma intencional.  A vida que elas cedem a qualquer produção estava lá, as tintas e as telas são elemento cênicos indispensáveis neste caso e o cineasta de primeira viagem Harris conseguiu tirar bom proveito disso. Pena que hoje o filme é raríssimo e usufrua dos tons acinzentados do ostracismo.

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