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quarta-feira, 28 de março de 2012

ESQUECERAM DE... UM SONHO DE PRIMAVERA

Quando começa a temporada de premiações todas as atenções são voltadas aos filmes que estão marcando presença nas principais festas e principalmente naqueles que mais recebem indicações para conquistar troféus. Curiosamente, as vezes os títulos que concorrem a menos categorias são bem mais interessantes e se tornam até mais marcantes que as produções mais bombadas da época. Esse é o caso de Um Sonho de Primavera (1991), um belo filme que conquistou dois Globos de Ouro e foi indicado a três Oscars em 1993 (foi lançado cerca de um ano depois de concluídas as filmagens). Misturando drama e humor leve em meio a belíssimas paisagens e cenários, o longa também conta com um impecável elenco feminino, destacando-se Miranda Richardson, uma das atrizes mais requisitadas do início da década de 1990 e dona de uma beleza exótica e traços fortes.
Na Inglaterra, em meados da década de 1920, Lottie (Josie Lawrence) é uma inquieta mulher que vive em Londres e se sente frustrada devido ao materialismo de seu marido, o advogado Mellersh Wilkins(Alfred Molina), que pouco dá atenção à esposa. Já Rose (Miranda Richardson) é esposa do escritor de contos eróticos Frederick Arbuthnot (Jim Broadbent) que também está insatisfeita com seu casamento. Elas se conhecem em um clube frequentado apenas por mulheres e juntas decidem alugar um castelo de estilo medieval em uma remota ilha italiana para passarem alguns dias em um local que é um verdadeiro paraíso. As novas amigas também colocam um anúncio no jornal sobre a idéia e mais duas damas, a viúva Fisher (Joan Plowright) e a jovem Caroline (Polly Walker), resolvem fazer a viagem e ajudar na divisão das despesas.

Duas mulheres em busca de um refresco para a clausura que viviam em seus casamentos, uma viúva solitária e adepta da leitura e uma bela jovem que até então nunca havia vivido um grande amor. Estas quatro mulheres de personalidades e costumes diferenciados irão passar por experiências que as farão reavaliar suas vidas e a traçar novas metas para o futuro, mas a principal lição que terão com estas férias inusitadas será a de encontrar a felicidade nas pequenas coisas e momentos do dia-a-dia. Todo esse processo ocorre em um mês de abril típico da primavera europeia, assim a fotografia do longa impressiona os espectadores com imagens belíssimas e idílicas de paisagens ornamentadas por uma vegetação abundante e luz solar constante. Tal ambientação contrasta com a cena londrina que introduz a história quando predominam as cores mais tristes que acompanham com perfeição o clima chuvoso e frio tão comum para os ingleses. O cuidado com a iluminação, cenários e adereços ajuda a narrativa a partir do momento que deixam explícito na palheta de cores utilizadas a diferença entre o antes e o tempo presente do passeio. A tristeza dá lugar a alegria.
Ao longo da narrativa, vamos percebendo de forma sutil as características bem distintas de cada uma dessas senhoras e como elas lidam para aceitar as diferenças. Uma é sofisticada, outra é autoritária, temos a religiosa e também uma garota carente. Nem mesmo quando dois homens chegam ao local o equilíbrio se quebra, pois as mulheres aprendem que ser egoísta ou medrosa não vale a pena. O diretor Mike Newell, que dirigiu, por exemplo, Quatro Casamentos e Um Funeral e O Sorriso de Monalisa, mostra muita sensibilidade ao conduzir uma trama construída meticulosamente para agradar as plateias femininas, mas que acaba envolvendo o público masculino também. Por retratar um período pós-guerra, o cineasta toca levemente na questão de como a sociedade machista e preconceituosa da época controlava as mulheres, mas nunca deixando tal tema dominar sua produção.

Baseado no romance homônimo escrito por Elizabeth von Arnim, este Um Sonho de Primavera na realidade é um remake. A primeira versão cinematográfica do livro foi produzida em 1935, mas a visão de Newell para a obra é bem mais ampla, assim como o requinte da produção que ganhou ainda mais com o tratamento do texto e diálogos dispensado pelo roteirista Peter Barnes, não por acaso indicado ao Oscar de Melhor Roteiro Adaptado. Este é mais um exemplar de uma vertente do cinema em evidência no final dos anos 80 e começo dos 90, tendo como grandes representantes os sentimentalistas Flores de Aço e Tomates Verdes Fritos, ambos também liderados por um elenco feminino talentoso. Já que as mulheres é que arrastam maridos e namorados para o cinema, nada melhor que filmes pensados sob medida para agradá-las.  A diferença é que ao contrário dessas últimas obras citadas, este belíssimo trabalho solar e positivista de Newell inexplicavelmente nunca foi lançado em DVD no Brasil, amargando assim um inverno sem fim no limbo cinematográfico. Quando será que uma bondosa distribuidora vai resgatar este título e fazê-lo florescer novamente? Quantas primaveras precisaremos esperar?

2 comentários:

Leo Amaral disse...

adoro esse filme, vivo querendo comprar em dvd. é triste ver as distribuidoras não o lança no brasil!

Raquel disse...

Obrigada pela resenha. Eu comprei o livro em inglês, já que não foi traduzido para o português, mas não sabia que existia o filme. Vasculhei na net e só achei no Amazon, e apesar de meu inglês não ser ótimo, pelo menos vou poder ver o filme.
Abraços
Raquel

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