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quarta-feira, 7 de março de 2012

ESQUECERAM DE... ASAS DO AMOR

Ao pensarmos em Johnny Depp automaticamente nos lembramos do nome do diretor Tim Burton e ocorre o mesmo no caso da atriz Helena Bonham Carter, mas as lembranças não são apenas pelo fato dos diversos trabalhos que a intérprete e o cineasta fizeram juntos. Casados na vida real, ela é quase que seu amuleto da sorte, mas antes dessa parceria tanto na vida pessoal quanto na profissional acontecer ela já estava construindo uma carreira com bons trabalhos e reconhecimento da crítica. Helena viveu um excelente momento na carreira quando protagonizou Asas do Amor (1997), elogiada produção de época baseada no romance homônimo escrito por Henry James, o mesmo autor da obra que originou o filme Retrato de Uma Mulher dirigido por Jane Campion.  


O cineasta Iain Softley resolveu adaptar um conto menor de James, mas isso não é um fator de depreciação, pelo contrário, até porque mesmo não sendo muito conhecido pelo grande público ele é considerado por literários como uma das três obras-primas do autor inglês. De qualquer forma, com um texto menos popular nas mãos foi possível ter um pouco mais de liberdade na adaptação e fisgar a atenção do público com a publicidade de ser um enredo baseado em escritos de um autor famoso. Bem, sucesso nas bilheterias não fez, até porque na época em que Titanic estava bombando dificilmente algum outro filme escaparia de ser atropelado pela história do famoso acidente marítimo. Pelo menos a crítica ficou muito satisfeita com a obra e a cobriu de elogios, ainda mais depois que ela conquistou quatro indicações ao Oscar, entre elas a de melhor atriz. Filmado em pontos idílicos e turísticos da Itália e da Inglaterra, o longa não é só deslumbrante visualmente, com cenários e figurinos impecáveis, mas também conta com uma história bem construída e interpretada por um elenco de peso e empenhado.

Em Londres no início do século 20, Kate Croy (Helena Bonham Carter), uma jovem de origem aristocrática, não está com sua vida financeira muito saudável, mas para sobreviver em uma sociedade hipócrita e que vive de aparências ela precisa lutar para manter sua posição social Após o falecimento da mãe, a moça corta os laços afetivos com Lionel (Michael Gambon), seu pai um viciado em ópio, e vai morar com sua tia Maud (Charlotte Rampling) que lhe oferece ajuda financeira. Porém, as coisas não são resolvidas facilmente. Kate só continuará ostentando seus ares e costumes de nobre se aceitar o casamento arranjado que seus familiares estão providenciando, caso contrário nunca será independente financeiramente. O problema é que ela já mantém uma relação às escondidas com Merton Densher (Linus Roache), um pobre jornalista.  Levando a situação como pode, ora burlando a vigilância da tia e ora se mostrando interessada nos planos que tecem para ela, a jovem se sente todos os dias ameaçada contra a parede.
Durante uma viagem pela Europa, kate conhece uma rica órfã americana. Milly Theale (Alison Elliot) é livre dos preconceitos e esnobismos que regem a sociedade aristocrática e imediatamente elas fazem amizade. Ao conhecer Densher, a moça demonstra interesse amoroso por ele, mas ela nem desconfia que o jornalista e Kate te um caso. O que poderia gerar um conflito acaba se tornando a tábua de salvação para a aristocrata que está prestes a perder sua posição de destaque na sociedade. Kate descobre que a jovem está com uma doença terminal e decide jogá-la nos braços de seu namorado, pois com eles casados Densher teria direito a uma polpuda herança quando Milly morresse e enfim os dois poderiam viver seu amor em paz e ninguém da família Croy poderia reclamar que o rapaz não tem posses. Enquanto uma delas tinha a dinheiro e desejava conhecer o amor, a outra já vivia plenamente este sentimento, mas precisava de riquezas para ser totalmente feliz. Não tem jeito, uma delas sairá perdendo nesta história. Ou quem sabe as duas.

Flertando entre a inocência e o maquiavélico, Softley conduz esse triângulo amoroso envolvendo o espectador de tal forma que ele pode até sentir vontade de torcer para que os planos da protagonista se concretizem. Em contos românticos clássicos geralmente a mocinha é sempre doce, sofre um bocado, mas no final ganha seu felizes para sempre junto ao seu amado. Não convém dizer como esta história acaba, mas só pela audácia de um conto mostrar a hipocrisia de uma sociedade tão venerada e ser protagonizado por uma mulher de caráter dúbio, uma heroína má digamos assim, já dá para se ter uma idéia de que o final não deve decepcionar. O roteiro de Hossein Amini investe mais no viés psicológico e concentra suas atenções no trio de personagens centrais, assim muitas passagens da obra literária foram cortadas, como o relacionamento de Kate com seu pai, festas e situações que evidenciam detalhes do cotidiano da aristocracia inglesa e o contraste entre as culturas européias e americanas, mas nada que desmereça o filme e o caracterize como uma produção vazia.
Trabalhos como este deveriam ser obrigatórios para muitos que desejam trabalhar com cinema. Produções de época podem literalmente marcar época ou serem apenas um passatempo luxuoso, principalmente quando a produção dedica muito mais atenção ao visual do que ao roteiro e direção de atores. Softley, que antes deste trabalho havia feito Os Cinco Rapazes de Liverpool, se deu bem ao decidir trabalhar com uma história antiga e achou o equilíbrio perfeito entre um roteiro interessante e de certo modo perturbador com as tentações que são oferecidas por um visual sofisticado e arrebatador. Não ter disponível em DVD Asas do Amor é mais uma daquelas situações que são difíceis de compreender. Ainda bem que existem no mercado empresas que lançam a preços bem modestos excelentes opções de filmes antigos e podemos ficar na torcida para que os direitos desta produção sejam adquiridos em breve. Uma pena que as mesmas demoram para lançar lotes novos. De qualquer forma fica a dica de um produto que enriqueceria qualquer catálogo.

Um comentário:

Gisele Endrigo disse...

Esse filme tem no Netflix. Bom demais! Cheguei até aqui pesquisando mais sobre a história dele. Por coincidência, descobri que o roteiro de um filme que vi ha algum tempo, e gostei muito, The Golden Bowl, também é baseado em um livro de Henry James.

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