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sexta-feira, 19 de agosto de 2011

TERRENCE MALICK E SUA OBRA-PRIMA MODERNA

Filmes que participam ou vencem festivais já chegam aos cinemas com uma bela propaganda e com um público cheio de expectativas. Quando há um elenco e diretor de peso e o apoio da mídia, principalmente da internet, a ansiedade pelo que está por vir é ainda maior. Recentemente tal movimento de divulgação ocorreu com Melancolia, de Lars von Trier. Agora, os holofotes estão voltados para Terrence Malick e o seu A Árvore da Vida (2011), um título poético para uma obra que destaca a contemplação. O enredo trata da relação entre pai e filho de uma família comum ao longo dos séculos, desde o Big Bang até o fim dos tempos. Assim, o diretor narra uma grande viagem pela história da vida e tenta desvendar seus mistérios ao mesmo tempo em que liga esses temas ao viés familiar mostrando os efeitos da natureza e da fé sobre um grupo de pessoas e sem se preocupar com a época em que a ação se desenvolve. Cada cena pode representar um período. Para alguns, esta narrativa é uma chatice só ou uma criação de algum maluco. Para outros, um verdadeiro espetáculo. Há aqueles que devem esbravejar que odiaram, assim como outros vão encher a boca para dizer que é o melhor filme que já assistiram. Uma coisa é certa: visualmente ninguém pode dizer que se decepcionou. Esse já é um passo para considerar este um dos melhores lançamentos dos últimos tempos, isso para quem é apreciador de um bom cinema.

Estrelado por Brad Pitt e Sean Penn, dois grandes atores que interpretam respectivamente o pai severo e o filho já adulto e melancólico, certamente a produção não iria ter a mesma repercussão se não ostentasse esses nomes no cartaz. Porém, eles não apresentam a melhor interpretação de suas carreiras. Eles fazem um trabalho muito correto, mas acabam ofuscados por Jessica Chastain e o menino Hunter McCracken. Ela representa perfeitamente o amor maternal e ele, por sua vez, surpreende ao mostrar de forma velada a crueldade infantil, fruto da relação que vive com seu pai, muito rígido e impiedoso na criação de sua prole, mas que escamoteadamente mostra seu amor por ela. Mesmo com boas interpretações, o que impressiona é a quantidade de assuntos abordados e os diversos momentos marcantes e tudo isso tendo como fio condutor a tentativa de explicar a dor da perda, mas a idéia não é falar da morte e sim da vida. Em momento algum o foco do texto é alguma pessoa falecida, mas as atenções são voltadas aos efeitos que uma perda irreversível pode ocasionar em um núcleo, no caso, familiar.


Para alcançar seus objetivos, o diretor cria uma interessante mistura de drama, ficção científica e conceitos religiosos, o que deve exigir certa concentração extra por parte do espectador e talvez até mais de uma ida ao cinema ou aguardar chegar nas locadoras. Em pouco mais de duas horas, são muitos os detalhes para serem absorvidos em apenas uma exibição, até porque não é seguida uma ordem linear para os fatos, o que pode comprometer o entendimento instantâneo e até o impacto das imagens podem fazer a atenção dispensar. Pelos temas existenciais agregados a trama familiar, pode-se até encontrar paralelos entre esta obra e a já citada de Trier, mas cada cineasta tem o seu estilo, o que difere seus trabalhos. Curiosamente, enquanto Malick saiu aplaudido e premiado do Festival de Cannes este ano, o outro foi expulso e virou pessoa não grata por lá.

A Árvore da Vida é sem dúvidas um filme para poucos e muita gente deverá dizer que o filme é genial apenas para não se sentir diminuído, pois não entendeu praticamente nada. Para estas pessoas resta a contemplação de belíssimas cenas, com direito a suntuosos cenários e efeitos especiais, acompanhadas de uma eficiente e tocante trilha sonora, mas isso não impedirá que elas sintam esta produção como pretensiosa e arrastada e talvez até sem sentido. O cinema de Malick é assim. Cheio de mensagens subliminares, cenas longas mesmo sem nenhum diálogo e um apuro técnico e visual invejável. Não é a toa que com quase quarenta anos de carreira este cineasta tem uma filmografia cujos títulos podem ser contados com os dedos de apenas uma mão. Certa improdutividade não deve ser interpretada negativamente. Pelo contrário, deve ser vista como uma forma de respeito ao mundo cinematográfico. Com tempo de sobra para se dedicar ao longa da vez, o diretor consegue criar uma aura ímpar em volta de seu nome e assim cada lançamento seu é um verdadeiro evento que atrai a atenção de cinéfilos que têm a certeza de que irão acompanhar um trabalho único.


Sendo tão metódico, não é de se admirar que o novo trabalho de Malick já é considerado uma obra-prima do cinema e a grande obra do diretor justamente por ele não ter medo da grandiosidade e da ambição. Praticamente conduzindo uma sinfonia, ele teve a preocupação para que cada elemento técnico ou visual acompanhasse seu belo roteiro que é excêntrico e curioso e difícil de ser resumido em uma breve sinopse. O surgimento dos elementos naturais e da vida, as suas transformações, o respeito à religião, a formação de uma família de caráter e a perda de um ente querido. É muito complicado escrever em poucas palavras tudo que esta produção tem a nos oferecer e cada um terá uma interpretação diferente como já dito no início do texto e mesmo tocando em um assunto triste, não deixa de ser uma homenagem a vida e ao seu ciclo sem fim. A Árvore da Vida é uma obra única e que todos deveriam ao menos uma vez na vida assistir e deixar sua sensibilidade aflorar para tirar o melhor proveito deste marco do cinema e digno de prêmios e de nossa eterna lembrança.

2 comentários:

renatocinema disse...

Adoro o diretor e sua linhagem.

Deveria ter ido ver essa obra, ao invés de assistir Lanterna Verde.


Semana que vem...

Guilherme Z. disse...

E pensar que a Warner quer fazer o máximo de esforço para emplacar o último Harry Potter como o melhor filme do Oscar. Se "A Árvore da Vida" estiver no páreo, sem chances. Se o bruxinho vencer, é marmelada na certa. Se a obra de Malick nem for indicada, bem então minha crença de que um dia a Academia de Cinema faria mesmo uma premiação voltada ao cinema e não para os lucros irá por água abaixo.

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