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terça-feira, 30 de agosto de 2011

INSANIDADE ESTAMPADA NO ROSTO


Depois que O Exorcista foi lançado em meados dos anos 70, parecia que o ápice do gênero terror havia chegado e que nada mais poderia causar tanto impacto e calafrios. Porém, sempre há uma mente criativa de plantão tentando surpreender e quem sabe tomar tal status para si.  O cineasta Stanley Kubrick, figura célebre da história do cinema, teve sua carreira marcada por obras de diferentes estilos, mas sempre com um perfeccionismo impressionante. Depois de sair dos EUA e realizar alguns trabalhos importantes na Inglaterra, ele inovou e optou por uma temática que até então não fazia parte de sua filmografia: o suspense sobrenatural. A iniciativa gerou controvérsias que persistem até hoje. O Iluminado (1980) foi criticado por especialistas e público e até o próprio autor do livro no qual a história se baseia, Stephen King, duvidava da capacidade do diretor em adaptar a obra. O fato é que tanto o livro quanto o filme despertam reações negativas e positivas, mas em uma visão geral, ambos conseguiram reconhecimento como grandes obras com o passar dos anos. A produção acabou inaugurando uma nova vertente ao cinema de horror que agradou aqueles que já naqueles tempos não aguentavam mais os já batidos clichês do gênero. O roteiro nos apresenta a Jack Torrance, um dos personagens mais famosos de Jack Nicholson. Durante um rigoroso inverno, ele é contratado para ser vigia de um hotel que fica inativo durante a temporada e leva junto sua esposa (Shelley Duvall) e seu filho (Danny Lloyd). O isolamento total acaba se tornando um martírio para essas três pessoas. Aos poucos, acontecimentos inexplicáveis começam a ocorrer e tirar o sossego da família, principalmente quando o garoto passa a ter visões assombrosas com pessoas que também passaram pela experiência de ficarem isolados naquele local e o pai de família passa a agir de modo completamente estranho e agressivo.

Kubrick realizou algumas modificações na história em relação ao conteúdo do livro, conseguindo assim conduzir sua trama de maneira que transparecesse certa ambiguidade no ar. O espectador chega a ficar na dúvida se todos os acontecimentos estranhos ocorrem por causa da insanidade do vigia ou se realmente o local possui uma espécie de maldição. Assim, foi optado o caminho de mostrar a degradação psicológica dos personagens, mas deixando espaço para o espectador usar sua imaginação tal como se estivesse lendo a obra original de King. Por não deixar muito explícito o que há de mal naquele lugar, grande parte da tensão que é gerada se deve ao apuro da parte técnica que reforçam em diversos aspectos o clima soturno e de solidão, seja utilizando jogo de luzes, movimentos atrativos de câmera, incluindo a estréia de uma técnica para captar cenas de perseguição sem tremidas indesejáveis, ou pela direção de arte. A fachada de um grande hotel serviu para as cenas externas reforçando a sensação de isolamento e o interior do prédio foi totalmente construído em locação com cenários muito espaçosos, mas que nem por isso deixam de ser claustrofóbicos a certa altura do filme quando o espectador já está totalmente envolvido neste enredo que gera calafrios e expectativas na mesma proporção. Nicholson conquistou o papel de protagonista não só por causa de seu já reconhecido talento na época, mas também porque sua imagem física contribuiria em muito para o visual assustador que seu personagem deveria ter. Já a sumida Shelley foi escolhida a dedo por passar naturalmente a idéia de impotência diante de acontecimentos inverossímeis, já que seu papel é um tanto passivo. Quem surpreende é o garoto Danny que apresenta uma interpretação forte e que foi cercado de todos os cuidados pelo diretor para que ele não sofresse impactos negativos que pudessem gerar transtornos futuros. Para os intérpretes, é fato que mais amedrontador que o próprio roteiro deve ter sido a busca intensa pela perfeição. Correm lendas que alguns takes foram refeitos por até mais de 40 vezes e um em especial foi rodado até que a claquete de número 127 fosse batida e finalmente Kubrick se desse por satisfeito.  Uma das cenas mais marcantes do longa é quando Nicholson coloca seu rosto entre uma fenda feita em uma porta a base de machadadas com um sorriso macabro e um olhar perturbador no rosto provando a total insanidade de seu personagem. Tal imagem ainda estampa o material publicitário do longa, perpetuando assim a fama deste trabalho.  Excepcional ou megalomaníaco, fiel ou não ao livro, muita expectativa ou decepcionante. São várias as interpretações que fazem a respeito de O Iluminado, mas certamente ele marcou época e ainda continua vivo na memória de milhões de pessoas e chamando a atenção de novos curiosos.

Um comentário:

renatocinema disse...

O Iluminado não é um filme de terror ou suspense. O Iluminado é uma aula de arte, de interpretação, de alma.

Obra-prima.

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