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quinta-feira, 11 de agosto de 2011

O APOCALIPSE SEGUNDO LARS VON TRIER

Toda vez que um trabalho do cineasta Lars von Trier está sendo lançado gera expectativas e polêmicas e isso começa meses antes de sua estréia. Foi assim com Dançando no Escuro, Dogville, Anticristo e agora novamente com Melancolia (2011). Após a polêmica coletiva de imprensa que concedeu no Festival de Cannes, que resultou na expulsão do diretor do evento e nem o próprio elenco do longa concordou com suas declarações a respeito do nazismo, a obra correu o risco de ficar marcada por causa do episódio. Porém, este seu novo filme promete passar uma borracha nos mal entendidos do passado. Deve fazer muito sucesso no circuito de cinema alternativo e depois virar um produto cultuado por cinéfilos que certamente o procurarão nas locadoras e lojas especializadas, assim como existe demanda pelo restante da filmografia do dinamarquês, mas infelizmente ela não é correspondida devido a dificuldade em encontrar os DVDs.

O enredo, como de costume do diretor, é um tanto excêntrico e provocativo. Um planeta chamado Melancolia está prestes a colidir com a Terra, o que resultaria em sua destruição por completo e consequentemente na extinção da raça humana. Enquanto isso, Justine (Kirsten Dunst) está prestes a se casar com Michael (Alexander Skarsgard) e recebe a ajuda de sua irmã, Claire (Charlotte Gainsbourg), que juntamente com seu marido John (Kiefer Sutherland) realiza uma grande festa para a comemoração. Em resumo a história é essa, mas um trabalho de Trier não pode ser encarado com essa simplicidade e precisa ser destrinchado para revelar tudo que pode oferecer. O início apresenta belas e poéticas imagens e um pouco mais a frente é dito que ninguém sentirá falta da Terra, uma alusão a vastidão do universo e a insignificância dos humanos diante dele. Depois desse prólogo, o filme passa a contar duas histórias que têm em comum o fato de terem os mesmos personagens e uma sutil ligação. A divisão do enredo em partes é uma marca do cinema do diretor e cada uma é dedicada a uma das irmãs, o que causa certo desnível no conjunto da obra devido a diversidade de temas abordados.

A primeira parte é focada em Justine as voltas com seu casamento, mas o clima festivo é destruído pela rigidez do horário imposto pela irmã da moça. Não demora muito e logo se percebe que existe algo de errado nesta cerimônia. A instabilidade emocional da noiva e as brigas familiares e de trabalho que vem a tona não impedem os festejos, mas tudo é feito de aparências. No fundo não há motivo para comemorar. Dexter (John Hurt), o pai da moça, está mais interessado em chamar a atenção das mulheres. Gaby (Charlotte Rampling), a mãe, tenta expor sua visão contra o matrimônio justamente no dia do casório. Jack (Stellan Skarsgard), o chefe, quer provar que a funcionária é uma workaholic. E, por fim, o cunhado John só reclama dos gastos que a festa gerou. O ritmo lento marca este período, mas a mudança é radical para o seguinte. O casamento passou e Justine se entrega a uma profunda depressão, mas o foco de preocupação agora é outro. O planeta Melancolia se aproxima cada vez mais da Terra e pode se chocar abruptamente. Claire está apavorada com essa possibilidade e apenas consegue se acalmar graças às palavras de seu marido, um estudioso do universo que tem a convicção de que o choque será evitado nos últimos minutos. Não espere cenas típicas dos filmes catástrofes, pois não faz o gênero do cineasta, apesar do aspecto de ficção científica do texto. O interesse não é o espetáculo visual que o episódio pode proporcionar, mas sim as relações humanas e o comportamento das pessoas diante do fim iminente, uma provocação explícita para fazer o espectador pensar no assunto e procurar um posicionamento.


Melancolia impressiona pelo início e por sua segunda metade, que apresenta uma nova e poética forma de ver o extermínio da humanidade, tema um tanto rebuscado e explorado com auxílio de efeitos especiais de última geração ou vergonhosamente de quinta categoria. Outros filmes já tentaram fazer isso de formas singulares, seja justificando o fim por causa de uma desconhecida doença, como em Ensaio Sobre a Cegueira, ou analisando o comportamento de um grupo de pessoas presas em um mesmo ambiente diante do desconhecido, como ocorreu em O Nevoeiro, mas neste caso não escaparam do clichê das criaturas estranhas. No fundo, Trier quer mostrar que independente da catástrofe natural, a sociedade já está a beira de um colapso. A família protagonista é uma representação de milhares de outras espalhadas pelo mundo todo.

Tecnicamente e visualmente o filme também merece destaque. Algumas imagens parecem verdadeiras obras de arte, apesar de que outras são tremidas e destoam no conjunto, mas podem ser consideradas parte da poesia, como as cenas passadas durante o jantar de casamento, realizadas aparentemente com a câmera na mão, passando ao espectador a idéia de que aquela é a visão de algum convidado da festa. A trilha sonora completa os takes com canções instrumentais e composições de músicos clássicos, mas é certo que o silêncio impera em certos momentos. O diretor também é conhecido pelo minimalismo de suas produções, mas aqui deve surpreender com os figurinos e a direção de arte.


Também vale destacar o bom desempenho de Kirsten Dunst, principalmente na segunda metade do longa. Merecidamente vencedora do prêmio de Melhor Atriz no Festival de Cannes, ela consegue fazer o público esquecer os seus personagens anteriores, basicamente ingênuos e mocinhas românticas. Quem também surpreende é Kiefer Sutherland, muito conhecido por atuações em produções de ação e suspense, e que aqui prova que é um ótimo ator e que está em um patamar acima dos papéis que lhe oferecem.

Expostas todas estas considerações, dá para perceber que Melancolia não é um filme que agradaria um grande público, mas não passará despercebido pelos olhos dos cinéfilos e críticos e desde a concepção de sua idéia já tinha seu nome preparado para ganhar status de obra cult, ainda mais com o homem atrás das câmeras. Polêmico, atrevido, pensativo ou maluco. O trabalho de Trier pode ser visto de diversas formas e de acordo com o repertório cultural de cada um. Porém, todos têm que concordar em uma coisa: seu modo de fazer cinema é único. Ame ou odeie.

Um comentário:

renatocinema disse...

Estou ansioso pacas para assistir a obra.

Tenho lido boas críticas e isso tem me instigado ainda mais.

Pena meu dia ter apenas 24 horas. kkkk

abraços

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