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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

ESQUECERAM DE... O HOMEM DAS ESTRELAS

Giuseppe Tornatore é um italiano que gosta de exaltar sua terra natal, mas não deixou se inebriar totalmente pelo tom da regionalidade e se envolveu em projetos com temas universais e sempre que pode demonstra seu amor pelo cinema de forma implícita ou escancaradamente explícita. O resultado é que seu nome é famoso no mundo todo, apesar de uma filmografia irregular com altos e baixos, mas tudo leva a crer que daqui alguns anos qualquer trabalho seu será tratado como uma verdadeira preciosidade. Curiosamente, algumas de suas obras permanecem inéditas em DVD, como por exemplo O Homem das Estrelas (1995), um filme de muito requinte e bom gosto vencedor do Grande Prêmio Especial do Júri do Festival de Veneza, uma honra que o torna marcante, mas inexplicavelmente esquecido por grande parte do público.

Assim como em seu grande sucesso Cinema Paradiso, Tornatore investe mais uma vez em uma homenagem ao mundo cinematográfico através do personagem Joe Morelli (Sergio Castellito), um homem solitário que chega a uma cidadezinha no interior da Sicilia no período pós-guerra e anuncia que procura novos rostos para trabalharem em filmes. Ele arma uma barraca na praça central e oferece a uma quantia modesta testes com candidatos a futuros astros da telona. Na realidade tudo não passa de uma mentira que ele transforma em seu ganha pão sem se preocupar se quem vai procurá-lo é um milionário exibicionista ou um humilde que busca uma chance de crescer na vida. A cada nova pessoa que o procura, muito mais que revelar talentos, o rapaz encontra instigantes histórias pessoais, porém, ele não se envolve com elas e vê o seu trabalho com frieza e apenas pensando nos resultados financeiros. Tudo muda quando aparece em sua vida Beata (Tiziana Lodato), uma moça que também está sozinha no mundo e acaba se afeiçoando àquele homem, e não demora muito e o amor entre os dois floresce. Pena que as alegrias duram pouco, pois o casal irá pagar um preço caro pelo passado de erros de Morelli.

O cineasta tem competência de sobra para falar da Sicília, seu cenário de costume, apesar de não ser natural da ilha, mas fez do local o seu porto seguro cinematográfico. A Segunda Guerra ou o período posterior a ela também são temas comuns em sua obra, pois remete as memórias de sua infância. Um cenário belíssimo na Itália, seu país natal, , a paixão pelo cinema e o contexto histórico como pano de fundo são os ingredientes básicos de grande parte da filmografia de Tornatore e sempre ganham uma nova visão através de propostas diferenciadas de trabalho. No caso de O Homem das Estrelas, o tema central é entender uma cultura através do próprio cinema. O personagem central é um dos tantos que tentaram seguir a vida após o período de combates inventando atividades para sobreviver. Por trás da aparente malandragem de enganar os populares que queriam uma oportunidade de brilhar e serem lembrados, se escondia um homem ingênuo e sonhador assim como sua clientela e ele só se destacava porque achou um meio para tanto, apesar que depois isso lhe traria complicações.


O filme consegue trazer uma linha narrativa diferenciada das tradicionais tragicomédias, aquelas que começam leves e com momentos divertidos e que aos poucos deixam cair o ritmo e abrindo espaço para as desgraças acontecerem. Aqui Tornatore consegue dividir sua trama em dois momentos distintos e uma cena em particular trata de romper com um gênero para abraçar outro. O amor ao cinema fica declaradamente em segundo plano para dar espaço a um retrato realista e contundente de um Sicília ferida após a guerra e com uma população contrastante e variada, mas que pode ser resumida em uma única pessoa: Morelli. Pessoa simples, sonhadora, ingênua e que não quer ter sua passagem na Terra despercebida. Enfim, um típico siciliano. Um típico italiano. Um típico ser humano com todos os seus defeitos e qualidades.

Aparentemente simples, O Homem das Estrelas é mais um importante trabalho de Tornatore que só revela sua beleza e raízes quando dissecado minuciosamente. Assistir apenas uma vez pode não ser o bastante. A poesia e as belas paisagens impressas em cada cena podem dispersar a atenção do conteúdo implícito. É preciso pelo mais uma sessão para poder se aprofundar no enredo. Não há desculpas para explicar o porquê desta produção não estar disponível no mercado de varejo ou locação hoje em dia no Brasil. Tema relevante, obra famosa, um cineasta cultuado por trás das câmeras e uma excelente história. Com certeza saudosistas, cinéfilos e novas platéias se interessariam pelo título. Pena que o ditado que diz que brasileiro tem memória curta parece reger as ações da maioria das distribuidoras e produtoras de filmes que ainda nos privam de grandes obras do cinema.

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