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quinta-feira, 20 de outubro de 2011

SELTON MELLO, ORGULHO DO CINEMA NACIONAL


Quando se fala em cinema brasileiro é praticamente impossível não se lembrar automaticamente de um nome, tamanha a sua dedicação a sétima arte. Selton Mello é sem dúvida alguma um dos atores mais engajados no projeto de elevar o cinema nacional a uma grande potência tanto em termos de sucesso comercial quanto no sentido artístico da atividade. Equilibrando sua filmografia muito bem nestes dois campos, ora arrebentando nas bilheterias e ora passando despercebido, é fato que ele é um artista completo. Além de atuar ele ainda dubla, dirige, escreve, produz e dá pitacos em quase todas as áreas que envolvem a produção de um filme. Até se precisar soltar a voz para cantar ele não foge da raia.

Selton Figueiredo Melo nasceu na cidade de Passos em Minas Gerais no dia 30 de dezembro de 1972 e mudou-se para São Paulo com a família ainda criança, mas não há indícios que seus pais desempenhavam atividades ligadas a arte e cultura para explicar a sua paixão por esse universo onde a criatividade rege o espetáculo. Parece que ele nasceu com o dom natural para a profissão, ocupação que seu irmão Danton Mello também escolheu. Mas se engana quem acha que ele cresceu fazendo cinema. Seus primeiros anos de carreira foram dedicados a televisão e os filmes surgiram por causa dos trabalhos de dublagem de marcantes filmes como Os Goonies (1985) e Indiana Jones e a Última Cruzada (1989). Ainda nos anos 80 emprestou sua voz para as séries de desenhos para a TV "Charlie Brown" e "Duck Tales". Anos mais tarde fez as vozes do imperador Kusco em A Nova Onda do Imperador (2000) e Kenai em Irmão Urso (2002)

Aos sete anos de idade Mello estreava nas novelas em "Marrom Glacê" (1979) da Rede Globo, emissora a qual mais se dedicou, apesar de rápidas passagens por algumas outras. Participou de produções marcantes na história do canal e da televisão como "Sinhá Moça" (1986), "Fera Radical" (1988), "O Salvador da Pátria" (1989), "Pedra Sobre Pedra" (1992) e "A Próxima Vítima" (1995). Seu grande reconhecimento no gênero foi em 1997 em "A Indomada" como Emanuel, um jovem com leve deficiência mental que conquistou o público com sua inocência. Sua última novela foi em 1999 na épica "Força de Um Desejo". Naqueles tempos, o ator já tinha sido mordido pelo bichinho do cinema e resolveu abandonar as novelas e se desvincular de contratos com a Globo. Suas declarações na época geraram polêmica por soarem como repúdio ao trabalho que até então desenvolvia e como uma virada de costas aos fãs que o consagraram, o que até gerou a ele fama de antipático. O tempo passou e é perceptível que ou ele se equivocou no que disse ou foi mal interpretado, pois ele continuou prestando serviços para a emissora da família Marinho, porém se dedicou a projetos mais rápidos, elitistas e com cara de cinema como minisséries e seriados, estes, diga-se de passagem, fracassos retumbantes com exceção de "A Cura" (2010), trabalho bem avaliado pela crítica e com público razoável. Pudera, o texto era de João Emanuel Carneiro que migrou sua percepção e traquejo para a cinematografia para a TV.

Realmente, Mello não podia cortar seu cordão umbilical com a televisão de uma vez só. Seus primeiros grandes sucessos nas telas grandes na realidade eram microsséries da Rede Globo, como Guerra de Canudos (1997) na pele do Tenente Luís em um importante episódio histórico da época do Brasil República. No ano anterior estava no elenco secundário do candidato ao Oscar de Filme Estrangeiro O Que é Isso Companheiro?. Antes disso, participou do pouco visto Lamarca (1994) e fez sua estréia no vergonhoso Uma Escola Atrapalhada (1990), produção infanto-juvenil passada em uma escola em meio a um concurso musical que reunia o saudoso grupo de humoristas Os Trapalhões a outros ícones da época, como a apresentadora Angélica e conjuntos musicais que inexplicavelmente faziam sucesso.


Eu amo cinema

Foi em 2000 que o ator foi reconhecido pelo mundo cinematográfico, ainda que por um projeto primeiramente exibido na TV. O público lotou as salas de exibição para gargalhar com seu criativo e atrapalhado Chicó em O Auto da Compadecida. Baseado no conto de Ariano Suassuna, a experiência surpreendeu pelos excelentes resultados financeiros e de críticas e assim uma união bem sucedida começou entre dois veículos de comunicação. Por mais que seja criticada, é inegável que muito do que o cinema nacional conquistou a partir da retomada se deve a Rede Globo. Desde esse investimento para levar a estética e produtos televisivos às telas grandes, a emissora colaborou diretamente na produção ou na divulgação da maior parte dos filmes nacionais. E Mello era nome certo em várias delas. Assim, em 2001, outro projeto migrou da telinha para a telona. A Invenção do Brasil foi exibida em três capítulos para comemorar os 500 anos do descobrimento do Brasil e um ano depois foi editado para o cinema, mas o resultado não foi explosivo. Aqui, o ator vive um homem branco que chega a uma terra desconhecida habitada por belas e inocentes morenas. Versão debochada dos fatos históricos.

Comprovado que a estética e ritmo televiso dão certo no cinema, uma avalanche de filmes com aspecto de especial de TV esticado foram lançados, mas Mello não pegou essa onda. Mesmo seus projetos de maior repercussão e de maior penetração com as massas guardam qualidades e surpresas característicos da sétima arte como Lisbela e o Prisioneiro (2003), onde vive um trambiqueiro mulherengo que acaba na mira de um assassino profissional, e que tem edição e diálogos inteligentes e ágeis e que fazem uma homenagem a estética cinematográfica. As histórias reais lhe renderam elogios e dinheiro em 2008 e 2009, respectivamente por Meu Nome Não é Johnny e Jean Charles, em ambos vivendo o papel-título. O primeiro mostra a trajetória de um ex-traficante de drogas que após a passagem pela prisão se recuperou do vício e seguiu outro rumo e no segundo relata um pouco da vida de um brasileiro que morava em Londres e foi assassinado no metrô por engano, um caso que rendeu muita repercussão nos jornais. Por fim, com A Mulher Invisível (2009), o ator se aproximou de um tema que até parece oriundo de uma comédia romântica de Hollywood: um homem obcecado por uma bonita e sensual jovem que só existe em sua imaginação. O sucesso do longa rendeu um seriado com duas curtas temporadas na Globo.

Mello ainda marcou presença no premiadíssimo Lavoura Arcaica (2001), onde vive um jovem que foge de casa e seus motivos e impressões após sua volta são expostos em uma trama de aproximadamente três horas. Foi transformado em lobo em uma rápida, mas interessante sequência de O Coronel e o Lobisomem (2004), financiou e protagonizou o polêmico O Cheiro do Ralo (2007), na pele de um comerciante que explora seus clientes, uma obra de teor forte e estética divergente em meio ao apelo das comédias de costumes que dominavam o cinema nacional na época e ainda embarcou no mundo da bossa nova e nostalgia dos anos 60 em Os Desafinados (2008). Convidado pelo diretor Andrucha Waddington, fez o pequeno papel de Marqués de Navas na co-produção entre Brasil e Espanha (muito mais espanhola, diga-se de passagem) intitulada Lope, mas sua participação some no longa, assim como de sua colega de elenco e nacionalidade Sônia Braga.

Com a carreira de ator consolidada, Mello passou a se arriscar atrás das câmeras e em 2005 fez um curta-metragem e também dirigiu alguns clipes musicais, mas não demorou muito para segurar as rédeas de um longa metragem. Estreou como diretor em Feliz Natal (2008), mas aqui não atuou. Seguindo a linha de títulos curiosos que pouco lembram o conteúdo da obra, seu filme decepcionou muita gente, principalmente entre o público mais velho que esperava ver uma singela história familiar típica de filmes de final de ano. Seu projeto seguinte na direção foi o já bem comentado antes mesmo da estréia O Palhaço (2011), no qual vive um artista circense que de uma hora para a outra passa por uma crise existencial e questiona seu trabalho.

Entre outros tantos atores que tem sua imagem atrelada ao cinema nacional, como Lázaro Ramos, Claudia Abreu, Paulo Betti, Fernanda Torres e Wagner Moura, Selton Mello está alguns passos a frente de todos eles por já ter domínio de praticamente tudo o que envolve a produção de um filme. Colhendo elogios e prêmios, porém, parece ainda estar longe de se dar bem atuando fora do país, fato que parece não lhe importar ou nem ter interesse. Sua dedicação total é em levar a frente a imagem do cinema verde e amarelo e nem os sedutores convites para voltar as novelas o fazem mudar de idéia. Assim ele continua cheio de planos e convites para trabalhos das telonas, mas sem descartar uma passadinha por algum projeto televisivo de vez em quando, afinal de contas não se pode virar as costas para as platéias que o consagraram primeiro e muito menos cuspir no prato que comeu por tantos anos. Se ele deve boa parte se sua fama à TV, pelo menos tem a honra de dizer que o atual status de nosso cinema tem muito a agradecer a ele, um verdadeiro orgulho para quem aprecia a sétima arte.

4 comentários:

renatocinema disse...

Nota 10.....

Ele mereceu a sua homenagem e você a nota pelo texto.

Vou assistir ao seu novo trabalho como diretor na estreia.

Parabéns novamente.

Thiago Hernandez disse...

Concordo. Selton Mello da orgulho. Sempre que ouço alguém falar que cinema brasileiro é uma merda eu logo penso no Selton Mello e como a pessoa que fala isso não sabe o que diz.

De todos os que mais curti foi ocheiro do ralo. Um filmasso.

Anônimo disse...

Eu não sabia que ele tinha feito dublagem em "Os Goonies" e "Indiana Jones". xD
Mas eu lembro do Kenai "Irmão Urso". Emocionante. :D

"O Auto da Compadecida" foi muito bom, criativo e cômico. Eu ainda assisto toda vez que passa. Personagens inesquecíveis. ^^

Bjs ;)

M. disse...

Selton Mello é sem dúvida um dos maiores talentos da nova geração e nos enche de orgulho. Parabéns pelo texto!

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