Os contos de fadas foram espalhados pelo mundo há mais de um século, ganharam inúmeras edições publicadas e várias versões para o cinema, teatro e TV. Já houve tantas mudanças desde a publicação dos textos originais que hoje em dia ninguém mais sabe dizer quais versões são as mais fiéis, inclusive muitos afirma que os verdadeiros contos têm conteúdo impróprio para os menores. Tais dúvidas acerca das histórias infantis se tornaram uma excelente matéria-prima para as produtoras de filmes do mundo todo que deixam a imaginação rolar solta tentando ser fiéis as obras ou seguindo a linha do escracho. Foi nessa segunda opção que vários desenhos animados nos últimos anos têm investido principalmente a série protagonizada pelo famoso ogro Shrek. Na cola do sucesso do monstrengo verde, muitas outras animações e filmes com atores reais seguiram a risca a fórmula consagrada. Assim, teve uma hora que a própria Disney, o estúdio de cinema que mais enriqueceu às custas das princesas, fadas e bruxas, precisou ceder e se entregar ao deboche. Em 2007, a empresa fez humor rindo de seu próprio acervo de trabalho ou talvez se auto-homenageou dependendo do ponto de vista. Encantada é uma divertida comédia romântica protagonizada por Amy Adams, James Marsden e Patrick Dempsey, respectivamente a princesa Giselle, o príncipe Edward e o advogado Robert, um pai solteiro. Um personagem contemporâneo em meio a uma história que parece ser escrita pelos famosos irmãos Grimm? Sim, os habitantes do fictício mundo de Andalásia caem no mundo real e moderno graças a uma armação da Rainha Narissa, vivida com entusiasmo pela sempre talentosa Susan Sarandon, diga-se de passagem, mais bem apresentável fisicamente no papel de bruxa do que quando está de cara limpa. Completando o time de personagens temos a carismática garotinha Idina Menzel e o fiel escudeiro da rainha interpretado com ingenuidade quase infantil pelo excelente Timothy Spall. Ah, e claro que não falta um bichinho simpático, no caso um esquilo, que é mais inteligente que um humano para arrematar o enredo.
Iniciado em forma de desenho animado super acelerado, com músicas
exageradas e a repentina paixão entre uma bela jovem e o príncipe que culmina
em um casamento relâmpago, o filme começa bem no tom de sátira, mas quando os
personagens começam a invadir a Nova York contemporânea as melhores piadas
ganham espaço. Porém, conforme o andar da carruagem, o humor ganha ares mais
respeitosos e afetuosos, assim a Disney não completou a tarefa de fazer uma
comédia rindo de seus próprios feitos, mas criou uma belíssima obra que
automaticamente se tornou um clássico infantil e uma merecida homenagem ao
passado do estúdio que parecia fadado ao esquecimento após a parceria com a
moderninha Pixar. Também só podia acontecer isso com o tanto de referências as
clássicas histórias que o estúdio levou para as telas de cinema no passado.
Tanto no visual quanto no texto, passando ainda pelas canções, é possível
encontrar em praticamente todos os fotogramas alguma alusão a um título de
sucesso Disney, sendo as principais fontes os contos de Cinderela, Branca de
Neve e a Bela Adormecida. É até difícil escolher uma cena que resuma o espírito,
ou seja, uma marca registrada do longa. Cada sequência é visualmente
encantadora, mas com certeza uma das mais marcantes são as finais que se passam
em um baile de gala. A jovem arrumada para a festa, o truque da maçã envenenada
e a verdadeira face da madrasta do príncipe, uma mistura perfeita do que há de
melhor nos contos de fada. Na cena em destaque vemos o príncipe do mundo real
prestes a dar um beijo de amor em sua princesa adormecida para despertá-la e
arruinar os planos da feiticeira. Porém, a coisa mais poderosa do mundo, o
toque dos lábios de dois verdadeiros apaixonados, não consegue terminar
completamente com a ira de Narissa que na sequência se transforma em um dragão
e convida a frágil Giselle para um duelo. A moça não se esconde do perigo e
enfrenta o tal monstro com muita astúcia . Para se envolver na magia das
últimas emoções deste moderno clássico infantil seriam necessários uns
quinze minutos de vídeo ou mais de uma centena de fotos para capturar o que há
de melhor produzido para o público infantil nos últimos tempos. Se você ainda
não assistiu ou deu vontade de rever, não perca tempo e corra até a locadora
mais próxima e pegue Encantada e
deixe se envolver pela excepcional mistura de nostalgia e ineditismo desta obra
que nos remete aos bons tempos da Disney.
Um comentário:
Encantada me pegou de calça na mão.
Achava que seria uma grande bobagem e fiquei surpreso com o resultado final.
Belo conto de fadas moderno, que respeita o clássico em que se baseou.
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