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segunda-feira, 9 de julho de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - JAMES E O PÊSSEGO GIGANTE

Quando falamos em animação em stop-motion logo nos lembramos dos famosos A Noiva Cadáver e A Fuga das Galinhas e até do sombrio O Estranho Mundo de Jack, mas poucos conhecem James e o Pêssego Gigante (1996), uma bela animação utilizando esta antiga e eficiente técnica que foi lançada pela Walt Disney que já considerava a obra como o novo Toy Story. O filme foi lançado cerca de um ano depois da aventura dos brinquedos e era aguardada com ansiedade pelos executivos da empresa, mas acabaram se decepcionando. Fracasso nas bilheterias, o longa não recuperou sua saúde financeira e prestígio nem mesmo com as vendas de fitas VHS e DVDs. Bem, realmente seria difícil dispensar a atenção com um produto como este quando os desenhos computadorizados com seus personagens cheios de energia e piadas na ponta da língua tomam conta do mercado. Mas sempre é tempo de corrigir as injustiças.

O longa começa e termina como live action, ou seja, com atores em cenas, mas praticamente vemos o tempo uma animação de primeira e bastante colorida, embora muitos considerem a história um tanto triste e perversa para crianças. A trama começa nos apresentando ao pequeno James (Paul Terry), um garoto inglês que sonha em conhecer Nova York. Após ficar órfão, ele acaba indo viver com suas malvadas tias Spiker (Joanna Lumley) e Sponge (Miriam Margolyes). Sua tristeza só é aliviada quando um velho senhor (Pete Postlethwaite) lhe entrega um saco cheio de línguas de crocodilos e algumas delas acabam caindo próximo a uma árvore. Não demora muito e em um dos galhos um pêssego desponta e aos poucos vai adquirindo proporções gigantescas. Enquanto as tias pensam em lucrar com essa novidade, o garoto encontra outro motivo para apreciar o fruto. Ele decide explorar seu interior e então a técnica stop-motion toma conta do filme. James faz amizade com uma centopéia, uma aranha, uma joaninha, um grilo, uma minhoca e um vaga-lume e todos eles o acompanharão na realização de seu sonho: chegar a cidade onde tudo se realiza e que era o último desejo que idealizou junto com os pais.

Baseado no livro homônimo publicado em 1961 por Roald Dahl, o mesmo autor que escreveu a história de Matilda, a trama deste longa foi suavizada para se encaixar no perfil Disney, mas não perdeu o sentido e tampouco o encantamento, mantendo os elementos extraordinários e deliciosos imprescindíveis a qualquer fábula infantil. O uso de pequenas canções intermediando a narrativa e o perfil engraçadinho dos personagens são marcas registradas das produções do estúdio, mas quando estão em cena os atores de verdade a trama perde um pouco de ritmo por causa dos momentos pouco inspirados proporcionados, mas nada que atrapalhe o conjunto, até porque tais sequências duram poucos minutos deixando o brilho e a criatividade de tudo por conta do velho e tradicional stop-motion. A conclusão mistura a realidade com um pouco de animação, deixando ainda no ar o clima fantasioso que acompanhou a obra desde o início.
Não há jeito de comentar este desenho sem tocar no título O Estranho Mundo de Jack, lançado em 1993 e que também utiliza o stop-motion para contar uma história tão fantasiosa quanto a de James. Erroneamente ambas as animações são creditadas ao diretor Tim Burton, mas na verdade ele é o produtor. A direção dos dois longas é de um de seus pupilos, Henry Selick, o mesmo que anos mais tarde realizou Coraline e o Mundo Secreto. A junção destes dois nomes por trás de um filme é um tanto interessante. Um entrou com sua dose de bizarrice usual para ser adicionada ao espírito de clássico infantil que o outro cineasta almejava. O resultado é bem satisfatório. É importante notar que os animais que fazem amizade com o protagonista geralmente são repudiados pelos humanos, mas na história se apresentam tão cativantes que é impossível que alguém na hora se lembre que quando um deles aparece em casa certamente não escapará de uma chinelada. Só por aí já fica evidenciado o que deve ter encantado o diretor e o produtor na história de Dahl. Burton adora destacar os excluídos na vida real e Selick encontrou uma forma diferenciada para apresentar bichinhos em seu trabalho, fugindo dos batidos passarinhos e roedores sorridentes e cantarolantes que a Disney tanto aprecia. Aliás, tanto o filme de James quanto o de Jack são distribuídos pela empresa do Mickey Mouse, assim é um tanta antagônico ver um trabalho com as marcas registradas de um cineasta que tem apreço pela desconstrução de estereótipos figurar em um catálogo repleto de criações clichês e que seguem uma mesma cartilha (até então as coisas funcionavam basicamente assim na Disneylândia cinematográfica).

Com pouco menos de uma hora e meia de duração, James e o Pêssego Gigante é um filme compacto e eficiente no qual parece tudo estar em seu devido lugar e livre de excessos. Mesmo tantos anos após seu lançamento, a histórica continua fascinante assim como seu visual com um colorido tão vibrante e cenários tão marcantes que por vezes deixam no chinelo algumas produções milimetricamente criadas em computador. Para as novas gerações, como dito antes, talvez seja difícil embarcar em tal narrativa por justamente estarem acostumadas a adrenalina, piadas de duplo sentido e aos personagens hiperativos que tanto fascinam crianças e adultos nas animações computadorizadas. Talvez os idealizadores desses desenhos moderninhos devessem olhar um pouco para o passado não só em busca de elementos que possam tirar sarro de contos clássicos ou desenhos antigos, mas também para reaprenderem o que é fantasia. A busca por tanta perfeição nos cenários e personagens acaba tirando o sentido onírico do desenho e sua real função. Se queremos algo perfeito e realista, melhor assistir um live action. O conto de James e seu fruto gigantesco é uma ótima pedida para fugirmos da mesmice e nos servimos de um leque de opções para sonhar. Programa obrigatório principalmente para os pequenos.

Um comentário:

Luís disse...

É um dos poucos que eu tenho alguma vontadezinha de ver.

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