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domingo, 6 de janeiro de 2013

FESTIVAL DE FÉRIAS - A PRINCESA E O SAPO

Desde que Toy Story estreou na temporada de férias de 1995/96 o cinema de animação jamais voltou a ser o mesmo e a Disney que estava colhendo os louros da parceria para a distribuição dos longas da Pixar passou a ver ano após ano as bilheterias de seus desenhos tradicionais não corresponderem as expectativas até que chegou um momento em que o estúdio decidiu abandonar as produções do tipo e apostar somente em tecnologia de ponta. A tendência seria intensificada quando as duas empresas finalmente se uniram para a produção de longas metragens, porém, foi o próprio John Lasseter, o diretor que deu o pontapé inicial na onda de desenhos digitais e com roteiro pra lá de inteligentes, que insistiu para que fosse retomado o setor de animação 2D da casa do Mickey Mouse, assim como a exploração dos contos de fadas. A Princesa e o Sapo (2009) marca esse retorno às origens contando com todos os elementos que consagraram tanto o gênero quanto sua técnica de realização, contudo, o projeto foi recebido com ressalva por crítica e público e as opiniões são bem divididas. Para muitos tal filme representou um retrocesso na trajetória das animações, mas isso é puro preconceito ou ignorância provocada pela atual cultura do imediatismo ou da ostentação da tecnologia.

Em pleno século 21, é curioso que ainda as questões sobre racismo se mantenham tanto em evidência a ponto de gerar na época do lançamento deste desenho muita expectativa a respeito de como seria a primeira princesa negra da Disney, uma escolha não apenas para trazer uma publicidade extra ao projeto, mas também para satisfazer um antigo sonho do estúdio. Todavia, as questões raciais não ficam em primeiro plano vista que a trama se passa na efervescente cidade de Nova Orleans que em plena década de 1920 já apresentava um intenso movimento de mistura de raças, tanto que logo na sequência inicial temos duas garotinhas, uma negra e outra branca, se divertindo juntas ouvindo histórias de princesas.  Uma delas é Tiana, que no futuro se torna uma moça independente, corajosa, atraente, mas que não pensa em se casar. Seu grande sonho na realidade é poder ter seu próprio negócio, um restaurante como seu falecido pai também gostaria de ter tido, porém, mesmo se esforçando em dois empregos para conseguir dinheiro para poder finalmente realizar seu desejo parece que cada vez mais ele está distante de ser concretizado. Suas esperanças renascem quando sua grande amiga de infância, Charlotte LaBouff, a outra garotinha da introdução, a convida para fazer o jantar de uma festa que está organizando para tentar conquistar o amor do príncipe Naveen que acaba de chegar à cidade.

Durante a festa, um imprevisto faz com que Tiana tenha que trocar de roupas e pegar emprestado um dos vestidos de Charlotte. É nesse momento que surge um sapo anunciando ser o príncipe Naveen e pedindo à jovem que lhe conceda um beijo para que o feitiço do ganancioso bruxo conhecido como Dr. Facilier se quebre e assim ele possa recobrar sua condição humana. Inicialmente ela acha a ideia repugnante, mas aceita ao receber a promessa de que ele a recompensaria conseguindo toda a quantia que falta para que ela possa abrir seu restaurante. Porém, o efeito do beijo é desastroso. Além de o príncipe continuar sendo um sapo, Tiana também foi transformada em uma rã. O beijo não deu certo porque a jovem não é uma princesa, foi Naveen que a confundiu por causa dos trajes finos que usava. Agora, para voltarem ao normal, eles partem juntos numa grande aventura em busca de Mama Odie, uma velha feiticeira que pode ter a solução. Nessa trajetória, os dois anfíbios contam com a ajuda do apaixonado vaga-lume Ray e do jacaré-trompetista Louis que sonha em um dia poder tocar com os humanos. Enquanto isso, um serviçal de Facilier toma as formas e as feições do corpo de Naveen para conquistar Charlotte de olho na fortuna que ela herdará de seu milionário pai. Os diretores Ron Clements e John Musker, também coautores do roteiro, criaram uma história com duas boas tramas a serem desenvolvidas paralelamente, mas o excesso de personagens é prejudicial. A tão comentada protagonista negra fica apagadinha diante da animação de sua colega branca (sem trocadilhos com qualquer ideia racista) e para variar o bruxo vodu honra a vaga de vilão e deve fazer parte da lista de tipos mais marcantes dos desenhos Disney.
É bem interessante que apesar de ostentar o título do conto clássico escrito pelos irmãos Grimm, algumas adaptações bem-vindas foram feitas, a começar pela mudança do tradicional beijo dos protagonistas. A sequência que geralmente fecha os contos de fadas aqui funciona como um gancho para dar continuidade à narrativa. Outra coisa que chama a atenção é que propositalmente ou não esta produção está repleta de elementos que nos remetem a outros clássicos Disney. O vilão lembra um pouco tanto fisicamente quanto no caráter o Jafar de Aladdin, o grande inimigo do jovem herói das arábias. Os animais que surgem quando os protagonistas estão no pântano e o próprio lugar em si fazem alusão à Bernardo e Bianca. A minuciosa reconstituição de época lembra a mesma feita para O Corcunda de Notre Dame. Por fim, os traços angulados dos personagens nos lembram aos riscados de Hércules. E claro que não se pode deixar de mencionar a parte musical do longa, outra característica marcantes das obras Disney. Usando como inspiração principalmente o jazz e o blues, a trilha é repleta de canções animadas e bem escritas, um ponto a favor da produção que embora massacrada por muitos não é ruim, todavia também não é totalmente perfeita. O que mais impacta negativamente alguns é que em meio a tantas animações computadorizadas hoje em dia este trabalho fica parecendo um estranho no ninho mesmo carregando todas as características primordiais do gênero.

O público se acostumou com piadas sarcásticas e críticas mesmo em produções que visam o público infantil e assim hoje em dia uma simpática e ingênua história envolvendo uma princesa já não é o bastante para prender a atenção das massas, até mesmo das crianças pequenas que estão cada vez mais influenciáveis e infelizmente já optam por uma bela imagem em detrimento ao conteúdo na hora de definir o que é bom ou ruim. Pode apostar que muitas críticas negativas a este trabalho são provenientes de pessoas que nem chegaram a assisti-lo, simplesmente tiraram conclusões precipitadas fazendo comparações com as animações mais modernas, principalmente as produzidas pela própria Pixar. Será que alguém percebeu que a mocinha da vez não é uma frágil e romântica donzela? Que o príncipe não é valente e também nada romântico, apenas malandro e folgado? Que a amizade de Tiana e Charlotte não tem sequer um resquício de rancor do racismo, sendo uma relação de igual para igual? Realmente, A Princesa e o Sapo não merece o desprezo que sofreu e ainda sofre. Há muitos pontos positivos a serem considerados, o colorido e os traços são de encher os olhos e a trilha sonora é contagiante. Pode não ter um enredo fantástico e nem contar com uma sequência impactante, mas traz em sua essência um irresistível gostinho de nostalgia da infância. Só por isso já vale uma conferida.

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