Dia 25 de dezembro, é Natal, e os
chatos de plantão podem reclamar a vontade, mas não dá para comemorar a data
sem curtir um filminho natalino. Todos sabem o que vamos encontrar neles e
talvez seja justamente a valorização do espírito de união, amor e solidariedade
que todos buscam nesse tipo de produção. Geralmente com roteiros que flertam
com o drama e a comédia, basicamente tais obras lidam com o tema da recuperação
do conceito original desta data festiva e a animação Operação Presente (2011)
não foge à regra, mas basta um pouco de criatividade para dar certo ar de
novidade à produção. Como o Papai Noel entrega tantos presentes em todo o mundo
em uma única noite? Basicamente tentando responder a essa pergunta que milhares
de crianças certamente fazem todos os anos, este desenho traz toques de
modernidade em sua narrativa como uma mega operação de confecção e distribuição
de presentes com o que há de mais moderno e o sempre necessário núcleo familiar
disfuncional desta vez é representado pelos próprios parentes do bom velhinho.
A narrativa nos apresenta à
Arthur, o filho do Papai Noel, este que não é um milenário ancião como muitos
pensam. Ele é o vigésimo homem de uma mesma linhagem a ocupar a vaga ao longo
de mais de mil anos de distribuição de presentes, mas as coisas se complicaram
comparando-se os dias de hoje com os primórdios desta atividade. A população
mundial cresceu de forma descomunal tornando inviável que apenas o clã Noel
consiga fazer a entrega de todos os presentes na madrugada do dia 25 de
dezembro. Assim, hoje o aposentado e rabugento Vovô Noel, a prestativa Mamãe, o
aficionado por tecnologia Steve, apontado como o sucessor do bom velhinho, o
próprio Papai, Malcoln, em seus últimos dias usando a roupa vermelha e ainda o
caçula desajeitado Arthur, além de milhares de elfos, viajam em uma moderna e
potente aeronave e comandam uma estratégica operação para entregar os
brinquedos, praticamente um plano de guerra. Mesmo assim, nem tudo sai
perfeito. Neste Natal, após terminarem as entregas é descoberto que uma menina
que mora em Cornualha, na Inglaterra, não recebeu a bicicleta que pediu e
certamente deixará de acreditar na magia do Natal. Como é mostrado logo na
introdução, hoje em dia com a internet ficou fácil para qualquer um fazer
pesquisas sobre o Pólo Norte e ficar frustrado ao não descobrir nada sobre o
Papai Noel, mas ele, sua família e seus funcionários estão lá e não podem ser
esquecidos, caso contrário toda uma engrenagem será desconstituída e muitos
ficarão desempregados.
Arthur então decide fazer a
entrega deste último brinquedo ele mesmo e de quebra provar que um dia ainda
poderá ser o bom velhinho. Com a ajuda de Vovô Noel e de Bryony, uma elfa
embaladora, ele embarca com toda a coragem do mundo no bom e velho trenó puxado
pelas renas. Em sua estréia como roteirista e diretora, Sarah Smith propõe uma
discussão sobre o antigo versus o moderno. Enquanto Steve acha que pode fazer
um trabalho melhor que o pai investindo em tecnologia de ponta, Arthur
simplesmente opta por manter as tradições, seguindo os conselhos de seu avô que
abomina a modernidade. Criado nas salas do estúdio Aardman, responsável por tesouros
animados como A Fuga das Galinhas e Wallace e Gromit – A Batalha dos Vegetais,
é conflitante a opção que escolheram para o aspecto visual deste longa.
Desenvolvido em computação gráfica e optando pela opção do 3D, o filme “suja” a
imagem de sua empresa que até recentemente era conhecida pelos trabalhos em
stop-motion, aquela técnica de animação de bonecos de massinha. Todavia, esse é
um detalhe levemente decepcionante, pois a inteligência característica do
estúdio na construção de narrativas e visuais e personalidades de personagens
continuam impecáveis.
Com uma narrativa divertida, leve
e bem criativa, a diretora conseguiu reunir todos os elementos necessários para
um típico filme natalino e ainda de quebra inovar adicionando conceitos
tecnológicos propondo assim uma discussão pertinente aos dias atuais ao mesmo
tempo em que esses elementos servem para alimentar o humor da trama. O roteiro,
feito em parceria com Peter Baynham, responsável pelos polêmicos Borat e Brüno protagonizados por Sacha Baron Cohen, além de criticar
levemente a pressão que a tecnologia faz para penetrar na vida de todos
chegando ao ponto de quebrar tradições e tornar certas coisas obsoletas, também
foca nos conflitos familiares, mas de forma diferente do que estamos
acostumados em longas natalinos. Aqui a família Noel não está às voltas com a
ceia ou com os gastos excessivos, mas sim na manutenção do sistema de entrega de presentes como uma
empresa de verdade onde existe hierarquia e as tarefas são divididas de acordo
com as competências dos envolvidos. A busca incessante em mostrar o quão
robótica é a relação desse grupo de moradores do Pólo Norte atrapalha um pouco
o ritmo da narrativa, diluindo demais o humor em detrimento das alfinetadas. Se
temos pontos altos com a alegria e loucura contagiantes do Vovô, por outro lado
falta um vilão para dar gás à história ou podemos interpretar que a modernidade
é a antagonista.
Operação Presente não é
tão inocente quanto antigos desenhos como Rudolph
– A Rena do Nariz Vermelho e tão pouco melancólico e emotivo como O Expresso Polar, mas retrata um pouco
do que se tornou o Natal hoje em dia. O comércio impera e isso fica claro na
adição na narrativa de uma empresa distribuidora de presentes, algo que faz
alusão aos correios que vivem a pressão de milhares de pessoas que desejam que
suas encomendas sejam entregues até a noite do dia 24. Os adultos do longa
parecem contaminados pela tecnologia, como a Mamãe Noel viciada em internet ou
seu filho Steve que manja tudo sobre equipamentos de última geração, mas o
pequeno Arthur e seu avô, este já com certos sinais de demência que o deixam
infantilizado, estão alheios a esse estranho mundo novo e lutam para manter a
tradição em alta. Em suma, além de revitalizar o espírito natalino, a animação
também deixa a mensagem que é preciso ter o equilíbrio entre o novo e o velho
para atingirmos a perfeição. Estamos terminando 2012 e os carros não foram
substituídos por naves espaciais e ninguém vive em apartamentos no estilo da
família Jetsons como o cinema nos vendia a idéia de futuro antigamente. O
antigo e o moderno estão convivendo e assim deve permanecer também na época do
Natal. Ganhe seu vídeo game, seu computador ou seu celular, mas nunca se
esqueça de agradecer e dar um abraço a quem lhe deu, simples gestos que
esquecemos diante do apelo das novidades. Feliz Natal!
Nenhum comentário:
Postar um comentário