Theodor Seuss Geisel, ou simplesmente Dr.
Seuss, era um autor de livros infantis cujas obras até hoje fazem muito sucesso
em países de língua inglesa, mas no Brasil o conhecimento sobre seus trabalhos
é muito limitado. Infelizmente, sua literatura por aqui depende e muito do
cinema para chegar ao grande público, mas ainda assim os resultados deixam a
desejar. O Grinch, O Gato, Horton e o
Mundo dos Quem e agora O Lorax – Em Busca da Trúfula Perdida (2012).
Essa quadrilogia guarda algumas semelhanças como o visual colorido e
personagens com características físicas semelhantes, além é claro de lições de
moral para os pequenos. A dica de hoje na realidade não traz apenas uma
mensagem para crianças, mas também para adultos, afinal é a preservação da
natureza que está em pauta, assim como os perigos da ambição sem limites.
A história adaptada por Ken Daurio e Cinco
Paul se passa na cidade de Sneedville, local onde tudo é feito de plástico. O
jovem Ted está à procura de uma árvore verdadeira para impressionar Audrey, sua
vizinha por quem está apaixonado. Nesta busca, ele acaba saindo dos limites da
cidade e vai falar com Once-ler, um empresário ganancioso que está desmatando
as áreas ocupadas pelas trúfulas, exóticas árvores com pelos no lugar de
folhas. Ele conta ao garoto também sobre o Lorax, uma criatura encarregada de
proteger a natureza, mas que só pode aconselhar a respeito dos danos que o
progresso sem limites pode acarretar. Ted então passa a lutar pelos direitos da
natureza e deseja encontrar a última trúfula viva, porém, seus propósitos vão
contra os interesses de Mr. O’Hare, um milionário que lucra vendendo ar puro a
preços exorbitantes. Quanto menos plantas existirem, mais poluído o ar ficará,
assim obrigando a população a comprar um bem que deveria ser comum e gratuito a
todos.
Os diretores Chris Renaud e Kyle Balda, do
badalado Meu Malvado Favorito,
tomaram algumas liberdades quanto ao texto original, mas as mudanças só vieram
a somar positivamente ao produto final, como a ideia da cidade murada, uma
forma de amplificar a sensação de artificialidade do mundo. Apesar da aparente
inocência do roteiro e do colorido excessivo propositalmente atingido com as
mais modernas técnicas de animação via computação gráfica, temos aqui uma
mensagem muito séria a ser passada. Claro que o grande chamariz da produção é o
Lorax, um ser peludinho, laranja e de olhos esbugalhados que dá nome ao longa,
mas seu encanto não deve desaparecer logo que apareça. Aliás, ele surge pela
primeira vez em uma importante sequência. Quando uma trúfula está sendo
cortada, ele aparece de repente do toco que restou trazendo através de palavras
e ações alertas sobre o que aquele simples ato poderia ocasionar, mas Once-ler
não dá atenção é só pensa em continuar derrubando árvores para poder produzir
bens de consumo com a matéria-prima.
Apesar da defesa da natureza ser o assunto
principal, a narrativa não é monótona. Ela é conduzida com simpatia, humor e
diverte. Os roteiristas foram habilidosos ao adaptar os versos escritos pelo
Dr. Seuss em diálogos de fácil assimilação e bons números musicais, este o
calcanhar de Aquiles de muito desenho. O que certamente atrapalhou a produção em
encontrar seu público foi seu caráter de diversão infantil assumido sem
receios. Não existe realmente a preocupação em agradar adultos com piadas
ácidas, malícia ou citações a filmes ou assuntos contemporâneos como é o caso
da franquia Shrek. Se o roteiro pode
deixar a desejar para os mais crescidinhos, o encanto visual está garantido
através de imagens que deixam explícito o cuidado com texturas, algo que
algumas produções computadorizadas deslizam deixando o resultado final um tanto
artificial. Bem, não que aqui a artificialidade não esteja presente, afinal ela
faz parte do enredo. Os plásticos parecem críveis, assim como o que deve ser
coberto com pelos nos dá a sensação de maciez ao toque.
Apesar de não ser muito longo e nem se
aprofundar em suas discussões a respeito do futuro incerto, O
Lorax – Em Busca da Trúfula Perdida consegue plantar uma sementinha de
conscientização em seu público-alvo. Mesmo com todo o visual lúdico que ocupa o
espaço do tradicional verdinho das vegetações, o recado é bem dado aos pequenos
e provavelmente caberá a eles transmitir aos pais e familiares a mensagem
explícita do longa. Infelizmente para muitos adultos esta produção não é nada
mais que um passatempo rápido protagonizado por um bichinho fofinho que eles
certamente comprariam em uma loja de brinquedos para alegrar os filhos e alguns
anos depois descartariam como qualquer porcaria. Assista e aplique os
ensinamentos do longa nas pequenas coisas do seu dia-a-dia. Tenha certeza que
algumas mudanças de comportamento hoje farão diferença no futuro.
Nenhum comentário:
Postar um comentário