Hoje é véspera de Natal, dia de muita correria e compras de
última hora, em outras palavras, dia de muito estresse, mas a noite vem a
calmaria e as alegrias e emoções devem predominar. No Brasil não temos o mesmo
fanatismo que os americanos têm com esta festa cristã, mas ainda assim muitas
pessoas vivem o clima natalino intensamente meses antes. Para elas todas
aquelas enxurradas de reprises de comédias e dramas típicos de fim de ano na
televisão são uma dádiva. Para quem ainda sente apreço pela comemoração, mas
todo o ano promete que da próxima vez vai fazer algo diferente entre os dias 24
e 25 de dezembro, certamente se identificará com o casal protagonista de Um
Natal Muito, Muito Louco (2003), longa que já pode ser considerado um clássico
natalino tal qual Férias Frustradas de Natal, figurinha carimbada na TV
praticamente todos os anos ao longo de quase três décadas. Ambos tratam do
respeito e cultivo das tradições e do espírito de solidariedade e de família
unida, mas claro que tudo temperado com muito humor.
Luther (Tim Allen) é o patriarca dos Kranks, uma família que
sempre preservou as tradições natalinas e dividia as alegrias da data com
amigos e vizinhos, até que por um ano apenas decidiram esquecer o Natal e
partir para um cruzeiro. Como a filha Blair (Julie Gonzalo) está realizando
trabalhos voluntários no Peru, Nora (Jamie Lee Curtis) e o marido decidem
viajar para terras ensolaradas e não pensam sequer em enfeitar a casa, o que
acaba despertando a ira dos vizinhos que correm o risco de perder um concurso
de decoração de ruas por causa desse capricho. Começa então uma verdadeira
batalha para os Kranks conseguirem planejar a tão sonhada viagem sem a interferência
de terceiros, estes que não dão folga, principalmente por causa das
intervenções de Vic Frohmeyer (Dan Aykroyd), um dos vizinhos mais xeretas.
Porém, alguém nos céus não quer permitir que o espírito do feriado seja
esquecido e um dia antes da véspera de Natal Blair avisa a família que voltará
para a ceia trazendo a tira-colo o novo namorado para participar dos famosos
festejos natalinos dos Kranks. Agora Nora e Luther têm menos de 24 horas para
organizar uma festa com tudo que há de mais tradicional e para isso recorrem
aos vizinhos que eles tanto hostilizaram até então.
A lição que tiramos do longa é das mais explícitas
possíveis. Só para reforçá-la ainda temos um casal de idosos passando por um
período difícil e que abrandará o coração do homem que ousou mandar as favas o
bom velhinho e tudo mais. Sobra ainda espaço, embora bem pequeno no início da
trama, para questionar que essa festa ganhou contornos muito mais comerciais
que qualquer coisa, justamente o que desencadeia a decepção do casal protagonista
que decide deixar seu boneco gelinho (nosso popular boneco-de-neve) escondido
no porão. Em rápidas aparições, vemos quantas pessoas contavam com o
dinheirinho dos kranks em troca de cartões ou biscoitos, por exemplo. É
curioso, mas em meio ao corre-corre das compras e dos festejos que os
brasileiros tanto gostam não chamam atenção produções do tipo em nossos
cinemas. Pode ser o fato da ambientação contrária a nossa, branquinha e fria
pela neve, a repetição de situações cômicas ou a mensagem clichê de esperança e
amor que deixam no final, mas é certo que dá para contar com os dedos de uma
mão os títulos que trabalham o tema e que escapam do crivo do público e crítica
sem serem extremamente chamuscados. Por outro lado, para os produtores
americanos os batidos filmes de Natal podem significar a salvação da lavoura
quando o ano não rendeu boas bilheterias, por isso eles ainda continuam sendo
feitos anualmente. Embriagados pelos sininhos e luzes dos pisca-piscas os
espectadores não resistem.
O roteiro de Chris Columbus, responsável pelo clássico
natalino das sessões da tarde Esqueceram de Mim e sua primeira continuação, é
muito simples e até pode ser uma reciclagem de piadas, mas ainda assim funciona
muito bem pelo fato de que a correria do fim de ano está presente ativamente na
vida de qualquer pessoa e a identificação com o drama dos protagonistas é
imediata, embora o humor pastelão possa ser um empecilho para alguns. Chama a
atenção que o argumento é extraído de uma obra de John Grisham, o mesmo autor de
obras sérias como O Dossiê Pelicano e O Júri. Nas mãos de um especialista em
tramas ingênuas, o texto cresceu e tornou-se uma divertida crítica ao que é o
Natal atualmente. A direção ficou por conta de Joe Roth, que já havia experimentado
timidamente o clima natalino quando produziu O Sorriso de Mona Lisa. Aqui ele
conseguiu imprimir um delicioso ritmo narrativo e ótimas piadas como a história
de um bronzeamento artificial equivocado e a disputa acirrada por uma peça de
presunto em um supermercado. O humor visual é dos melhores, ainda que Allen não
tenha seu talento cômico reconhecido como merecia. Sem fazer caretas e
estripulias a la Jim Carrey, ele consegue fazer rir e faz uma dupla excepcional
com sua parceira de cena. Aparentemente ambos tiveram liberdade para
improvisar, o que torna as situações ainda mais divertidas e próximas do real.
Provável que muita gente sem nem mesmo ter assistido já
tenha tirado suas próprias conclusões negativas a respeito de Um Natal Muito,
Muito Louco a começar pelo título digno de telefilmes, mas não se engane pelas
aparências. Esta é uma comédia bem divertida e que satiriza o comportamento dos
americanos de classe média e que serve até para o brasileiro rir de si próprio.
É quase impossível não reconhecer no longa alguma situação que nós mesmos ou
conhecidos viveram por conta de alguma gafe própria ou de algum parente, seja
antes ou na hora da festa. Entre no espírito do longa e da época para a qual
ele foi feito para descobrir suas qualidades. Reclamem o quanto quiser, mas é
certo que o Natal perderia boa parte de seu encanto caso produções do tipo
fossem extintas. Na pior das hipóteses, elas fazem companhia para aqueles que
não podem festejar ao lado dos familiares ou amigos e deixam no ar a mensagem
que o maior presente que alguém pode receber é um sincero feliz Natal, mesmo
que ele seja dito por um ator que não faz a menor idéia de que você existe.
Um comentário:
Esse é das antigas! rsrsrs
Feliz Natal!
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http://algunsfilmes.blogspot.com.br/
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