Após muitos
anos protagonizando comédias fraquinhas, Sandra Bullock voltou a ganhar os
holofotes há alguns anos estampando a publicidade de três longas que estrearam
em datas muito próximas. Ganhou o Oscar de Melhor Atriz por Um Sonho Possível, um dia antes foi
eleita no Framboesa de Ouro a pior intérprete por Maluca Paixão e, por fim, fez as pazes com as bilheterias com A
Proposta (2009), comédia romântica que não traz inovação alguma e
talvez por isso mesmo seja perfeita. Quando a receita é boa, não importa
quantas vezes ela seja repetida, mas é preciso tomar cuidado para não errar na
seleção dos ingredientes. A diretora Anne Fletcher, de Vestida Para Casar, não nega a previsibilidade da premissa do
longa, mas consegue suavizar isso com um roteiro bem trabalhado, uma edição
caprichada, um elenco de coadjuvantes excepcionais e, principalmente, um casal
de protagonistas em perfeita sintonia, embora inicialmente possa causar certa
estranheza pelo fato do mocinho da fita, Ryan Reynolds, parecer muito mais
jovem que sua companheira, uma impressão que temos provavelmente por causa do
tempo de carreira de cada um.
Sandra
interpreta Margaret Tate, a pretensiosa e mandona executiva de uma editora de livros
que não faz a menor cerimônia para pisotear seus subordinados. Andrew Paxton
(Reynolds) é seu assistente há anos e perdeu o direito a ter um tempo só seu.
Ele vive atendendo aos pedidos da chefe, desde os mais simples até os mais
insanos, sem receber um único agradecimento, mas aguenta o sufoco sonhando que
um dia poderá realizar seu maior sonho: ter um livro publicado. Todavia os dias
de manda-chuva de Margaret estão contados. Por ser canadense ela vive nos EUA
como imigrante e depende do visto para permanecer no país e isto lhe é negado e
em breve ela será deportada. A única maneira de se ver livre de uma vez por
toda da fiscalização do governo é estar casada com um cidadão americano. Assim,
ela obriga Andrew a fingir um relacionamento amoroso com ela por alguns meses e
imediatamente terão que conviver por um final de semana para conhecerem mais um
do outro e conseguirem passar no teste obrigatório da imigração. O rapaz então
propõe uma viagem até sua cidade natal, no Alasca, onde sua família está toda
reunida para a comemoração dos 90 anos de sua avó, a espevitada Annie (Betty
White), mas pede uma promoção e a publicação de seu livro como recompensas.
A primeira
parte do longa lembra um pouco a premissa de O Diabo Veste Prada. As cenas são rápidas, as piadas e gags são
fartas e seguem a mesma linha do que Meryl Streep fazia com sua personagem.
Margaret trava diálogos irônicos e humilha descaradamente Andrew. Mesmo quando
forja cenas de amor no escritório, a durona executiva não desce do salto, mas
essa é a chance de seu subordinado se vingar. Antes sempre cabisbaixo, agora
ele está com a faca e o queijo na mão para se vingar dos maus tratos, mas ainda
assim ele pega leve com sua suposta noiva.
As coisas complicam mesmo quando eles chegam ao Alasca, pois a imigração
não dá colher de chá e o agente Gilbertson (Denis O’Hare) está na cola do casal
para comprovar a veracidade da relação. Sendo assim, o clã dos Paxtons fica em
êxtase, pois acreditam que Andrew vai se casar realmente e Margaret se vê em
meio a situações que jamais imaginou viver, momento em que brilha o elenco
coadjuvante composto por nomes como Craig T. Nelson e Mary Steenburgen, como os
pais do noivo, e de Malin Akerman como sua ex-namorada. O ódio existente entre
Margaret e Andrew acaba sendo amenizado neste convívio forçado, o que os levam
a questionar se devem levar a farsa adiante ou contar toda a verdade para não
iludir a família do rapaz.
Esperar
originalidade e surpresas de um roteiro de comédia romântica é buscar a
decepção com toda a certeza. Seguindo perfeitamente as regras básicas do
gênero, a narrativa do estreante Pete Chiarelli guarda também semelhanças com
outros títulos além do já citado acerca do mundo da moda. O gancho do enredo é
uma referência óbvia ao antigo romance Green
Card – Passaporte Para o Amor em que um homem e uma mulher precisam
conhecer o máximo possível um do outro em pouco tempo para passar no teste da
imigração. Conhecer a família do cônjuge e se acostumar com os costumes e
bizarrices de seus parentes também é o ponto-chave de humor de Entrando Numa Fria e Eu, Meu Irmão e Nossa Namorada, todos
com a tradicional rusga do casal poucos minutos antes do final para que
finalmente caia a ficha de que eles foram feitos um para o outro, além do
contraste entre os representantes da cidade grande e os de regiões mais
interioranas se fazer presente. Todavia, não podemos acusar o roteirista de
plagiador, afinal as situações que ele criou, ou melhor, recriou para o longa
são corriqueiras em produções do tipo e necessárias para fisgar o espectador
desse tipo de produção. Os tipos comuns e as situações repetitivas fazem parte
da diversão.
Ainda que
alguns apontem a relação de Margaret e Andrew como algo nada crível, é
necessário destacar o esforço de seus intérpretes em não entregar os pontos
rapidamente. Eles tentam reprimir o carinho que seus personagens passam a
nutrir um pelo outro o máximo de tempo possível, deixando o ódio existente
primeiramente ser expresso através de diálogos e expressões faciais
sarcásticas. Partindo da idéia de que os opostos se atraem, A
Proposta é diversão garantida e só não deve agradar aos mais críticos,
estes que nem deveriam se atrever a assistir comédias românticas, pois já sabem
o que vão encontrar. Mesmo com subtramas desnecessárias, outras mal
desenvolvidas e pouco mel na relação dos protagonistas, vale ressaltar como
ponto positivo o descarte de cenas vexatórias, escatológicas ou de apelo sexual
exagerado tão comuns em Hollywood. Ok, tem uma alusão a nudez de Sandra Bullock
e uma brincadeira com o tamanho pequeno dos seus peitos, mas nada de mais. Ah,
e a divertida veterana Betty White é a cereja do bolo capaz de mexer com o
humor de qualquer sisudo de plantão. Uma dica para se divertir sem culpa
nenhuma.
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