Estamos chegando perto do Natal e
certamente muitas pessoas estão com uma sensação de tristeza em meio a euforia
de compras para ceia e presentes. É hora de lembrar dos bons e maus momentos,
dos familiares e amigos que estão longe ou que já são falecidos e muitas dessas
recordações podem ser proporcionadas revendo um simples filme. Passados quase
quinze anos desde seu lançamento, Lado a Lado (1998) é um título que ainda
cai muito bem para esta época do ano. Além de uma bela história sobre família e
solidariedade, o longa tem certa melancolia que combina com o espírito das
comemorações de fim de ano. Perdoar é uma das mais importantes e difíceis
tarefas que o ser humano tem e um dos temas mais comentados do período ao lado
do aprendizado de viver com seus semelhantes em harmonia. É justamente esses
dois itens que conduzem o drama recomendado para o dia de hoje.
A trama gira em torno da rivalidade
existente entre Jackie (Susan Sarandon) e Isabel (Julia Roberts). A primeira é
a ex-esposa de Luke (Ed Harris), com quem teve dois filhos, Anna (Jena Malone)
e Ben (Liam Aiken). Já a segunda é a atual namorada deste chefe de família que
se encontra em uma complicada situação. Mantém uma relação amigável com a
antiga mulher, mas esta não tolera a sua nova companheira e não perde a chance
de criticá-la e envenenar a relação. O filho caçula até aceita a nova união do
pai, mas sua irmã é uma adolescente que se revolta, pois ainda deseja a
reconciliação dos pais. Luke por sua vez tenta de tudo para que sua namorada
seja aceita por todos. Entre discussões e fofocas, a trégua entre Jackie e
Isabel acaba por acontecer de uma maneira inesperada. A mãe das crianças revela
que está com câncer e agora precisa aceitar que sua então inimiga mais cedo ou
mais tarde tomará conta de Anna e Ben. Só que até as duas entrarem em um acordo
muita coisa pode acontecer.
Duas das maiores estrelas dos últimos
tempos do cinemão americano juntas em um mesmo filme só pode significar duas
coisas: um belo duelo de interpretações em cena e muita fofoca de bastidores a
respeito da guerra de egos. Contrariando as expectativas, Susan e Julia se
deram tão bem nos bastidores que tal cumplicidade passou para as telas. Elas
são enérgicas nos momentos de raiva de suas personagens e transbordam emoção
quando são forçadas a se unir em prol de um bem maior. Contar que depois de
muitas brigas elas ao menos passam a ser tolerantes uma com a outra não é
estragar a surpresa de ver este drama, pelo contrário. O segredo do sucesso
está na delicadeza com que o diretor Chris Columbus trabalha as situações do
enredo que por mais clichês que sejam não deixam de ser tocantes.
Temos aqui as diversas tentativas de Isabel
em conquistar a confiança e o amor de seus enteados, situações quase sempre
falhas. A frustração dela que ainda não tem a maturidade necessária para passar
por cima das decepções. Jackie por outro lado usa sua experiência de vida para
fazer jogo duplo, sem levar a coisa para o lado da vilania. Ainda se mantém
dócil e compreensível na presença do ex-marido, mas é um tanto ardilosa quando
precisa se dirigir à rival, o que demonstra que ainda não superou o fim de seu
casamento. Como água mole em pedra dura tanto bate até que fura, é óbvio que
Isabel conseguirá amolecer o coração de Ben e Anna através de situações típicas
de mãe e filhos, para o desespero de Jackie que tem que lidar com a agonia de
que realmente tais cenas serão rotineiras em um futuro próximo. O filme é
desenvolvido em cima da previsibilidade, mas encontra na sinceridade de suas
intérpretes o seu diferencial. Raramente o cinema oferece espaço para dois bons
papéis femininos e aqui em nenhum momento uma ou outra é rascunhada como vilã
ou coitadinha. Ambas são mulheres comuns em busca da felicidade e que vivem os
bons e os maus momentos da vida, erram e acertam. Aos trancos e barrancos elas
podem se entender, porém, não deixando no ar a sensação de felizes para sempre,
mas sim a entender que houve a conformidade, o que confere a obra um realismo
ausente na maioria dos dramas feitos para emocionar principalmente as platéias
femininas.
Columbus, especialista em obras para mexer
com as emoções dos espectadores mesmo quando investindo no humor, como nos
primeiros filmes Esqueceram de Mim e Uma Babá Quase Perfeita, mais uma vez
acerta ao realizar um trabalho simples e eficiente. Não inova nas filmagens, na
edição e tampouco reserva ao desenvolvimento do enredo momentos majestosos,
porém, consegue imprimir em sua obra um sentimentalismo único e tocante. O
segredo é ser despretensioso. O diretor afirmou que realizou o projeto com o
objetivo de homenagear sua mãe e esse carinho existente nessa relação era tão
forte que não é a toa que a maioria das matriarcas ficam encantadas com Lado
a Lado. Pode parecer um filme bobinho e sem importância, mas talvez só
coração de mãe mesmo para compreender o conteúdo desta produção que acabou
colhendo sem querer elogios da crítica e chegou a ser apontado como aposta para
o Oscar. A Academia infelizmente não conferiu indicação alguma, mas o público
tratou de dar o reconhecimento máximo e merecido à obra. Clássico moderno? Pode
não chegar a tanto, mas certamente está guardado com carinho na memória e nos
corações de quem assistiu.
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