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sábado, 8 de dezembro de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - PLANETA DOS MACACOS - A ORIGEM

Ter a ideia de refilmar ou até mesmo reimaginar um filme clássico é uma tarefa um tanto audaciosa, pois são muitos os riscos da obra sofrer rejeição do público e crítica ou até mesmo arruinar a imagem de um produto idolatrado. Tim Burton há alguns anos arriscou-se a dar a sua visão de Planeta dos Macacos, misto de aventura e ficção lançado na década de 1960 que ultrapassou as barreiras do cinema escapista e levantou discussões pertinentes a respeito do ser humano versus civilidade através da inversão de papéis. Se o homem realmente representa a evolução dos símios, nada mais original naquela época em que tal teoria ainda era intensamente pesquisada do que colocar os macacos em um patamar de inteligência acima dos humanos e estes ocupando as vagas de animais adestrados na sociedade. O remake de 2001 fez sucesso, é bem feitinho, mas nem a legião de fãs de Burton conseguiu salvá-lo de sair chamuscado pelas críticas negativas. Muitas discussões surgiram nos anos seguintes e chegou-se a seguinte conclusão: a obra original de Franklin J. Schaffner é intocável. O que esperar então de uma produção intitulada Planeta dos Macacos – A Origem (2011)? O título pode soar como tremendo caça-níquel de quinta categoria, mas você certamente deve se surpreender com o que vai assistir.
 
Aparentemente o projeto de novamente explorar o conflito macaco versus homem pode dar a ideia de algo oportunista, mas o cineasta Rupert Wyatt conseguiu injetar frescor, adrenalina e inteligência a um enredo um tanto crível. O roteiro de Rick Jaffa e Amanda Silver aborda um tema que já havia sido trabalhado na trilogia original seiscentista, mais especificamente em Fuga do Planeta dos Macacos. Will Rodman (James Franco) é um cientista que trabalha em um laboratório onde são realizadas experiências com macacos. Seu objetivo é descobrir novos medicamentos para a cura do mal de Alzheimer, doença que acomete seu pai Charles (John Lithgow). Quando uma das cobaias escapa e provoca vários estragos, a pesquisa é cancelada, mas o jovem não desiste e passa a fazer suas experiências em sua casa, testando os medicamentos no pai e em um filhote de símio que ele trouxe do laboratório. César, como foi batizado o macaquinho, demonstra ter uma inteligência anormal, resultado das substâncias que recebeu geneticamente da própria mãe que também foi submetida a testes durante a gestação. Com o tempo, o medicamento passa a não surtir mais efeito em Charles e na tentativa de defendê-lo César ataca um vizinho e é capturado. Passando a ter contato com outros de sua espécie também mantidos em cativeiro, César, agora já adulto, passa a demonstrar revolta e comportamento agressivo.

A obra original causou grande impacto ao propor algo inimaginável. Na época estava na moda mostrar alienígenas no cinema com o intuito de dominar a raça humana. O que era pura ficção ganhou ares de algo mais próximo da realidade ao passar o conflito para as mãos, ou melhor, para as patas dos macacos. A versão de 2011, que declaradamente não é uma refilmagem, ainda mantém em destaque o tema dominação, mas agora é o homem que está na posição de dominador querendo mandar em uma espécie que julga ser fraca intelectualmente. Grande engano. Os macacos de laboratório imaginados para este novo milênio são espertos e dotados de sentimentos que variam dos dóceis aos ruidosos. Embora apresentem comportamento e características próximas dos humanos, inclusive movimentos corporais e faciais, a macacada é mantida praticamente com a coleira no pescoço e isso eles não toleram. Quando César é aprisionado junto a outros de sua espécie, ele é submetido a maus-tratos que mexem com seu emocional, um contraponto ao tratamento que tinha até então com Rodman. Assim, o longa também aborda críticas ao modo de se fazer ciência colocando em xeque o tratamento dispensado às cobaias, afinal são seres vivos que merecem o mínimo de respeito e direitos que um ser humano.
O longa acaba sendo dividido em duas partes, propositalmente ou não. A primeira parte em nada faz referência ao tal planeta dominado pelos símios. É o mundo humano que está presente, a selva é de pedra e os animais estão devidamente alojados em zoológicos, cativeiros e laboratórios, embora os humanos não deixem de viver enjaulados e de certa forma solitários mesmo não estando sozinhos. É nessa parte que o elenco tem a oportunidade de mostrar sua competência, desde estrelas em fase de pré-ascensão como Tom Felton e Freida Pinto, até nomes consagrados como John Lithgow. A segunda parte já passa a ser dominada pela macacada, pelas sequências de adrenalina e pelos efeitos especiais de primeira. Se nos outros filmes da série, inclusive na versão de Burton, era nítido que o que víamos eram atores travestidos de símios, aqui o diretor não poupou esforços e dinheiro para obter o resultado mais próximo da realidade. Ficamos na dúvida se o que temos em cena são atores ou macacos reais. Bem, pelo menos um deles é um homem real e com um extenso currículo no cinema, mas cuja imagem poucos sabem qual é. O ator Andy Serkis emprestou suas feições e expressões e através da técnica de captura de movimento foi criado César. Da mesma forma o intérprete deu vida ao Gollum da trilogia O Senhor dos Anéis.

Planeta dos Macacos – A Origem é a síntese do que Hollywood sempre buscou: unir entretenimento de qualidade com intelectualidade, algo difícil hoje em dia. Embora disfarçados em meio a cenas de ação e brilhantes efeitos visuais, existem pontos deste roteiro bastante pertinentes para suscitar discussões e reflexões. Se para alguns o longa só vale a pena quando o final se aproxima, momento em que a revolta da macacada se concretiza, para outros existe muito conteúdo no restante do filme a ser apreciado. Wyatt não se deixou deslumbrar pelo que a tecnologia poderia lhe oferecer para criar um produto de ação do início ao fim e deixou que o enredo ficasse em primeiro plano, preferindo assim detalhar os trabalhos dos cientistas e os laços afetivos criados entre César, Will e Charles. Ao subirem os créditos finais é praticamente impossível esquecermos esta obra. Pensamos como será o futuro, a respeito de como a ciência avança a passos largos, nos indagamos sobre questões éticas e morais, para onde a sociedade está caminhando. No fundo a revolta dos símios não deve ser interpretada como um motim para dizimar ou escravizar a humanidade, mas sim como um grito de liberdade, o mesmo grito que tantas minorias no mundo todo desejam um dia poder dar em alto e bom som contra a ditadura do poder e do dinheiro que se sobrepõe à inteligência e a emoção.

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