Com o
dinheirinho extra e as gratificações que as pessoas recebem no final do ano,
dezembro cada vez mais fica conhecido como o mês das noivas. Embora muitos
casais apenas se casem no civil ou simplesmente juntam os trapinhos sem
festejos, ainda há muitas pessoas que sonham com uma festa deslumbrante,
principalmente as mulheres. A obsessão pelo casamento perfeito é um tema
constante para as comédias românticas americanas, assim muitas delas não passam
de um filminho bacana para matar uma tarde livre, porém, Missão Madrinha de Casamento (2011)
surgiu como uma exceção. Sucesso indiscutível em terras ianques, conquistando
inclusive duas indicações ao Oscar, o longa na realidade é mais uma comédia
eficiente como passatempo e só. Talvez o burburinho que gerou seja pelo fato das
mulheres balzaquianas serem as estrelas desta fita cuja produção ficou a cargo
de Judd Apatow, responsável pela direção e enredo de O Virgem de 40 Anos e Ligeiramente
Grávidos. Desta vez ele apostou nos dilemas femininos em torno das
perspectivas para o futuro ao invés dos dramas cômicos vividos por homens que
se esqueceram de crescer e passam o tempo todo pensando em sexo, bebidas e
drogas. Mudança de ares bem-vinda para o currículo de Apatow.
Com
estética e diálogos perfeitos para agradar fãs de Sex and the City e tantos outros filmes em que as mulheres são o
centro das atenções, a trama gira em torno dos preparativos do casório de
Lilian (Maya Rudoplh) que convida Annie (Kristen Wiig), sua melhor amiga, para
ser uma de suas madrinhas. O problema é que esta convidada de honra está enfrentando
problemas pessoais e profissionais que a tiram do sério e a fazem se sentir
inferior e infeliz, mas mesmo assim ela quer se dedicar ao máximo para fazer o
melhor casamento possível para sua amiga, ainda que sentindo uma pontinha de
inveja da felicidade da noiva. Muito atrapalhada para organizar listas de
presentes, escolher vestidos, fazer o chá de cozinha entre outras obrigações de
uma boa madrinha, uma tradição americana, Annie ainda terá que enfrentar uma
rival. Entre outras convidadas a ocupar a função de estar ao lado da noiva até
o último minuto da festa, Helen (Rose Byrne) também está disposta a ser a
melhor amiga de Lilian, assim como ocupar o posto de exímia organizadora de
eventos matrimoniais. A rivalidade entre as duas começa instantaneamente na
hora em que são apresentadas.
Logo nos
primeiros minutos do filme já sentimos que não estamos diante de uma comédia
romântica tradicional. Seguindo as tendências que o próprio Apatow criou, já na
introdução somos apresentados ao cotidiano e perfil pouco convencional de
Annie. Ela quebra os padrões tão comuns às mocinhas do gênero. Namoradeira,
desbocada e briguenta, esta madrinha tem um perfil bem oposto ao da noiva a
quem ela não desdenha, mas percebe-se que adoraria viver uma vida como a da amiga
e ser o mínimo parecida com o jeito de ser dela. Não seria errado dizer que são
nas demonstrações de invejas que encontramos o humor do longa. Se os homens
resolvem seus problemas na base da porrada e xingos, as garotas no caso
preferem usar sinais discretos e trabalhar com entonações dóceis de suas vozes
para alfinetar umas as outras. Isso até que a paciência esgota e é inevitável
colocar para fora em alto e bom som tudo aquilo que as aflige. Por exemplo, Annie
explodindo de raiva durante o chá de panela de Lilian compõe uma das cenas mais
divertidas.
Kristen
Wiig, além de roubar a cena, é também a responsável pelo elogiado roteiro
escrito em parceria com Annie Mumolo. Muitos não encontram razões para o
tamanho do sucesso desta produção, que no final das contas é uma comédia
romântica acima da média, mas nada de outro mundo. É provável que a palavra que
explique tal êxito seja ousadia. Ninguém melhor que duas mulheres no comando da
narrativa para revelar a perversidade feminina ao invés da doçura e ingenuidade
tão comuns às moças que sonham com o casamento. Até aí tudo bem, mas a mão
pesada de Apatow dando suporte à produção ajuda a exagerar na desconstrução das
donzelas apostando em algumas piadas de mau gosto, tendo como principal expoente
a atriz Melissa McCarthy com sua personagem Megan. Não há como ver a roliça
madrinha e não se lembrar dos prolixos personagens de Zach Galifianakis, um dos
pés de coelho de Apatow. Megan protagoniza cenas e piadas grosseiras, mas não
chega a bater o número de sequências do tipo vividas por Annie. Outra ressalva
ao roteiro fica por conta da apática participação das demais madrinhas na
narrativa. Rita (Wendi McLendon Covey) e Becca (Ellie Kemper) fazem figurações
de luxo praticamente.
Se no
passado muitas comédias apostavam em escatologia, grosserias, piadas de duplo
sentido, humilhações e afins para conquistar o público adolescente, hoje estes
mesmos elementos estão a serviço do gênero, mas de olho no pessoal que já
passou dos trinta anos. Outra diferença é que atualmente o humor escrachado vem
acompanhado de mensagens edificantes. Após as longas duas horas de duração de Missão
Madrinha de Casamento (este exagero trabalha contra a obra por esticar
além da conta certas cenas), sabemos que tudo acabará bem e é até possível
pensar um pouco mais sobre os caminhos que traçamos para nossas vidas, mas nada
muito profundo. No fundo, o grande mérito deste trabalho dirigido por Paul
Feig, de Menores Desacompanhados, é
transpor as temáticas comuns às comédias masculinas para o universo masculino.
É curioso, porém, o tanto de críticas negativas que o longa recebeu e ainda
recebe no Brasil. O lado positivo disso é que parece que nós brasileiros
aprendemos a ter opinião própria. Quase unanimemente esta produção é classificada
como um passatempo dos bons, mas nada além disso contrariando a imagem vendida
pela publicidade americana que tratou o filme como a cereja do bolo. De
qualquer forma uma boa opção para um domingo a tarde.
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