21 de dezembro de 2012. Esta é uma data que nos últimos tempos
assombrou muita gente. Bem, se você estiver lendo esta crítica no dia 22, pode
estourar o champanhe e comemorar: você sobreviveu à profecia apocalíptica maia.
Séculos atrás este lendário povo deixou escrito o calendário de milhares de
anos à frente, mas os escritos acabam justamente na data mencionada. Desde
então astrólogos, religiosos, sensitivos, cientistas, geólogos, autoridades e
pessoas de muitas outras áreas passaram a estudar o que isso poderia significar
e muitos concluíram que esse seria o dia da extinção da humanidade através de
eventos que alterariam drasticamente clima, relevo, direção dos ventos, força
das águas entre outras coisas relacionadas à fúria da natureza. Baseando-se
nesta impactante crença, muitos produtores trataram de explorar o tema, mas a
grande produção batizada óbvia e simplesmente de 2012 (2009) foi criada
pelo diretor Roland Emmerich. Ninguém melhor que ele que já convocou
extraterrestres para acabar com os EUA (Independence
Day), trouxe um mega lagarto de terras orientais para arrasar territórios
ocidentais (Godzilla) e que mostrou a
revolta da natureza contra os maus-tratos que recebe dos humanos (O Dia Depois de Amanhã) para se
encarregar de dar o ultimato à população da terra.
A trama roteirizada por Harald Kloser em parceria com Emmerich começa
em 2009 quando o cientista indiano Satnam Tsurutani (Jimi Mistry) descobre que
em poucos anos algumas alterações nas explosões solares esquentariam o núcleo
do planeta, assim provocando diversas catástrofes naturais. O governo dos EUA
fica sabendo disso através do geólogo Adrian Helmsley (Chiwetel Ejiofor) e logo
passam a estudar medidas para evitar o pior. Porém, o profissional erra nas
contas e as catástrofes anunciadas começarão antes do previsto. Já em 2012, o divorciado
e fracassado escritor Jackson Curtis (John Cusack) está em meio a uma viagem
com os filhos para tentar reconquistar o afeto deles. Quando vai acampar, ele
recorda de momentos que viveu com Kate (Amanda Peet), mas divide seu tempo
ouvindo as teorias paranoicas de Charlie Frost (Woody Harrelson), um sujeito
que acredita piamente nas lendas sobre o fim do mundo. Curtis não dá bola para
tais ideias, porém, não demora a mudar sua opinião. A trama, portanto, segue a
velha fórmula dos filmes catástrofes: trabalha o lado político da situação,
colocando os poderosos americanos no centro das atenções para variar como
salvadores do mundo, e também deixa um espaço considerável para um gancho
sentimental e humano através da família Curtis tentando sobreviver às
adversidades e se manter unida.
Bem, ninguém pode esperar realmente um roteiro surpreendente e os
personagens parecem cópias de outros tantos que já vimos em filmes sobre
catástrofes. Nem é legal citar a lista de títulos desse subgênero aqui porque
seria uma listagem gigantesca, entre sucessos e fracassos. Até o outrora
cultuado M. Night Shymalan derrapou na sua versão do apocalipse Fim dos Tempos, mas no caso do trabalho
de Emmerich o enredo casa bem com a avalanche de efeitos especiais que o
projeto propõe. Na época em que as filmagens estavam ocorrendo, o Rio de
Janeiro, entre outros motivos, já estava em evidência e com projeção mundial
graças aos eventos esportivos aos quais era candidato a sediar (o que foi
confirmado), assim o diretor resolveu adicionar uma cena mostrando os efeitos
apocalípticos em terras cariocas. O pôster nacional destacou a imagem do Cristo
Redentor sendo engolido por uma gigantesca onda e aguçou a curiosidade dos
brasileiros que acabaram se decepcionando. Tal cena é rápida e de qualidade
ruim por ser apresentada como se fosse de transmissão de um canal de TV. Apesar
de todos os investimentos em tecnologia de ponta para os efeitos especiais,
principalmente porque muitas salas de cinema já o exibiram em 3D, o longa não
escapa de ter falhas visuais, alguns efeitos capengas e as tradicionais
derrapadas do roteiro como piadinhas bobas em meio a situações limites ou
celulares funcionando perfeitamente em meio a tempestades, tufões e outros
ataques de fúria da natureza. Liberdade de criação além dos limites.
Já vimos em tantos filmes do tipo a população se sentir ameaçada e no
fim boa parte dela se salvar, será que finalmente aqui veremos nas cenas finais
a terra completamente deserta ou um grande buraco vazio no sistema solar? Não é
desta vez. Emmerich recorreu ao conto da Arca de Noé para salvar os bravos
humanos, aqueles que sobreviveram a todas as adversidades que foram postos à
prova, para repovoar o planeta. Já existem até algumas pessoas que acreditam
mesmo na teoria de que as catástrofes naturais cada vez mais frequentes é uma
maneira de promover uma limpeza na Terra e só serão salvos aqueles cuja justiça
divina julgasse que estarão aptos a dar continuidade à humanidade. Outros já
dizem que os salvos irão povoar outros planetas, ideia que sempre volta a tona
quando surgem descobertas sobre condições apropriadas para habitação em novos
territórios, como as pesquisas a respeito de Marte, outro tema-fetiche do
cinema americano.
Literalmente longo, são mais de duas horas e meias de duração, 2012
sugere diversas interpretações. A primeira vista pode significar apenas uma
diversão repleta de explosões, tornados, sustos e efeitos sonoros de arrepiar.
Com um olhar mais atento podemos enxergar uma obra triste, onde no final das
contas os sobreviventes não estão aliviados, pois agora carregarão a culpa de
milhares de mortes que não puderam evitar. Se colocar no lugar dos personagens
para se posicionar quanto ao conflito é praticamente impossível, pois do elenco
gigantesco poucos tem a oportunidade de aparecerem o bastante a ponto de
envolver a plateia. Ainda é possível assistirmos pelo simples prazer de fazer
comparações com outros trabalhos do próprio Emmerich ou com outros
filmes-catástrofes a fim de encontrar pontos positivos ou negativos. No geral,
esta produção assumidamente se vale de seus efeitos especiais e joga fora a
oportunidade de gastar alguns poucos minutos que fossem para levar o espectador
a refletir. A profecia maia, segundo estudiosos, é apenas uma crendice
(tomara!), mas a revolta da natureza contra o progresso desenfreado é fato
consumado e por várias vezes por ano aqui ou ali sentimos tal fúria. Alguém
conseguiu fazer tal analogia diante do espetáculo de Emmerich? Provavelmente
poucos.
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