Adam Sandler é um ator que fincou
raízes no gênero comédia e coleciona milhares de fãs por todo o mundo,
principalmente por seus personagens conseguirem a simpatia imediata com as
platéias. Ele está acostumado a viver trintões que se esqueceram de crescer e
que só pensam em diversão e mulheres, assim palavrões e piadas de duplo sentido
estão sempre na ponta de sua língua, ainda que ele não seja o ator mais
desbocado de sua geração. Porém, muitas crianças também são fãs do comediante e
talvez por isso ele seja o protagonista de Um Faz de Conta que Acontece (2008),
comédia familiar dos estúdios Disney que nos últimos anos tem repensado seu
manual de trabalho. Antes seria difícil acreditar que um longa protagonizado
pelo astro de Click ou Gente Grande saísse da casa do Mickey Mouse.
A escolha foi acertada. Sandler está totalmente a vontade interpretando, para
variar, um cara que já não é mais nenhum adolescente, mas ainda não sabe bem o
que quer da vida e vive de sonhos.
Sandler interpreta Skeeter Bronson, um
rapaz que cresceu vivendo o cotidiano agitado de um gigantesco e refinado hotel
que seu finado pai ajudou a construir. Já adulto, ele é uma espécie de
funcionário mil e uma utilidades do local, mas sonha com uma grande chance de
trabalho lá mesmo. Sua pacata vida muda completamente quando sua irmã Wendy (Courteney
Cox) deixa seus dois filhos, Patrick (Jonathan Morgan Heit) e Bobbi (Laura Ann
Kesling), aos seus cuidados. Entreter as crianças não é uma tarefa fácil, mas
ele recebe a ajuda de uma amiga da sua irmã, Jill (Keri Russell), que as leva e
busca na escola, assim diariamente encontrando com Skeeter. Como praticamente
tudo na vida do rapaz, a jovem parece ser um sonho impossível. Aliás, é
justamente colocando a imaginação em primeiro lugar que esse tiozão consegue
prender a atenção dos sobrinhos. Ele começa a contar histórias e elas o ajudam
a narrar eventos inimagináveis e nos mais diferentes lugares, desde a
antiguidade na Grécia até o futuro no espaço. Descartando os cenários
improváveis, Skeeter se surpreende ao perceber que situações do seu dia-a-dia
passam a acontecer de acordo com o rumo que as crianças deram à história que
foi contada no dia anterior, mas a diversão acaba se tornando um problema a
partir do momento em que ele começa a manipular os sobrinhos para eles criarem
a continuidade dos contos de acordo com aquilo que ele deseja que aconteça de
verdade.
Para dar um pouco mais de
sustentação ao roteiro de Matt Lopez e Tim Herlilhy, Skeeter não procura
manipular as histórias apenas para conquistar o amor de Jill, mas também para
recuperar aquilo que deveria ser seu. Por motivos financeiros, Marty (Jonathan
Pryce), seu pai, foi obrigado a vender o hotel ao empresário Barry Nottingham
(Richard Griffiths), mas fez o comprador prometer que quando seu filho fosse
adulto ganharia o direito de gerenciar o empreendimento. Porém, a promessa não
foi cumprida e agora existe até um concorrente para ocupar a vaga, o
pretensioso Kendall (Guy Pearce). Por se tratar de uma produção que visa
indiscutivelmente o público infantil, e consequentemente seus familiares, as
situações do drama e do romance são praticamente detalhes. O que importa mesmo
para a criançada é a fantasia propiciada pelas histórias inventadas, sequências
bem realizadas, divertidas e com figurinos e cenários propositalmente
exagerados para evidenciar as tramas paralelas que influenciam a narrativa
real.
O elenco parece estar nas nuvens
e ter sido atraído para o projeto justamente pela proposta lúdica e a
possibilidade de viverem diversos personagens em um mesmo trabalho sem a
necessidade de se aprofundarem neles. Obviamente ninguém esperava ganhar
prêmios com suas atuações. Com uma produção que exala alto astral, todos
demonstram ter se divertido durante as filmagens, o que explica os exageros de
certas cenas. Já estamos acostumados ao estilo de atuação de Sandler, mais
criança que os próprios atores que interpretam seus sobrinhos, mas não deixa de
causar certo estranhamento alguns momentos de Pearce. Para equilibrar a
bagunça, ao menos Keri parece ser mais serena e normal. Ah, e não podemos
esquecer o personagem mais emblemático do longa, o Zoiudo, o porquinho da índia
de olhos esbugalhados de estimação de Patrick e Bobbi, o responsável por boas
gargalhadas. Aliás, risos não irão faltar para aqueles que só querem se divertir
e esquecer os defeitos do filme, mas para quem espera piadas chulas ou de duplo
sentido, o estilo cômico tradicional de Sandler, devem se decepcionar. Até a
pequena participação de Rob Schneider, o eterno Gigolô por Acidente e adepto de baixarias, é puxada para o
politicamente correto, mas nem tanto.
Com parte técnica correta e
tradicional (na época felizmente ainda o 3D não era uma febre), Um
Faz de Conta que Acontece já nasceu com pinta de clássico no melhor
estilo sessão da tarde. Divertido, colorido, agitado e com mensagens positivas
nada implícitas, deve agradar crianças e adultos, mas para curtir o filme
plenamente é preciso estar na vibe do espírito Disney de fazer cinema. O
diretor Adam Shankman, de Hairspray – Em
Busca da Fama, conseguiu uma mistura perfeita do que há de melhor nas
produções do estúdio (e do que há de pior também) ao estilo de Sandler, que
mais uma vez vive um simplório personagem que começa o filme em baixa, mas que
acaba bem na fita no final. Ih, escapou! Bem, ninguém pode esperar algo
diferente de um final feliz neste caso. Uma dica perfeita para uma tarde de
domingo em família.
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