Para começar a semana nada
melhor que uma boa comédia. Adam Sandler não é um excepcional sinônimo de
humor, mas geralmente funciona bem quando divide o peso das atenções. Deixando
o humor físico e as caras e bocas de lado (bem, nem tão de lado assim), o ator
divide com Kevin James as piadas de Eu os Declaro Marido e... Larry (2007),
uma eficiente comédia no qual eles vivem dois héteros tentando se passar por
homossexuais para ganharem benefícios. Embora possa parecer mais uma produção
para achincalhar a imagem dos gays, na realidade o humor aqui é usado de forma
agradável e consciente e acaba por levar uma mensagem positiva ao público: todos
têm direito a serem felizes, mas o caminho para alcançar tal felicidade cabe a
cada um escolher e os outros respeitarem. Ok, não é com essas palavras
literalmente que tiramos uma boa lição do filme, só os mais bondosos podem ver
tal idéia. O recado mais forte é sobre a valorização da amizade, principalmente
nos momentos difíceis.
Chuck Levine (Adam
Sandler) e Larry Valentine (Kevin James) são dois destemidos bombeiros que não
são unidos apenas na profissão, mas também são grandes amigos longe de seus
uniformes de trabalho. Larry é viúvo e se preocupa com o futuro dos filhos.
Devido a problemas burocráticos ele não consegue colocá-los como beneficiários
em seu seguro de vida. Para tanto ele precisaria se casar novamente, o problema
é que ela ainda não superou a perda da esposa e sabe que não pode confiar em
qualquer mulher quando o assunto é dinheiro. O jeito é recorrer ao seu grande
amigo que tem com ele uma dívida de gratidão por ter salvo sua vida em um
incidente de trabalho. Chuck topa então viver uma união de fachada com Larry
para ajudá-lo e assim pagar sua dívida, porém, a relação é colocada em xeque.
Muitas pessoas andam aderindo a união com alguém do mesmo sexo para conseguir
benefícios, portanto todos os casais moderninhos precisam ser investigados,
assim eles estão na mira do investigador Clint Fitzer (Steve Buscemi) e do chefe dos bombeiros, o Capitão Tucker
(Dan Aykroyd). Agora eles precisam
transformar o casamento de mentirinha em realidade e vão receber a ajuda da
advogada Alex McDonough (Jessica Biel), por quem Chuck acaba se apaixonando e
complicando ainda mais as coisas.
Os dois protagonistas
funcionam mais ou menos como o casal de homem e mulher típico das comédias
românticas: a primeira vista são completamente opostos, mas aos poucos percebem
que se completam. Fora o trabalho em comum, eles tem em suas vidas particulares
suas principais diferenças. Chuck é animado, alto astral, tem sempre uma piada
na ponta da língua e só pensa em curtir a vida intensamente, assim colecionar
conquistas de mulheres para ele é um hobby. Já Larry é mais acanhado, sereno e
não tem uma vida muito alegre depois que sua esposa faleceu. A maneira como
cada intérprete adiciona humor a esses personagens é o ponto-chave. O diretor
Dennis Dugan, que já havia dirigido Sandler em outros filmes como “O Paizão“,
deu carta branca para seus astros improvisarem nas cenas, o que talvez explique
como um longa que podia ser repleto de piadas de gosto duvidoso consegue ser
leve e divertido.
Apesar do tema convidativo
ao escracho e as polêmicas, é importante ressaltar a habilidade dos roteiristas
Barry Fanaro, Jim Taylor e do conceituado Alexander Payne, de Os Descendentes, em lançar o anzol, mas
devolver o que fisgam, ou seja, investir em piadas preconceituosas e
debochadas, porém, sempre deixando em seguida uma mensagem politicamente
correta como na cena do baile a fantasia quando Chuck e Larry são ofendidos e
humilhados intensamente. Logo em seguida um discurso a favor da diversidade
sexual é dito em alto e bom som por Sandler em um dos raros momentos de lucidez
de seu personagem. Pouco depois lá está ele fazendo suas caretas e mímicas
bancando a “amiga” confidente de sua advogada durante uma tarde de compras de
roupas.
Entre piadas homofóbicas e
mensagens que condenam o preconceito, Eu os Declaro Marido e... Larry aborda
de forma criativa e leve um tema espinhoso, retratando com bom humor os
problemas que cotidianamente são vividos por aquelas pessoas que fogem do
padrão engessado do que é ser “normal” dentro da sociedade. Embora não seja uma
produção com momentos de gargalhar e com uma introdução que não promete coisa
boa pela frente, é certo que o desenvolvimento da trama prova ter algum
conteúdo aliado aos momentos cômicos. Como já dito a amizade verdadeira e a
sensibilidade despertada pelos conceitos sobre discriminação fazem esta comédia
valer a pena. De quebra os saudosistas podem se divertir com alguns hits
famosos do passado.
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