Quem se entusiasma a assistir a um filme no qual praticamente
temos apenas um ator em cena? Bem, Tom Hanks teve êxito em Náufrago alternando momentos cômicos e dramáticos em uma ensolarada
ilha deserta, mas será possível acompanhar uma trama na qual um homem tem como
companhia apenas a sua própria loucura ou o medo em um ambiente claustrofóbico?
A resposta é sim, desde que o enredo seja de qualidade e provoque sustos de
verdade, não risos como muitos filmes de suspense de hoje em dia. O ator John
Cusack assumiu a difícil tarefa de envolver o público em um clima de tensão
constante tornando-se o protagonista de 1408 (2007), suspense baseado em um
conto homônimo do livro “Tudo é Eventual” de autoria de Stephen King.
Considerado um dos maiores escritores de livros de terror e de temática
sobrenaturais, é certo que muitas de suas obras não foram sucesso em suas
versões cinematográficas, mas felizmente a produção aqui em questão faz parte
do time das boas adaptações. Não é excepcional, porém, cumpre seus objetivos e
nos poupa da sanguinolência e carnificina gratuita apostando mais em uma
temática de terror psicológico.
A trama gira em torno de Mike Enslin (Cusack),
um romancista que decidiu experimentar novos caminhos e passou a escrever
livros sobre fenômenos paranormais, ou melhor, obras para demonstrar que coisas
do além não passam de frutos de imaginações férteis. Totalmente cético,
principalmente após perder precocemente uma filha, ele aceita como seu próximo
desafio comprovar que não existe nada de assustador no quarto 1408 do
tradicional Dolphin Hotel que fica em plena fervilhante Nova York. O cômodo tem
fama de ser habitado por espíritos malignos e que quem se hospeda nele morre em
pouco tempo. O gerente do hotel, Gerald Olin (Samuel L. Jackson), o avisa que
exatamente 56 mortes ocorreram neste quarto e desde o último corpo encontrado
este aposento não é mais cedido a hóspedes e só é limpo mediante a um esquema
especial. Mesmo assim, Enslin está disposto a provar que não existe nada de
diabólico lá, mas também descobrir porque nenhum dos hóspedes sobreviveu a mais
de uma hora trancado no quarto.
Como o conto original, supostamente baseado em fatos reais,
tem pouco mais de vinte páginas, os roteiristas Matt Greenberg, Scott Alexander
e Larry Karaszewski tomaram algumas liberdades para engordar o enredo, mas tudo
que foi acrescentado não foge do contexto. O início do longa é repleto de
clichês e conta com uma atuação insossa de Samuel L. Jackson, mas a partir do
momento em que o pouco tempo que resta de vida para Enslin passa a ser contado
no relógio minuto a minuto a coisa muda de figura. Essa é a deixa para Cusack
brilhar absolutamente sozinho e colocar o espectador na dúvida se tudo que está
vento é fruto de uma repentina demência do protagonista ou realmente
manifestações do além. O diretor sueco Mikael Hafström, indicado ao Oscar de
filme estrangeiro por Evil – Raízes do
Mal, conseguiu fugir dos lugares comuns do gênero e criou uma excepcional
atmosfera claustrofóbica da qual é impossível o espectador não compartilhar da
sensação de sufoco. Com domínio da câmera e senso para explorar o cenário
limitado, o cineasta consegue passar a impressão que cada canto do quarto
esconde algo que a qualquer momento irá surpreender o incrédulo hóspede.
Mantendo a tradição do cinema eurpeu, Hafström não tem pressa
para chegar ao que interessa. Os minutos iniciais servem para conhecermos
melhor o protagonista. Pouco a pouco vamos conhecendo um pouco da vida do
escritor e vários diálogos são inseridos para apresentar a sua incredulidade. É
certo que Enslin não ganha a simpatia do público logo de cara, porém, mais adiante
nos envolvemos com os dramas e medos do rapaz. Cusack, embora com um currículo
extenso e com bons títulos, até então não era considerado um nome capaz de
chamar a atenção. Ainda que já tenha protagonizado algumas produções, foi neste
suspense que o ator teve a chance de mostrar que pode literalmente segurar um
filme sozinho. Ele alterna momentos dramáticos, outros de tensão e alguns de
pura insanidade, mas tudo de forma perfeitamente aceitável para o que o enredo
visa. As intenções de Hafström jamais foram jogar o espectador em uma montanha
russa de emoções ininterruptas, mas sim provocar um medo crescente dosando as
sequências mais assustadoras e dando algumas pausas para a plateia respirar.
Claro que este suspense não está livre dos vícios hollywoodianos
e apresenta alguns sustos previsíveis como vultos, ruídos estranhos e até mesmo
um rádio que do nada começa a tocar música, porém, faz toda a diferença a
maneira como estes clichês são inseridos na narrativa e é aí que 1408 ganha
pontos para se manter acima da média atual das produções do gênero. Todavia, o
longa não deixa de decepcionar em certos aspectos. As dúvidas a respeito das
visões e acontecimentos dentro do tal quarto de hotel não são sanadas de forma
satisfatória e nem ao menos temos uma explicação do por que da numeração do
local ter tanta força para ser o título tanto do conto do livro quanto do
próprio filme. Seria pelo fato da somatória resultar no supersticioso número
13? De qualquer forma, se você quer assistir a um filme de qualidade e de
quebra levar bons sustos esta é uma ótima pedida. Para não contrariar as regras
do cinemão americano, a última cena trata de manter o ponto de interrogação na
cabeça do espectador. Assista, reflita e tire suas próprias conclusões.
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