Última sexta-feira do ano. Muita
gente se despedindo dos colegas de trabalho e curtindo um happy-hour ou uma
baladinha. A dica de hoje é para aqueles que vão ficar em casa, mas adoram
música e cinema. Letra e Música (2007) é
uma deliciosa comédia romântica que apesar de ser contemporânea resgata muito
da ingenuidade e da badalação dos anos 80, época em que os bailinhos dos jovens
bombavam com canções agitadas ou românticas nas vozes de garotos de vinte e
poucos anos que vendiam milhões de discos e suas fotos eram acessórios
obrigatórios no quarto de qualquer garota descolada. Quem tem ao menos uma
pequena noção de como foi aquela época certamente se sentirá fisgado a
acompanhar este filme só de ver os primeiros minutos. A introdução não poderia
ser mais criativa. Uma melodia pegajosa embala o videoclipe de uma “boy band”
chamada Pop. Pode soar como um nome nada original, mas é usado em tom de
ironia. Esses rapazes fizeram sucesso no passado fazendo caras e bocas para
conquistar as menininhas e seus passinhos de dança, figurinos e cortes de
cabelo marcaram época. O clipe reúne todos os elementos característicos do
período no que diz respeito ao mundo da música e da TV ou, em outras palavras,
como a MTV ditava a moda aos adolescentes.
O tempo passou, a banda POP
deixou de ser popular, terminou desgastada, seus integrantes envelheceram e
cada um seguiu seu próprio caminho. Alex Fletcher (Hugh Grant) continuou
investindo no mundo da música, ainda que se apresentando para pequenas platéias
em parques e feiras de todos os tipos, mas longe dos palcos das grandes casa de
shows. Mesmo assim ele foi convidado para escrever uma nova canção e gravá-la
junto com um dos maiores fenômenos midiático dos anos 2000, Cora Corman (Haley
Bennett). Porém, ele não compõe há anos, se sente despreparado e está
desesperado, pois não pode perder a chance de voltar à mídia em grande estilo.
Quem pode salvá-lo é Sophie Fisher (Drew Barrymore), a jovem que cuida das
plantas do ex-astro. Estudante de Letras, ela é ótima para se comunicar, tem
boas idéias, mas é desiludida no amor, os ingredientes perfeitos para uma boa
compositora escrever uma canção que envolva o público. Os dois ficam cada vez
mais próximos graças a esse trabalho, tornando realidade o amor entre uma fã e
seu ídolo, ainda que no caso não exista demonstração de paixão exagerada afinal
Alex já não é mais um cantor famoso, embora se ache a cereja do bolo, e ela já
não acredita mais em príncipe encantado, o que nos leva a crer ainda mais que
tal relação tem futuro.
O diretor e roteirista Marc
Lawrence, autor dos simpáticos enredos de Amor
à Segunda Vista e Miss Simpatia,
tem experiência no gênero e deixa claro que só quis flertar com a inovação, mas
seu objetivo principal era entregar uma comédia romântica clássica do tipo que
nos faz rir de piadas inocentes e a torcer pelo casal de protagonistas, não
faltando nem mesmo uma briguinha entre eles para dar um pico dramático à trama,
concluindo a produção com um final açucarado. No caso, não temos apenas doce
para saborearmos, mas também leves e contundentes críticas ao mundo da música
hoje em dia. Ok, o filme é de 2007, mas ainda vivemos em plena era da banalização
musical em um mesmo nível, isso se não decaímos ainda mais. Tais alfinetadas
ficam a cargo das cenas da personagem Cora Corman, uma mistura do que há de
pior em Beyoncé, Shakira e Britney Spears, cenas que deixam explícito que uma
imagem sedutora vale mais que mil palavras ou mil notas musicais. Essa parte
mais crítica acaba sendo dissolvida no enredo, até porque a intérprete dessa
“diva teen” não é muito esforçada. Aliás, depois deste filme será que ela fez
algum outro? O tempo nos mostra que se seguiu carreira foi fazendo pontas
usando sua imagem.
A música é sem dúvida um elemento
importante neste longa, com baladinhas agradáveis, mas é certo que o
clipe-paródia da introdução é que deve grudar que nem chiclete em nossa
memória. O resto da narrativa segura seus inúmeros clichês graças a atuação de
seus protagonistas, uma dupla escolada em comédias românticas. Grant mais uma
vez encarna o homem que se esqueceu de crescer, o tipo imaturo que adora fazer
piadas depreciativas sobre si mesmo, o que não deixa de ser uma boa arma para
conquistar corações. Sua química com Drew é perfeita e irresistível. Ao
contrário de seu companheiro de trabalho que parece seguir a carreira com um
personagem padronizado, não que isso o atrapalhe, ela parece ter mais desenvoltura
para dar uma cara nova para cada mocinha romântica que interpreta. Não é
necessariamente uma mudança de visual, o que certamente ajuda a compor novos
perfis, mas com pequenas alterações comportamentais e trejeitos ela consegue
sempre se renovar, ainda que neste caso sua personagem seja um tanto rasa em
comparação ao seu par. Protagonista de mais de uma dezena de comédias, Drew
aqui aparece como uma jovem paranóica e com constantes tiques nervosos. Vale
também uma ressalva aos trabalhos de Brad Garrett e Kristen Johnston,
respectivamente o agente de Fletcher e a irmã de Sophie, coadjuvantes que
conquistam seu espaço para brilhar.
Seguindo o esquema de qualquer
comédia romântica, Letra e Música tem o mérito de conquistar o espectador com
diálogos inteligentes que alternam romantismo e ironia, ainda que o ritmo
narrativo caia consideravelmente quando a tal canção que eles escrevem é
finalizada e outros conflitos são inseridos para rechear o filme que se
beneficiaria com alguns minutos a menos. Não é uma obra para gargalhar, mas sim
para deixar quem assiste com um sorriso constante no rosto. Lawrence acerta ao resgatar
o clima oitentista de clássicos no melhor estilo sessão da tarde assim
diferenciando seu trabalho no marasmo que o gênero se encontrava e ainda se
encontra. Mesmo sem contar com um elemento surpresa ou uma grande virada de
trama, só o fato de evitar piadas apelativas já faz valer a pena gastar alguns
minutos do seu dia com este filme. Programa obrigatório para os antigos fãs da
MTV e do grupo New Kids on The Block. Nunca ouviu falar dessa banda? Não faz
mal, você irá se divertir do mesmo jeito.
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