As férias estão chegando ao final. Nesta semana muitas
pessoas voltam ao trabalho e os estudantes devem comparecer em peso às salas de
aula de colégios e universidades. Rever os amigos é a parte boa da coisa, mas
talvez reencontrar todos os professores não. Disciplina, atenção e estudo
constante. São várias as cobranças dos educadores e para aliviar a tensão nada
melhor que uma boa comédia que nos apresenta a professora dos sonhos. Ela não é
surreal apenas por sua beleza e corpo esguio, mas também por sua incrível e
duvidosa habilidade em lidar com os alunos. Este é o perfil da protagonista de Professora
sem Classe (2011), uma comédia de humor negro que coloca no centro das
atenções uma mulher que não é um exemplo de boa profissional e também deixa
muito a desejar como pessoa. Todavia, seus métodos de ensino devem agradar em cheio aos alunos que gostam tanto de ficar de pernas pro ar quanto a própria educadora.
Elizabeth Halsey (Cameron Diaz) é uma balzaquiana que
passou a vida toda correndo atrás de parceiros milionários para conseguir vida
fácil e com todas as regalias possíveis. Apesar disso, profissão ela tem. É
professora, mas odeia o que faz. Assim, toda vez que encontra um parceiro do jeito
que sonhou abandona seu emprego, mas quando seu último golpe é descoberto ela
precisa voltar a lecionar em um colégio tradicionalista. Desbocada,
trambiqueira e preguiçosa, ela empurra com a barriga o trabalho. Seu grande
objetivo é aguentar a rotina monótona até conseguir o dinheiro necessário para
fazer uma cirurgia de aumento de seios acreditando que assim o próximo
pretendente não lhe escaparia. Para sua sorte a vítima do próximo golpe vem do
lugar que ela menos esperava: o próprio colégio. O novo professor de
matemática, Scott Delacorte (Justin Timberlake), além de bonito e simpático é
um rico herdeiro que gosta de trabalhar. O homem perfeito para Elisabeth, mas o
rapaz não parece ser facilmente seduzível e até uma concorrente entra na
jogada, a professora Amy (Lucy Punch), que é apenas um pouco mais ajuizada que
a rival.
Roteirizado por Gene Stupnitsky e Lee Eisenberg,
responsáveis pela série de TV “The Office“, a história realmente tem bons
momentos seguindo o caminho do humor negro no estilo de Se Beber Não Case. Do início ao fim temos algumas piadas de mau
gosto eficientes e personagens nada convencionais em cena. Montado para ser um
veículo para Cameron se desvencilhar do carma da mocinha sonhadora e romântica
que a persegue, afinal já é quase uma quarentona, ela foi premiada com o papel
de uma mulher que se esqueceu de crescer e vive como uma eterna adolescente
irresponsável. Algumas de suas cenas são apelativas, como a que mostra ela
lavando carros brincando com a mangueira, mas outras até são bem boladas, como
as várias vezes que passa filmes aos alunos enquanto tira uma soneca. Ela leva
a sério a frase “cinema é cultura”. O humor reside justamente em explorar ao
máximo o comportamento transviado daquela que deveria ser um exemplo aos novos
membros da sociedade. Provável que os alunos sejam bem mais ingênuos e
recatados que a própria educadora.
Estamos acostumados que em produções comerciais o
politicamente correto seja mantido até certa altura da narrativa, abrindo
espaço para que as convenções tomem conta do pedaço e transformem o anarquismo
em disciplina, porém, o diretor Jake Kasdan, de Um Elenco do Barulho, optou por não regenerar sua protagonista.
Embora ensaie o arrependimento da moça por tudo de errado que fez, ele volta
atrás e a mantém com a personalidade praticamente intacta. Por não sofrer
transformações, a personagem acaba ficando enfraquecida ao longo da trama e
deixando o terreno aberto para os coadjuvantes brilharem, como a sua rival.
Lucy Punch tem uma participação considerável e encontrou aqui a chance de se
livrar do estigma de ser aquele rosto conhecido de tantos filmes, mas cujo nome
ninguém sabe. Pena que não aproveitou a oportunidade ou os roteiristas é que
foram infelizes com suas cenas. Já Timberlake arrisca e até acerta fugindo do
estereótipo do galã. Com um papel de rapaz fútil e beirando a imbecilidade, ele
só consegue seduzir mesmo as mocinhas da fita, mas se o que elas querem é sexo,
ele não é a melhor opção como deixa claro em uma sequência estapafúrdia. Por
fim, temos Jason Segel como um pacato professor de educação física, embora
aparente estar acima do peso e não musculoso, de longe o tipo mais normal.
Alguns apontam Professora sem Classe como um
produto singular e divertido e outros demonstram verdadeira ojeriza diante de
tantas cenas apelativas tanto no visual quanto no conceito e diálogos. Todavia,
o longa tem o mérito de ser ousado e brincar com a figura do professor,
profissional colocado em um pedestal em obras edificantes. Ao Mestre com Carinho marcou época e inúmeros filmes semelhantes
foram e ainda são lançados anualmente, sempre colocando o educador como amigo
dos alunos, mesmo que eles sejam indisciplinados e até desrespeitosos. No fim
ele sempre dá um jeito na turma e coloca a todos no caminho do bem. Vendo por
este ângulo, é até bom que Kasdan não tenha feito sucesso com seu filme, pois
poderia ter provocado a ira dos profissionais da classe que se sentiriam
ofendidos e com seu trabalhado achincalhado. Quem se propor a ver esta comédia
não pode ser tão radical a ponto de enxergar uma crítica ácida no enredo.
Simplesmente relaxe e dê algumas boas risadas. Certamente em pouco tempo você terá
esquecido o que viu, mas estará com os ânimos revigorados para voltar a rotina
de estudos.
Um comentário:
Confesso que eu ri assistindo ao filme, achei engraçado em algumas partes.
Cara, acompanha o novo blog:http://eooscarfoipara.blogspot.com.br/ Sobre edições do Oscar e polêmicas.
Postar um comentário