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quinta-feira, 26 de julho de 2012

FESTIVAL DE FÉRIAS - AOS TREZE

A adolescência é um período da vida no qual qualquer ser humano está cheio de dúvidas e anseios e encontrar o equilíbrio entre o resquício da inocência da infância e a maturidade forçada por uma sociedade cada vez mais irracional é quase impossível. Aos olhos dos pais e protegidos dentro de seu lar, em geral, os filhos são vistos de forma positiva, a criança que cresceu bem educada e feliz, até porque a maioria já sabe usar muito bem os truques de personalidade para persuadir. Porém, quando estão fora de casa as regras são outras e os jovens gradativamente são levados a seguir caminhos torpes e como estão na idade de se auto-afirmarem como pessoas fazer parte de um grupo bacana na escola ou no bairro torna-se uma necessidade primordial. Ser você mesmo é descartável, o importante é parecer com a turma que escolheu fazer parte, o que implica certamente em mudanças de visual e de comportamento chegando inclusive a atos de extrema crueldade contra semelhantes ou a si próprios. De anjinho da mamãe à garota pervertida e problemática, a protagonista de Aos Treze (2003) mostra de forma eficiente e econômica o processo desta transformação, embora o roteiro seja baseado em episódios clichês já vistos em outras produções que lidam com temas parecidos.
Tracey Freeland (Rachel Evan Wood) é uma adolescente aparentemente exemplar. Aos treze anos ela é excelente aluna, boa filha e ainda mantém ativo um irresistível jeitinho de criança, porém, ela já está se sentindo mal por ser esnobada na escola pelas garotas mais populares, aquelas que estão sempre na moda e chamam a atenção dos meninos. A chance de mudar esse quadro surge quando ela consegue se aproximar de Evie Zamora (Nikki Reed), o modelo que ela gostaria de seguir, mas o problema é que essa nova amizade não é uma boa companhia e assim Tracey acaba sendo pouco a pouco persuadida a se envolver com drogas, experimentar prazeres sexuais e até cometer pequenos crimes. As coisas complicam quando tais atos deixam de ser curiosidade e se tornam rotineiros desencadeando uma série de desentendimentos entre Tracey e sua mãe Melanie (Holly Hunter), ainda mais quando Evie tem a ideia de tentar morar na casa da nova amiga, claramente se aproveitando da relação em frangalhos que a jovem mantém com seus familiares.


Ricos e pobres estão sujeitos a essas más influências, pois todos sabem que a falta de dinheiro ou sua abundância causam transtornos, mas historicamente filhos de famílias problemáticas são as principais vítimas de amizades duvidosas, não que isso não tenha a ver com grana. Bobagens como não ter posses para comprar uma roupa bacana para ir a uma festa ou o papai que compensa seu distanciamento oferecendo dinheiro para o filho comprar o que quiser no shopping podem tornar-se grandes problemas a curto ou a longo prazo. Com pais separados, falecidos, ausentes ou que vivem juntos apenas por conveniência, é comum que o adolescente insatisfeito busque apoio nas amizades e quem lhe estende a mão primeiro certamente ganha sua inteira confiança, tornando-se basicamente um jogo de dominação onde o mais forte geralmente não tem coisas boas a oferecer e se aproveita da fragilidade do outro. É justamente nas questões da família fragmentada e da possível vítima das circunstâncias que se apoia o trabalho de estreia da diretora Catherine Hardwicke. A mãe de Tracy é amorosa e não deixa faltar nada para a filha, mas talvez o fato de ser separada e estar namorando um homem que não é um exemplo de ser humano de sucesso provoquem na garota uma revolta que talvez só ela compreenda e sua maneira de extravasar sua raiva é através de atos impensados como colocar um piercing na língua ou trocar beijos com outra menina. Ela busca o choque para atingir a mãe deixando-se levar pelas ideias ousadas e bizarras de Evie que aparentemente não tem quem a repreenda. Aliás, se o longa apresenta muito bem a aproximação e o desenrolar da amizade das duas adolescentes, por outro lado deixa a desejar por não mostrar ao espectador como era a vida de cada uma antes desse encontro, ou melhor, da Tracy até acompanhamos algumas coisas, mas não o suficiente para tornar mais impactantes as cenas que marcam sua mudança comportamental.
O roteiro foi escrito pela própria diretora em parceria com Nikki Reed que colaborou muito trazendo experiências que ela própria vivenciou. Seus pais se divorciaram quando ela ainda era muito pequena e a atriz foi criada pela mãe. Até os doze anos ela era uma garota meiga e comportada, mas depois se tornou rebelde e refém de problemas emocionais que trataram de afastá-la da mãe e aproximá-la dos vícios e do sexo. Após a fase conturbada, Nikki aos quatorze anos conseguiu sua emancipação e transformou as lembranças de seu passado recente em um roteiro cinematográfico. Curiosamente, ao ser escalada para o elenco a atriz e escritora acabou ficando com um papel oposto ao que viveu na vida real. Algumas pessoas apontam que as situações apresentadas no longa não são totalmente críveis e não chocam como deveriam. Bem, é obvio que outros filmes deste tipo do passado foram bem mais além, até ultrapassaram limites em alguns casos, mas é admirável as escolhas que Catherine fez. Não é preciso nudez e escatologia para causar impacto. Um texto forte já é o bastante para dar o recado, ainda mais com um elenco afiado para defendê-lo. Rachel e Nikki estão perfeitas em seus papéis. Mesmo já tendo passado dos treze anos de idade na época das filmagens elas incorporaram com perfeição as adolescentes problemas e a relação delas tende a certa altura parecer tão natural que nem nos importamos em ver duas jovens trocando carícias e provocações no ápice da loucura.

Este filme tem como protagonistas garotas novinhas, mas não há como negar que boa parte da força do longa se deve ao talento da jovem veterana Holly Hunter que alterna a mãe carinhosa e compreensível com a mãe rígida que busca talvez tardiamente descobrir onde errou na criação da filha acompanhando a degradação da mesma. Na balança do amor e do ódio, a relação delas pende para o lado negativo da situação sendo que a solução para o conflito aparentemente seria o afastamento de Evie que não perderá a chance de trair a amiga quando se sentir pressionada, afinal não existe um laço concreto de amizade entre elas ou pelo menos por parte de uma. As cenas finais com diálogos intensos e apresentada quase em preto e branco reforçam o aspecto documental do longa que opta pela aparência realista através de ângulo ousados ou tremidos de câmera para se destacar do visual limpo das produções hollywoodianas e ainda flertar com a estética do cinema alternativo. Podem dizer que é uma produção fraca, mas quando chegamos ao final de Aos Treze percebemos seus reais objetivos: não apresentar respostas mastigadinhas para ajudar quem passa por situações semelhantes, mas sim servir como um ponto de apoio para o diálogo entre pais e filhos, estudantes e educadores para prevenir ou tentar remediar problemas. Uma conclusão muito clichê essa? Pode ser, mas infelizmente ainda necessária para uma sociedade metida a moderninha, mas cujos integrantes ainda mal sabem dialogar e pensar por conta própria.

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