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sábado, 31 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - QUEM QUER SER UM MILIONÁRIO?

Hoje é o último dia do ano. Vamos ter o sorteio especial da mega-sena e mesmo quem não faturar a bolada em dinheiro não desiste do sonho de ficar rico. Entra ano e sai ano e muita gente continua com suas simpatias e rituais em busca de ajuda do universo para conseguir uma vida financeira confortável. Bem, já que a maioria tem esse desejo, a dica é fechar o ano assistindo Quem Quer Ser Um Milionário?, elogiada e premiada produção americana que mostrou ao mundo uma Índia realista, pobre, repleta de problemas, mas ainda assim com uma população esperançosa. Curiosamente, na mesma época em que foi lançado, no Brasil curtíamos a novela "Caminho das Índias", assim pudemos comparar duas visões distintas. Uma mostrava o núcleo rico ou de vida mais confortável do povo indiano enquanto a outra apresentava o cotidiano do povão pela ótica do eclético cineasta inglês Danny Boyle. Até mais interessante que a própria obra é a sua trajetória desde a concepção até o clímax, a festa do Oscar. A sugestão de hoje não é só pelo fato de ter dinheiro no meio da história, mas principalmente pela mensagem de otimismo e reflexiva que o filme nos deixa.


Um diretor que já trabalhou com a juventude rebelde, lidou com zumbis, frequentou uma ilha aparentemente deserta e se aventurou pela ficção científica em uma época em que o gênero está praticamente sepultado, só prova que ele não tem medo de experimentar, testar novos temas e ambientações. Por isso não é para se estranhar a sua audácia de levar sua câmera para um país pouco conhecido e procurar o que havia de mais comum e pobre por lá. O que é espantoso mesmo é a recepção acalorada do público e crítica americana a uma obra com diversos diálogos em língua estrangeira, o que exige o uso de legendas, coisa que os ianques detestam. E o fenômeno não foi só por lá ou em terras brasileiras pela coincidência da telenovela está no ar no mesmo período. O longa fez uma carreira brilhante por onde passou e conquistou quase todos os prêmios disponíveis da temporada, inclusive oito estatuetas douradas da Academia de Cinema. Só que o elenco foi esnobado nessas festas, algo já esperado por serem desconhecidos até então e pela origem indiana. Curiosamente, na própria Índia houve rejeição a este trabalho, muito porque condenaram a opção de explorar o universo de favela, mas se a história exige tal cenário não se pode fazer nada. Se a ambientação causa incômodo por expor mazelas sociais, o cinema nada mais fez que mostrar a realidade. Queixas devem ser direcionadas a governantes e afins para mudar esse quadro.

Quem gosta de cinema certamente já ouviu falar em Bollywood ou nas estatísticas que apontam a Índia como um dos maiores produtores de cinema do mundo todo. Suas produções geralmente seguem a linha de dramalhão, cenários e figurinos de encher os olhos e seus artistas são venerados pelo público que não hesita em levantar das poltronas do cinema ou do sofá de casa para dançar com eles, afinal música é um elemento que não pode faltar. Das características bollywoodianas, Boyle trouxe para sua obra apenas o viés dramático para aliar ao contexto social que escolheu para trabalhar, decepcionando assim quem esperava ver um pouco mais a respeito da cultura cinematográfica local, mas aliviando aqueles que repudiam o estilo kitsch da mesma. A estética escolhida é crua e por vezes muito cruel. É praticamente uma versão indiana do nosso Cidade de Deus, pelo menos inicialmente quando estamos conhecendo o mundo em que vive o protagonista. O diretor conseguiu imprimir um ritmo ágil à narrativa graças a eficientes movimentos de câmera e uma edição precisa, além de efeitos sonoros e música em estilo eletrônico misturado com instrumentos característicos do país que realçam situações e sentimentos.
A história gira em torno de Jamal Malik (Dev Patel), um jovem órfão que junto com seu irmão Samir (Madhur Mittal) cresceu nas favelas de Mumbai em meio a criminosos e outras pessoas do pior caráter possível. Aprendeu que para sobreviver em uma sociedade hostil precisava aproveitar as oportunidades e não hesitou, por exemplo, em se passar por guia turístico para ganhar alguns trocados. A virada de jogo pode estar em um programa de televisão onde é preciso responder uma série de perguntas para ganhar um dinheiro que mudaria completamente a vida de qualquer um. Bem, pelo menos para aqueles que vivem em uma situação de miséria em um país onde as chances para crescer profissionalmente ou até mesmo pessoalmente são as mais minguadas possíveis. Na verdade, o que o leva a participar dessa espécie de "Show do Milhão" é o amor. Ele espera que sua amiga e paixão de infância Latika (Freida Pinto) o assista e se apaixone pela imagem de um rapaz que agora é rico e famoso. Por esse resumo, muitos podem falar já vi essa história contada de diversas formas. Realmente, o enredo é comum, mas ele continua sendo usado e a cada nova adaptação muda de figura. Aqui, o diretor foi habilidoso em procurar uma ambientação diferente, pessoas com características físicas marcantes, dar ritmo para a narrativa através de trucagens de câmera e fugindo do estilo dramalhão lacrimejante. Assim, a velha receita do indivíduo humilde que vence na vida, não só financeiramente falando, depois de muita batalha ganhou uma cara nova, além de ser temperada com uma deliciosa trilha sonora que dá um refresco aos nossos ouvindo nos poupando da reciclagem de sucessos do passado ou das intenções de criar músicas para virarem hits do momento. Vale ressaltar que a narrativa segue linear nos mostrando três momentos da vida do protagonista, mas a trama é intercalada pelos questionamentos da equipe da televisão que estranham como uma pessoa sem estudo ou acesso a cultura conseguiu responder tudo e faturar a bolada.

Esta produção é repleta de pontos muito pertinentes à sociedade contemporânea para serem analisados. Atrás de uma história de amor travestida de denúncia social, encontramos um painel de problemas e novidades que incluem a exploração de menores, a falta de um alicerce familiar na criação de uma pessoa, a busca pela fama e dinheiro que move o homem atual e a globalização. Esses são alguns dos pontos relevantes, além de também ser possível tecer comentários interessantes a respeito da recepção do filme, novas maneiras de se fazer cinema e a inclusão de diferentes culturas ao fechado mercado cinematográfico americano e porque não mundial também. Não que esta seja a primeira vez que a Índia interage com os EUA. A cineasta Mira Nair fez isso antes de Boyle com Nome de Família, de forma mais modesta e tradicional, mas sem medo das críticas ou rejeição do público. No fundo, Quem Quer Ser Um Milionário? é uma obra que reflete a realidade de sua época de filmagem, um cenário que deve perdurar ainda por muitos anos. A escolha de um protagonista que não teria as menores chances de sobreviver em um mundo capitalista, mas que chega ao topo através de um meio de comunicação e trazendo na bagagem suas experiências de vida, toca diretamente no imaginário de bilhões de pessoas mundo a fora que não enxergam nos estudos caminhos para o futuro, mas sim na popularidade, no uso da imagem, um pensamento medíocre que infelizmente rege a mente de muitos, ainda mais em tempos que realitys shows, celebridades instantâneas e a exposição constante no mundo virtual são marcas registradas. Assista, reflita e leve a visão otimista e crítica desta obra para 2012.

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