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quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

FESTIVAL DE FÉRIAS - ABAIXO O AMOR

Os anos 60 deixaram saudades para muitas pessoas. Reviravoltas políticas, conflitos a favor de atos libertários, a moda peculiar, as canções que faziam críticas de forma escamoteada, artistas sendo banidos de seu país natal... Epa! Essa é uma visão muito nacional e nada a ver com a dica de hoje. A sugestão desta quarta-feira é relembrar o lado romântico dessa década visto pela ótica hollywoodiana deliciosamente exagerada. A palavra vintage costumava ser usada para se referir as melhores safras de vinho de determinado tipo ou região, mas passou a ser sinônimo de coisas que simbolizam um certo período. Assim a palavra vintage é transcrita em forma visual a cada segundo de Abaixo o Amor (2003), uma comédia romântica que mostra um momento importante para o movimento feminista ao mesmo tempo em que tenta jogar por água abaixo a teoria de que as mulheres podem viver sem os homens. O diretor Peyton Reed foi habilidoso para construir uma trama inteligente e divertida que agrada a ambos os sexos.


O filme já começa de forma irresistível com a abertura feita em animação com uma gostosa canção, tudo para o espectador já entrar no túnel do tempo. Logo somos apresentados a sociedade predominante machista do ano de 1962, mas as mulheres começavam a ir à luta em busca de seus lugares no mercado de trabalho e brigar por direitos iguais. A escritora Barbara Novak (Renée Zellweger) chega a Nova York cheia de esperanças de fazer sucesso com seu livro "Abaixo o Amor", mas acaba se decepcionando com a recepção fria a seu trabalho cujo objetivo é provar que as mulheres podem sim ser felizes e independentes sem terem que seguir as ordens de um marido. Porém, ela ainda teria a chance de mudar as coisas. Graças a ajuda de sua amiga Vicki (Sarah Paulson), ela consegue divulgar seu livro com a ajuda de uma música de mesmo título. Uma rápida passagem por um programa de TV e da noite para o dia a sua vida muda e sua obra consegue vender que nem água e ficar em primeiro lugar na lista dos mais vendidos. O conteúdo do livro atinge negativamente o estilo de vida do jornalista metido a galã Catcher Block (Ewan McGregor), que decide se aproximar da autora e conquistá-la, assim desmentindo todas as teorias revolucionárias da jovem e conseguindo a grande matéria de sua vida.


Os roteiristas se inspiraram em Confissões à Meia-Noite e Médica, Bonita e Solteira, dois filmes da época, para escrever o roteiro. Aparentemente simples, a história acaba ganhando contornos mais complexos quando o tal jornalista resolve fingir ser uma pessoa completamente diferente para conquistar a escritora. Ele finge ser Zip Martin, um rapaz do interior que é astronauta e por isso nunca ouviu falar na tão famosa Bárbara. Puxando um sotaque caipira, a versão em português desliza ao forçar demais o “caipirês” nacional, mas isso é um detalhe ínfimo. É claro que a certa altura o jornalista vai se dar conta que realmente se apaixonou por ela e que será difícil explicar a sua farsa. Mesmo sendo previsível, o argumento ganha fôlego graças ao roteiro afiado, a ambientação, figurinos e trilha sonora escolhidos a dedo e ao trabalho dos coadjuvantes. A personagem Vicki também acaba também participando sem querer de uma farsa amorosa. Ela se apaixona pelo melhor amigo e chefe de Block, Peter MacMannus (David Hyde Pierce), este que não busca apenas diversão, mas sim um casamento sólido. Porém, ele se complica com as mentiras do amigo e até sua sexualidade passa a ser questionada. Os dois casais têm muita química e conseguem arrancar boas risadas dos espectadores.

Reed tomou cuidado para que tudo em seu filme fizesse referência ao clima dos agitados anos dourados. Desde os movimentos acelerados dos personagens, passando pelo figurino colorido e a decoração cheia de detalhes e novidades tecnológicas da época, e chegando até a edição de cenas usando o recurso de ações simultâneas para provocar humor ou marcar passagens de tempo. Assim, é quase impossível não se impressionar com o excepcional casamento de áudio e imagem como, por exemplo, nas cenas de ligações telefônicas entre os protagonistas, inclusive uma bem insinuante. Também merece destaque a sequência de um banho de espuma da personagem de Renée ao som de bossa nova. Um comercial perfeito daquele tipo que até hoje é referência para anunciar sabonetes femininos.


Apesar de ser empolgante, divertido e só mesmo sendo um chato de galochas para achar algum defeito gritante, a produção não foi bem nas bilheterias quando lançado. Sua estréia ocorreu em uma época concorrida em que Hollywood despejou ao mesmo tempo nos cinemas muitos filmes blockbusters, como adaptações de quadrinhos, projetos aguardados e sequências de sucessos, assim muitas obras excelentes acabaram passando despercebidas. Já que a regra é tempo é dinheiro, quem não rendeu o esperado logo nos primeiros dias teve de ceder lugar. Abaixo o Amor foi uma das vítimas desse pensamento que rege o mundo dos negócios, mas ainda bem que existe o DVD para manter vivos esses trabalhos. Mesmo sem ter premiações em seu currículo, esta comédia vale muito a pena para aqueles que sentem saudades ou para quem deseja conhecer os anos 60. Iniciado com uma canção e finalizado de forma idem, mas com direito a Renée e McGregor soltando a voz e dançando para nosso deleite (eles já haviam feito isso respectivamente em Chicago e Moulin Rouge), podemos ter a sensação de que o filme poderia ser mais marcante caso o diretor optasse pelo gênero musical, afinal de contas, a trilha sonora excepcional e contagiante deve permanecer por alguns momentos na mente dos espectadores mesmo após os créditos finais. Nostálgicos e simpatizantes do passado divirtam-se!

2 comentários:

Luís disse...

Já li algumas boas resenhas sobre esse filme e a sua é mais uma, não somente bem escrita como também elogiando o filme, que, aparantemente, embora não marcante, é um título interessante para se ver. Eu vou procurá-lo e conferi-lo, já há algo tempo estou tentando a vê-lo.

Marcelo Keiser disse...

Quando tiver opurtunidade irei conferir! Parece bom a principio.
Agradecido.

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