Todos sabem que muitos filmes excelentes ficaram esquecidos na transição do VHS para o DVD e até hoje continuam fora do mercado, mas até mesmo no formato mais moderno muitas produções foram lançadas e rapidamente esquecidas, porém, injustamente. Esse é o caso de Morte no Funeral (2007), uma comédia muito divertida e que tem certo ar nostálgico por investir em situações de humor envolvendo um evento que reúne uma família bem numerosa e cheia de segredos, um tipo de enredo cômico muito comum em décadas passadas. É como se assistíssemos as férias frustradas do ator Chevy Chase só que aqui o cenário é o de um velório e os protagonistas são ingleses e com piadas concentradas na ponta da língua ao invés de investirem no humor de caras e bocas tão comum no cinema americano. Aliás, Hollywood não pode ver algo dando certo de outro país que logo corre atrás para adquirir os direitos de uma refilmagem, mas neste caso a cópia é um verdadeiro desastre e mais parece um episódio esticado de um seriado babaca. Prefira o original.
A história já começa bem pelos créditos iniciais mostrando uma animação em que um caixão anda sobre um mapa como se estivesse trilhando o caminho para o cemitério. Em seguida, Daniel (Matthew Macfadyen) se surpreende ao ver que o serviço funerário trocou o corpo do seu pai pelo de outro homem qualquer. Por aí já podemos perceber o que nos espera. Escândalos, confusões, revelações, lamentações exageradas e até um drogado por acaso entra em cena no funeral do patriarca de uma tradicional família inglesa de classe média. Bem, a educação e fineza deles são de fachada e a oportunidade de reunir toda a família, amigos e até algumas pessoas que só o defunto conhecia é ideal para lavar a roupa suja.
Daniel, um romancista frustrado, promete a sua esposa Jane (Keeley Hawes) uma nova vida agora que receberá uma boa herança e poderá finalmente sair da casa dos pais. Apesar dessa vontade, parece ser o único preocupado com em dar uma cerimônia de funeral decente ao pai. Ao contrário dele, seu irmão Robert (Rupert Graves) é um escritor de sucesso, vive com liberdade e é muito gastador para conseguir luxo e prazer, mas nem pensa em dividir as despesas do enterro. Troy (Kris Marshall) é o sobrinho desnaturado que pouco liga para o que ocorreu com o tio, pois sua grande preocupação no momento é entregar um frasco de pílulas que um amigo encomendou. O problema é que Simon (Alan Tudyk) vai finalmente conhecer a família de Martha (Daisy Donovan), sua noiva, e passando por uma crise de nervos acaba tomando os remédios acreditando serem calmantes, mas na verdade são substâncias alucinógenas. A moça, além de tentar esconder o comportamento estranho do rapaz à família, ainda tem de se esquivar dos assédios de Justin (Ewen Bremner), um romance do passado. Ele está no funeral ajudando Howard (Andy Nyman) com seu tio Alfie (Peter Vaughan), um cadeirante rabugento.
Neste cenário em que tipos diversos se encontram muita confusão acontece e em certas partes é difícil não reconhecer algum parente ou conhecido em cena, o que é um ponto positivo da obra. Qualquer reunião familiar tem ao menos uma fofoquinha ou um mico de alguém, assim a identificação do espectador é imediata. São hilárias as cenas do rapaz drogado por engano e as do tio que vive reclamando e ofendendo os outros, mas as coisas pegam fogo mesmo quando surge Peter (Peter Dinklage), um anãozinho que chega para empurrar a última coluna que sustentava o clã, a não ser que lhe dêem um bom dinheiro em troca de seu silêncio para não revelar algo muito comprometedor sobre o até então respeitável pai de família falecido.
O diretor Frank Oz, o mesmo que fez a comédia Mulheres Perfeitas baseado em um roteiro sinistro da década de 1970, encontrou aqui o casamento perfeito entre humor e uma situação triste. A certa altura nem parece que aquilo que vemos é um funeral e sim uma grande festa de gala em que os convidados resolveram não arriscar no figurino e usar a cor preta em massa. Do início ao fim é possível gargalhar de um produto de qualidade que não ofende a inteligência do espectador e não apela para escatologia, a não ser discretamente em uma ou outra cena. Mesmo com personagens estereotipados, sequências reveladoras que antecedem os segredos e o final forçado para colocar panos quentes em cima de todas as confusões, Morte no Funeral é um dos poucos filmes que merecem o rótulo de comédia inteligente dos anos 2000. Lançado em poucas cópias nos cinemas e sem alardes em DVD, hoje o título sobrevive em pequenas locadoras cujo dono ou atendente visa a satisfação do cliente e preza por um bom acervo. Uma conclusão por experiência própria.
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