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quarta-feira, 15 de fevereiro de 2012

ESQUECERAM DE... MINHA VIDA SEM MINHAS MÃES

Quando se fala em filme que tem como pano de fundo a Segunda Guerra Mundial, automaticamente nos vem a mente as imagens de sofrimentos, combates, mortos, feridos, tiroteios, bombas e conchavos políticos. Isso se deve ao fato dos inúmeros filmes que já trabalharam com a temática. Também é comum enxergarmos os fatos da época através do olhar americano, já que os EUA é um dos países que mais produz obras calcadas no tema. Felizmente, existem cineastas e produtores que preferem ver estes tempos difíceis por uma ótica mais branda, pelos olhos inocentes das crianças, mas este viés também já rendeu demais. Para quem gosta de histórias que retratam o período, mas está cansado da mesmice, que tal procurar títulos do mesmo tipo em filmografias de outros países? Uma boa pedida é Minha Vida Sem Minhas Mães (2005), um belíssimo trabalho da Finlândia.
Infelizmente, graças ao enxuto currículo escolar que temos no Brasil e até mesmo pela falta de vontade das pessoas em buscarem cultura por outros meios, há uma tendência de algumas pessoas acharem que o impacto dessa guerra que marcou a década de 1940 só tenha sido sentido em solo americano e em alguns países europeus e asiáticos, mas os conflitos surtiram efeitos em todo o mundo, em maior ou menor grau. Neste trabalho do cineasta Klaus Häro, um promissor talento que aqui assina seu segundo projeto atrás das câmeras, encontramos um novo ângulo para compreender o período da Segunda Guerra Mundial que nos ajuda a montar uma pequena parte do quebra-cabeça da época e compreender a situação de alguns países em relação ao conflito.

A história se passa em 1943, quando a guerrilha entre países se acirrava cada vez mais. O pequeno Eero (Topi Majaniemi) vivia muito feliz ao lado dos pais na Finlândia até que seu pai Lauri (Kari-Pekka Toivonen) foi convocado para a guerra. Ele prometeu que voltaria logo e que tudo ficaria bem, mas o destino não quis assim. O pai de Eero morre no front e sua mãe, Kirsti (Marjaana Maijala), toma a difícil decisão de mandar seu único filho para a Suécia onde ele poderia ficar em segurança com uma das famílias do local que se ofereceram a prestar ajuda acolhendo as crianças que corriam risco em países vizinhos. O garotinho finlandês vai então morar com os Jönssons, um clã tradicional que vive em um ambiente bucólico. Muito bem recebido pelo senhor Hjalmar (Michael Nygvist), o mesmo não ocorreu por parte de sua esposa, Signe (Maria Lundgvist), que o recebeu em sua casa, mas não em seu coração.
Sem falar a mesma língua e possuir os mesmos hábitos, Eeros se sente desconfortável vivendo com essa família e a falta de atenção e carinho de Signe só acentua essa situação.  Ela esperava uma menina que a ajudasse nos serviços de casa e não gostou nada de abrigar um garoto. Sua mãe adotiva também passa a esconder as cartas da mãe biológica e lhe entrega apenas aquelas que considera conveniente após ela própria ler e avaliar. Assim, com a escassez de notícias da mãe verdadeira e com a hostilidade da adotiva, ele se sente sem o carinho de suas duas mães, mas as circunstâncias tratam de aproximar Signe de Eero e ele descobre as razões desta mulher o ter desprezado inicialmente.


Esta história baseada em fatos reais deve ter se repetido em vários países. Muitas pessoas procuraram refúgios em países considerados seguros, inclusive no Brasil. No caso da Finlândia, aliada da Alemanha e em luta contra a antiga União Soviética, milhares de crianças foram enviadas para a Suécia e Dinamarca sem os pais e foram adotadas temporariamente por famílias voluntárias, pois havia o medo de represálias aos finlandeses. Provavelmente, muitos desses adotados sofreram para se adaptar as novas condições de vida e também pela falta de notícias de seus parentes, assim vivendo sem saber ao menos se um dia voltariam a encontrá-los. Contado em flashback, o ator Esko Salminen vive o protagonista quando ele já está idoso. É interessante que o presente de Eero é mostrado em preto e branco enquanto seu passado é exibido em imagens coloridas.
Exibido em 2005 com sucesso na Mostra Internacional de Cinema de São Paulo e conquistando 11 prêmios em festivais mundo a fora, Minha Vida Sem Minhas Mães é um belíssimo filme que merecia ter tido maior visibilidade quando lançado em DVD. Nos cinemas, só mesmo mostras e cineclubes cederam espaço ao longa. É uma pena que hoje ele seja uma raridade e só as boas locadoras ou colecionadores possuem uma cópia legítima. Se encontrar alguma delas, não pense duas vezes. Assista e se emocione com mais uma bela história que expõe outro lado das conseqüências do triste período da Segunda Guerra Mundial.

Um comentário:

renatocinema disse...

Bela lição.

Quem não procura nada fora o padrão americano só assiste um lado da guerra.

A guerra foi muito mais profunda do que nós, mortais, possamos imaginar.

Parabéns.

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