As festas de fim de ano acabaram e hoje
muita gente está colocando o pé na estrada, se acomodando em um navio ou
embarcando em um avião para curtir alguns dias de descanso em um lugar longe de
casa para esquecer qualquer preocupação. A dica de hoje, O Exótico Hotel Marigold
(2012), é um agradável passeio pela Índia na companhia de um elenco de luxo
reunido pelo diretor John Madden finalmente realizando um trabalho relevante
após o premiado Shakespeare Apaixonado.
O longa é uma comédia simpática com toques dramáticos que não é perfeita, tem
suas falhas, mas talvez o seu jeito despretensioso a transforme em um belo
entretenimento. A história pode ser resumida simplesmente como a crônica de um
grupo de pessoas da terceira idade que deseja descansar um pouco dos ares
ingleses e decide experimentar o tempero do Oriente Médio. O que torna esta
experiência interessante é que eles não se conhecem até a chegada ao aeroporto
para embarcarem e cada um tem um motivo particular para esta viagem.
Muriel (Maggie Smith) é uma
ex-governanta preconceituosa com estrangeiros que possui um problema de saúde e
precisa ser operada as pressas. Douglas (Bill Nighy) e Jean (Penelope Wilton)
são casados há anos e precisam se adaptar à nova situação financeira que os
abala. Evelyn (Judi Dench) perdeu o marido há pouco tempo, mas não quer ficar
sob os paparicos de familiares. Graham (Tom Wilkinson) é um juiz recém-aposentado
que quer voltar à Índia para resolver problemas do passado envolvendo um amor
impossível. Por fim, Norman (Ronald Pickup) e Madge (Celia Imrie) não perderam
as esperanças de encontrar um grande companheiro, nem que seja para viver
juntos os últimos momentos que lhes restam, mas enquanto o parceiro ideal não
aparece eles tentam se divertir com rápidos relacionamentos. Estes são alguns
dos novos hóspedes do Hotel Marigold que se empolgam com a publicidade do
local, mas quando chegam lá se deparam com um prédio decadente e com
infra-estrutura que deixa a desejar. Entretanto, todos acabam envolvidos pelo
entusiasmo do jovem Sonny (Dev Patel) que sonha em ver o tal hotel revitalizado
e assim aceitam ficar hospedados sem saber que as experiências que viverão
nesse exótico país mudarão para sempre suas vidas.
Baseado no livro “These Foolish
Things”, de Deborah Moggach, o roteiro de Ol Parker, que já tinha demonstrado
extrema delicadeza ao abordar o lesbianismo na comédia romântica Imagine Eu e Você, agora reúne toda a
sua sensibilidade para orquestrar uma história que aborda vários aspectos que
envolvem a terceira idade, todos apontando que a velhice não deve ser encarada
como um sinônimo de morte. Se você está vivo deve viver seja aprendendo a lidar
com a solidão ou com seus medos ou desfrutando de suas amizades e até mesmo dos
prazeres que o sexo pode oferecer. O que prejudica relativamente este trabalho
é que cerca de duas horas é pouco para desenvolver satisfatoriamente tantos
ganchos narrativos interessantes, um problema que fica mais evidente nos
primeiros minutos quando são apresentadas as principais características de cada
um dos idosos que embarcarão para essa viagem à Índia. Ainda assim, o restante
do longa não dá conta de explorar tudo o que poderia ser extraído de todas as
subtramas, sendo a mais relevante a do aposentado Graham, levando ainda em
consideração que o personagem Sonny não fica perdido na trama apenas como um
entusiasta que não quer vender o terreno do hotel de sua família para preservar
um pouco de sua essência e tradições. Ele também tem sua trama paralela vivendo
em conflito com sua rígida mãe, a Sra. Kapoor (Lillete Dubey), que é contra o
casamento do rapaz com a jovem Sunaina (Tena Desae) a quem ela não considera
ser uma mulher com qualidades para uma esposa perfeita.
À primeira vista essa mistura de
histórias pode parecer um tanto confusa, mas o cineasta britânico soube
aproveitar ao máximo o seu elenco de veteranos e as paisagens indianas para
trazer movimento ao seu longa que carrega do início ao fim a essência do cinema
europeu. O início, com os problemas no aeroporto, a viagem improvisada de
ônibus e a decepção de se deparar com um hotel em frangalhos, poderia nas mãos
de um diretor despreparado se tornar uma comédia boboca que no fundo só
serviria para expor personagens da terceira idade à situações ridículas e assim
jogando por água abaixo qualquer lição de vida. Porém, Madden trouxe realismo a
tais situações e soube criar vínculos tanto entre os personagens quanto para
que os espectadores se envolvessem com seus dilemas, desde uma morte súbita até
romances inesperados. A chegada à Índia fará com que cada um deles se aproxime
cada vez mais formando assim um grupo unido no qual todos prestam solidariedade
uns aos outros para ajudar a enfrentar os problemas do passado, do presente e
do futuro, além do auxílio para se adaptarem a diferente cultura do país.
Apesar de para muitos ser apenas um
apanhado de clichês, com personagens estereotipados vivendo situações
previsíveis, O Exótico Hotel Marigold carrega consigo certo toque de
originalidade. Quase como um road movie, colorido, intenso e adornado pelas
belíssimas e praticamente desconhecidas paisagens indianas, esta obra é uma
excelente opção para quem busca uma comédia com conteúdo. Hoje em dia sabemos
que já existem produções do gênero voltadas ao público mais maduro, mas ainda
assim muitas delas deixam a desejar por investirem em situações vexatórias
expondo assim seus personagens ao ridículo, um erro comum principalmente de
Hollywood. Madden e seu jeito elegante e tipicamente britânico de fazer cinema
trazem nesta produção uma imagem digna e positiva do idoso, mostrando não
somente ao público da terceira idade, mas também para todas as outras idades
que não devemos em hipótese alguma desistir da vida e que envelhecer é só o
começo de um novo tempo que pode ser muito bom, tudo depende de você mesmo. Em uma
época tão conturbada como a atual, quando todas as nações sofrem principalmente
com a falta de respeito e amor ao próximo, faz bem assistir a filmes deste tipo
que resgatam valores importantíssimos e nos deixam mensagens para refletir.
Qual o problema, por exemplo, de uma das personagens ser preconceituosa com
pessoas de outras nacionalidades e graças a uma simples viagem mudar sua
opinião quanto a xenofobia servindo assim de exemplo a ser seguido? Clichê
demais? Parece que o mundo precisa muito desses clichês para se tornar um lugar
melhor.
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