Um sábado de verão é excelente
para fazer uma visita ao zoológico, mas já pensou como deve ser a rotina de
quem tem um monte de animais em casa? Essa provavelmente é a primeira ideia que
o título Compramos um Zoológico (2011) deve passar, mas seu conteúdo
está longe de ser uma comédia bobinha protagonizada por bichinhos falantes ou
um filme no qual os humanos sofrem um bocado para cuidar de seus pets
endiabrados. Embora calcado em clichês, esta obra pode surpreender, tanto de forma
negativa quanto positiva dependendo do ponto de vista, principalmente pelo fato
do enredo explorar mais o drama que a comédia. Deve ser este o motivo da obra
não ter feito grande sucesso e ser recebida com estranheza por boa parte dos
espectadores que esperavam assistir outra coisa. No entanto, esta repulsa não
deve ser encarada como um atestado de que a produção é ruim, pelo contrário,
ela se encaixa perfeitamente na definição “feel good movie” tão popular entre
os americanos, algo como filme bacana, leve, família entre outros adjetivos
positivos.
O roteiro de Aline Brosh McKenna,
que também roteirizou O Diabo Veste Prada,
é baseado no livro de memórias homônimo ao filme escrito por Benjamin Mee. Matt
Damon vive o protagonista, um jornalista que após a morte precoce da esposa tem
de encontrar forças para dar continuidade à sua vida e para cuidar dos filhos,
a pequena Rosie (Maggie Elizabeth Jones) e o adolescente Dylan (Colin Ford). O
garoto, para variar, é um tanto rebelde e vive aprontando na escola até que
chega o dia em que ele é expulso definitivamente. É nesse momento que Mee
percebe que sua família precisa se reestruturar e o primeiro passo é procurar
uma nova casa para deixar no passado as más lembranças. Pai e filha querem um
lugar agradável e com uma boa área livre, mesmo que fosse um pouco afastado da
cidade. O local escolhido para fixarem moradia é um tanto excêntrico: um
zoológico desativado. Rosie adora a ideia, mas Dylan detesta, porém, o chefe da
família decide por tentar revitalizar aquele espaço e gasta todas as suas
economias, mas conta com a ajuda de uma equipe especializada que também está
empenhada nesta tarefa, uma turma liderada pela bela Kelly Foster (Scarlett
Johansson), uma jovem que se dedica integralmente aos animais e que ajudará seu
mais novo amigo a cuidar e principalmente compreender a importância deste
zoológico para todos que lá trabalham e para a população local.
Os clichês do longa já começam pela premissa. A
morte de um ente querido estragando a felicidade de toda uma família. O pai
entristecido que se distancia dos filhos. O adolescente adotando um
comportamento reprovável como forma de demonstrar sua raiva. Depois temos a
ternura da cena em que Mee vê sua filha interagindo alegremente com alguns
animais, algo que inevitavelmente amolece o coração deste homem que então
decide arcar com as despesas do local, salvando assim não só a vida dos bichos,
mas também as dos funcionários do zoológico e as de sua própria família. No
recheio do roteiro não faltam cenas tocantes como as que envolvem o sofrimento
de um animal que precisa ser sacrificado e até aquela paradinha para relembrar
o passado através de fotografias de momentos felizes do protagonista e sua
falecida esposa. O longa não se aprofunda muito dramaticamente nas questões
sobre como lidar com a morte, afinal é uma produção que visa principalmente o
público infantil. O que fica mais em evidência é a busca de um objetivo de
vida, algo para ocupar o tempo e a cabeça. O protagonista vê na recuperação do
zoológico uma forma de se redimir da culpa que sente por não ter uma família
plenamente feliz. Ainda é possível concertar alguns erros. Ao revitalizar o
espaço abandonado também é possível estreitar os laços afetivos entre pai e
filhos e de todos eles com a própria vida que tem seus momentos cruéis, mas
também está repleta de eventos maravilhosos para todos desfrutarem.
Do elenco talentoso, devem ser
destacadas as interpretações da adorável garotinha Maggie que participa de
cenas importantes, de Scarlett Johansson que deixa de lado o estilo sensual tão
marcante em suas interpretações para encarnar uma mocinha romântica mais
convencional, e também de Elle Fanning como Lilly, uma típica garota do
interior que apesar de pouco explorada pelo roteiro consegue chamar a atenção
como o interesse amoroso do jovem Dylan. Para quem se espanta com a boa direção
de atores e diálogos eficientes em um produto na melhor tradição a la sessão da
tarde, basta dizer que quem orquestra toda esta produção é o famoso diretor
Cameron Crowe, que teve seu nome elevado às alturas uma década antes com o
fenômeno Quase Famoso. Seu talento só
tem a somar coisas positivas a este trabalho, porém, sua presença atrás das
câmeras para alguns também pode ser um problema. Conhecido por obras mais
autorais, Crowe tem um currículo eclético, ainda com poucos trabalhos devido à
lacuna de tempo que costuma deixar entre suas produções, e após seis anos
afastado do cinema resolveu trabalhar com uma história simplória para o
desespero de seus fãs mais conservadores. Sim, ele optou por dirigir e
colaborar no roteiro de uma história de superação e conseguiu um resultado
acima da média comparando-se com outras produções do tipo. Baseado em fatos
reais, este filme não esconde seus vários clichês, mas compensa tudo com
diálogos inteligentes e envolventes, interpretações convincentes e uma
impecável fotografia que destaca ambientes e paisagens ensolarados, o que acaba
trazendo ao público um contagiante clima alto astral.
Talvez o que faltou neste caso
para Crowe foi a ambição de chegar a um patamar elevado, ainda que seu
penúltimo longa, Tudo Acontece em
Elizabethtown, também tenha sido recebido de forma fria pelo público e
dividido opiniões dos críticos. Todavia, Compramos um Zoológico conta com a
ideia principal que permeia boa parte da filmografia do diretor: a busca pela
felicidade se arriscando. O que deve ter irritado muita gente é o fato do
cineasta ter adotado fielmente a fórmula dos citados “feel good movies” e não
ter trazido inovação alguma a esse tipo de produção. Até a trilha sonora
escolhida, quesito que geralmente se sobressai em suas obras, neste caso é um
tanto convencional, apostando em timbres africanos, algo corriqueiro em filmes
com animais. Todavia, vale destacar que o diretor tenta ao máximo evitar as
lições de moral exageradas e procura escamotear os clichês o quanto pode, ainda
que não resista a usar sua câmera para dar closes nos olhares tristes ou
ingênuos dos bichinhos para satisfazer aos apelos melodramáticos
característicos deste tipo de produto. É bom ver que diretores consagrados não
se preocupam apenas com status, elogios e prêmios, mas sim em contar boas
histórias, independente delas já terem sido levadas às telas centenas ou
milhares de vezes. Cada cabeça é uma sentença e um mesmo tema pode gerar infinitas
interpretações. Crowe procurou e conseguiu trabalhar com o assunto superação
optando pelo viés do falecimento de um ente querido e a desestruturação de um
núcleo familiar atingindo resultados acima da média. Tal qual o protagonista da
história, o diretor jogou-se em uma arriscada empreitada em busca de um
objetivo. Ainda com o pé atrás quanto a este trabalho? Arrisque-se. Certamente
mal algum ele lhe trará.
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