Existem alguns filmes
que não passam nos cinemas, chegam as locadoras timidamente, mas acabam
encontrando espaço na TV para serem repetidos aos montes, porém, alguns sofrem
com o ostracismo em todos os caminhos que um longa-metragem teoricamente
deveria percorrer, como é o caso de Submersos (2002), um eficiente
suspense que tinha tudo para agradar uma parcela considerável de público, mas que no final das contas continua quase desconhecido até hoje. A idéia original é do cultuado Darren
Aronofsky que desejava unir suspense e aventura de guerra em um mesmo trabalho,
este que seria o segundo com sua assinatura como diretor. No final das contas
ele passou o cargo para David Twohy, de Eclipse
Mortal, outro filme de carreira fracassada. Ambos dividiram os créditos
como roteiristas, mas nem o nome de Aronofsky nos créditos salvou a produção de
submergir no limbo.
Na época de seu
lançamento, sem campanha alguma nos EUA e diretamente para locação no Brasil,
ainda o público estava extasiado com o fenômeno de obras com conteúdo
sobrenatural-psicológico como O Sexto
Sentido e Os Outros, e estava na
moda filmes sobre conflitos envolvendo submarinos e guerra, como K-19 – The Windowmaker e U-571 – A Batalha do Atlântico, assim o
momento parecia propício para aproximar as duas temáticas em uma mesma obra. A
trama se passa em meio a Segunda Guerra Mundial, mais especificamente em 1943,
quando um submarino americano recebe ordens de mudar o seu curso para resgatar
sobreviventes de um navio-hospital inglês que pode ter sido alvo de um ataque
de alemães. Apenas três pessoas são resgatadas com vida, entre elas a
enfermeira Claire Paige (Olivia Willians), que poderia ser vista pela
tripulação de resgate com olhos maliciosos por ser a única mulher a bordo, mas
a reação é oposta.
Segundo a tradição
marítima, ter uma mulher a bordo é sinal de mau agouro e coincidência ou não
após a chegada de Claire coisas estranhas começam a acontecer dentro do
submarino e o pânico toma conta da tripulação. Agora além de tentarem fugir de
um navio que parece inimigo, eles precisam enfrentar forças ocultas que a
princípio alertam sobre os perigos da viagem, mas não demoram em transformá-la
em um pesadelo. Uma vitrola começa a tocar um disco do nada, falhas mecânicas passam
a ocorrer, o submarino é atacado por cargas de profundidade e algumas pessoas
passam a ter visões estranhas ou morrerem em acidentes misteriosos. Para
completar, o submarino não está conseguindo emergir à superfície, o oxigênio
está acabando e o gás carbônico gerado pelos motores toma conta do interior do
veículo. O oficial Brice (Bruce Greenwood) tenta afastar a idéia de que algo
sobrenatural esteja acontecendo, mas ao que tudo indica sabe muito mais do que
o esclarecido à tripulação.
Quem pensa que este é um
filme que nada mais é que uma variação do que se pode acompanhar em uma trama
sobre casa mal-assombrada se engana. Apesar de alguns sustos previsíveis e do
clímax do suspense ser dissolvido bem antes do final, a atmosfera
claustrofóbica conseguida é única e o grande trunfo da produção. Twohy
aproveita muito bem seu espaço cênico limitado usando angulações de câmera
inteligentes e aumenta a tensão ao conseguir deixar o mínimo de luz possível
iluminando os personagens em boa parte das cenas. Outro ponto de destaque é a
condução da história que evita a violência e o sangue explícito. Os elementos
sobrenaturais são introduzidos aos poucos e chegam a ser tão sutis que podem às
vezes passar despercebidos pelos olhares mais dispersos. Todavia o roteiro,
como já dito, derrapa ao revelar boa parte dos segredos ainda com um tempo
considerável de narrativa pela frente, assim perde-se a chance de explorar mais
a grande dúvida do longa: todos os estranhos acontecimentos tem realmente
relação com algo sobrenatural envolvendo o passado do submarino ou de seus
tripulantes ou são apenas alucinação provocadas pelo estresse diante de situações
de extremas dificuldades?
Mesmo não sendo uma
obra-prima do suspense, Submersos cumpre seus objetivos
dignamente. Algumas das poucas pessoas que o viram até o tacham como um
legítimo filme B, mas fora seu orçamento modesto ele engana bem como produto de
primeira, principalmente pelo ar de novidade que carrega em meio a tantas ideias
capengas que são requentadas inúmeras vezes. Uma pena que hoje em dia é um
título fora de catálogo, mas uma boa locadora deve ter esta pérola em seu
acervo com toda a certeza.
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