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quarta-feira, 28 de setembro de 2011

ESQUECERAM DE... O VIAJANTE

O tempo passa e geralmente os filmes com alto teor dramático ficam mais marcados e lembrados sempre, mas nem sempre isso ocorre é há inúmeros dramas que ficaram perdidos no tempo. A palavra tragédia é entendida como um acontecimento que desperta tristeza e horror e talvez tenha partida dai a idéia inicial para que o escritor suíço Max Frisch escrevesse nos anos 50 o clássico existencialista "Homo Faber" que ganhou sua versão cinematográfica sob a batuta do cineasta alemão Volker Schloendorff. O Viajante (1992) basicamente é a história de um triângulo amoroso cujas raízes remetem as antigas tragédias gregas, mas tem mais a oferecer, principalmente através de seu protagonista. Poderia se tornar uma obra de difícil assimilação pela maior parte do público já que é derivado de um livro com caráter intimista e com um tema para reflexão, mas o diretor teve a habilidade e a sensibilidade necessárias para transpor toda a carga dramática contida nas páginas para um belo filme e acessível filme. Bem, o acessível fica por conta do estilo narrativo adotado, elegante e feito para agradar cinéfilos, já que esta é mais uma produção cinematográfica inexistente na era do DVD.

O protagonista da trama é o engenheiro Walter Faber (Sam Shepard), um homem aficionados pelas ciências exatas, máquinas locomotoras e que acredita que qualquer trabalho deve ser encarado como um projeto de vida. Entre as várias viagens e tarefas que realiza, ele sempre reafirma o seu caráter de homem racional a fim de encobrir a sua ausência de emoções. Sim, ele foge da emoção justamente por ela ser algo imprevisível. Para ele, tudo que fuja a razão lhe amedronta, mas todos seus cuidados não o impedem de vivenciar a experiência de estar em um avião com problemas. Ele sobrevive ao susto, mas não consegue impedir que o episódio o aproxime de uma das coincidências que tanto teme. Um dos passageiros, Dieter Kirchlechner (Herbert Henke), é irmão de um amigo que não vê há muitos anos. Faber, Joachim (August Zirner) e Hannah (Barbara Sukowa) eram muito amigos quando a Segunda Guerra Mundial foi iniciada.



Hannah foi uma paixão antiga de Faber e Dieter diz que depois que eles se separaram a moça se casou com Joachim e juntos tiveram uma filha, mas a união do casal não durou muito. Mexido com o reencontro que despertou suas emoções ao recordar o passado, o engenheiro segue para Nova York onde ele encontra a jovem. Temendo a imprevisibilidade da relação, ele embarca em um navio rumo a Paris, mas uma nova surpresa lhe acontece. A bordo encontra Sabeth (Julie Delpy), uma moça com idade para ser sua filha, mas que desperta nele o sentimento de paixão que até então ele próprio julgava adormecido para sempre. Porém, o relacionamento entre eles dá início a uma série de coincidências que podem se revelar trágicas e modificar profundamente a vida deste metódico homem.

Schloendorff, acostumado a abordar temas complexos e apresentá-los de forma mais simplificada ao público, aqui mais uma vez aplica um olhar maduro e reflexivo sob a história que ganha mais força com a interpretação vigorosa de seu elenco. O próprio autor do livro em que o longa se baseia participou da escolha dos atores e discussões sobre o roteiro, mas faleceu no mesmo ano da conclusão da obra. A francesa Julie Delpy, hoje muito conhecida por seus trabalhos alternativos, na época ainda era desconhecida e conseguiu o papel muito por causa da semelhança que tinha com a mulher que inspirou Frish a criar a personagem. Para o cineasta, o material do livro é uma reflexão sobre a tentativa do homem de ordenar o mundo a seu gosto seguindo fórmulas e regras, mas a vida trata de pregar suas surpresas para provar que ela e a ação do tempo são implacáveis e imprevisíveis. Belissimamente fotografado e com locações em diversos países, O Viajante é mais um trabalho realizado com proposta interessante e atemporal, mas que infelizmente não está disponível no mercado. Mesmo com a boa aceitação que os filmes reflexivos têm hoje em dia, ainda há muita produção excelente esquecida nos tempos das fitas cassete.

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