Finalmente as férias de julho estão começando para muita
gente. Embora o período seja de descanso muito mais para as crianças e
adolescentes, sempre alguns adultos têm a sorte de tirar uns dias de descanso
nessa época, seja apelando para a idéia de que precisam aproveitar um pouco a
companhia dos filhos ou sacrificando alguns dias que poderiam tirar mais para
frente passando um mês inteirinho de pernas pro ar. O fato é que muitos já
estão cansados das broncas e ordens dos patrões, assim a pedida para começar
bem as férias é se divertir com Quero Matar Meu Chefe (2011), mais um exemplar
da corrente de humor negro e politicamente incorreto que pegou de jeito o
cinema americano e que busca agradar o público na casa dos 20 aos 40 anos, mas
que acaba fazendo a diversão de todas as idades. Ok, não é uma opção
aconselhável para crianças, mas os adolescentes com certeza vão curtir. Basta
trocar a imagem do chefe pelo professor. Quem na hora da raiva nunca pensou em
castigar um deles?
Em tempos em que as sociedades de todo o mundo buscam a paz,
no mínimo, entre as pessoas que são obrigadas a conviver em um mesmo ambiente,
pode soar controversa a idéia de que um subalterno trame uma vingança fatal
contra o chefe, uma afronta a hierarquia das organizações, mas tal gancho já
foi utilizado com estilo por Alfred Hitchcock em Pacto Sinistro na década de
1950 e de forma bem escrachada por Danny DeVito mais de três décadas depois
levando o assunto para a cozinha em Jogue a Mamãe do Trem. Agora o tema volta
em dose tripla pelas mãos de Seth Gordon, o mesmo diretor de Surpresas do Amor.
O título nacional resume perfeitamente a premissa do longa. Três amigos estão
cansados dos abusos dos chefes e passam a fantasiar planos para eliminar seus
respectivos carrascos e chegam até mesmo a consultar o ex-presidiário MF Jones
(Jamie Foxx), porém, são eles mesmos que vão ter que executar o serviço sujo.
Nick Hendricks (Jason Bateman) se dedica muito ao seu trabalho em um escritório
e sofre com as ordens descabidas de Dave Harken (Kevin Spacey), mas aguenta
firme sonhando com uma promoção. Dale Harbus (Charlie Day) é o assistente da
despudorada dentista Julia Harris (Jennifer Anniston), que vive tentando o
rapaz que se mostra muito correto e fiel à noiva, mas, ardilosa como ela só, já
tem um plano na manga para fazer seu pupilo sair da linha na marra. Por fim,
Kurt Buckman (Jason Sudeikis) é um contador que vai precisar se adaptar ao novo
chefe, o filho do antigo patrão, Bobby Pellit (Colin Farrell), um boa vida que
passa mais tempo no banheiro fazendo o que não deve do que trabalhar.
O elenco, como visto, é muito bom e todos com experiência no
campo do humor, aliás, alguns já tem até demais. Entre os patrões, é impossível
não gargalhar desde a primeira cena de Jennifer, deixando de lado o tom
anestesiado que adota geralmente em suas comédias românticas, mas para Farrell
sobra um puxão de orelha por sua caracterização horrenda, ainda que ela ajude a
compor um tipo que deve causar repulsa em quem assiste. Já o trio de heróis (ou
talvez anti-heróis), todos se saem bem, porém, o crédito maior deve ser dado a
Day em seu primeiro papel protagonista no cinema. Ele faz o tipo bocó da trupe
e tem as piadas mais divertidas, muitas aproveitando o perfil “viajado” do
personagem. Até Foxx que não aparece muito tem seu momento de brilhar com uma
piada acerca do motivo que o levou à prisão (ah se no Brasil a polícia fosse
tão eficiente assim). A cena é rápida mais crucial para compreendermos o que
leva o trio de vingadores sem experiência à luta. Entre piadas criativas,
outras previsíveis, muitas que se apóiam nos recursos visuais e outras tantas
de teor escatológico ou apelativo, obviamente ninguém pode esperar um filme
revolucionário. A história trata de alinhavar direitinho as peripécias dos
protagonistas contando com uma edição ágil e sem encher lingüiça. Praticamente
do início ao fim é possível dar boas risadas.
O roteiro é assinado pelos estreantes no cinema John Francis
Daley, Jonathan M. Goldstein e Michael Markowitz, todos oriundos de seriados de
TV, e provavelmente eles devem ter se inspirado em fatos de suas próprias vidas
para criar esta produção escapista que não tem pretensões de fazer críticas
audaciosas quanto as relações e ambientes de trabalho, embora não seja difícil
que muitos expectadores reconheçam seu cotidiano, sejam eles empregados ou
patrões. O filme já começa bem com uma introdução que, apesar de bem rápida,
apresenta claramente qual o conflito de cada um dos personagens e já começa a
disparar piadas, o que ajuda o espectador a entrar no clima anárquico do
enredo. Apesar do ar escrachado, boa parte do humor adotado aqui é coisa rara
ultimamente, ainda que algumas tiradas já sejam manjadas. Por exemplo, quantas
vezes o cinema já não adotou a tática da vítima estar na frente do seu possível
assassino e este se embananar e deixar a chance passar? Provavelmente você já
deverá ter esquecido a última vez que gargalhou com tanta vontade quando ver
Harbus apunhalando repetidas vezes o chefe de um dos amigos com uma injeção de
insulina sem saber que ele era um dos alvos a serem eliminados. Salvar essa
vida é só uma das várias bolas fora do personagem.
Ao longo de toda duração de Quero Matar Meu Chefe o
espectador é convidado a participar de um turbilhão de sequências excêntricas,
exageradas e frustradas que parece não ter fim. Uma das grandes proezas desta
comédia é fazer pegadinhas. Quando achamos que as coisas estão para ser
resolvidas, um fato novo embola tudo outra vez. Pelo menos, a história consegue
prender atenção e não é desonesta. Anos atrás tivemos um sucesso cult chamado Como
Enlouquecer Seu Chefe e seria fácil algum marqueteiro sugerir a ligação entre
os dois filmes para atrair a atenção. Gordon já deixou avisado desde a premissa
que seu objetivo é fazer humor puro, sem se preocupar com grupos que podem
apontar sua obra como ofensiva ou desagradar quem busca uma comédia do tipo
cabeça. Ainda que no conjunto a imagem de humor convencional prevaleça, esta
produção guarda boas surpresas que merecem ser descobertas. Deixe o espírito
extremamente crítico de lado e relaxe, afinal as férias estão começando e nada
melhor que sonhar com a possibilidade de seu chefe não existir. Quem nunca
viveu um momento como o dos protagonistas reclamando em uma mesa de bar após um
dia duro de trabalho que atire a primeira pedra.
Um comentário:
Parece ruim, mas acho que há algo nesse pôster que me remete a um outro aravilhoso filme com a Jennifer Aniston, que é "Como Enlouquecer seu Chefe"! Talvez eu confira esse título aí...
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