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quarta-feira, 30 de novembro de 2011

ESQUECERAM DE... INSTITUTO DE BELEZA VÊNUS


O cinema francês infelizmente não goza de um grande prestígio no Brasil. Até mesmo entre os que gostam de produções do circuito alternativo existem aqueles que teimam na idéia de que os filmes da França são chatos, arrastados e na maioria das vezes não chega a lugar algum. Porém, existem exceções. Uma pena que elas ganhem títulos que para muitos se tornam piada. Os estrangeiros tem a tradição de batizar suas obras cinematográficas com uma única palavra enigmática ou então capricham na escolha de elementos que aparentemente não refletem a idéia do longa. E o que dizer de um título que realmente tem a ver com o enredo, mas que pode soar como piada? É o que acontece com Instituto de Beleza Vênus (1998), uma elogiada produção feita sob medida para agradar ao público feminino que obviamente ficou restrita a um público restrito. Para os habituados a filmes mais cults o título é excepcional, mas para o povão nem precisa dizer que ele cai na gargalhada logo comparando a nome de salão de cabeleireiro de esquina.


O roteiro centraliza-se na personagem de Angèle (Nathalie Baye), uma esteticista que prefere encontros casuais a manter um relacionamento sólido. Aos 40 anos, ela já foi muito machucada e iludida no amor e já não está mais na idade de acreditar em príncipes encantados. Cada novo homem que conquista é como se fosse um tratamento de beleza que lhe retira as marcas de expressões de uma vida relativamente triste. Isso até o dia em que um garotão cruza seu caminho. Ela se apaixona rapidamente por Antoine (Samuel Le Bihan) e deseja um relacionamento duradouro com o rapaz, mas ela terá que enfrentar uma namoradinha dele que não admite ser trocada por uma mulher mais velha. Tal situação até pode parecer engraçada inicialmente, porém, com o passar do tempo os problemas se tornam sérios. Ela não sabe como agir e o amor parece realmente não fazer parte de seu mundo. Aliás, o universo da esteticista parece se restringir ao salão de beleza onde trabalha e suas companhias são as colegas Samantha (Matilde Seigner), uma namoradeira, e Marie (Audrey Tautou), uma jovem aparentemente tímida. A clientela do lugar é um tanto variada e curiosamente lembram tipos comuns em obras do Pedro Almodóvar. Tudo isso junto resulta em um longa que mistura de forma eficiente drama e humor.


Apesar de o enredo ter como atrativo principal os conflitos amorosos de Angèle, existem outras histórias que pontuam o longa e que carregam uma essência feminista. Por exemplo, Marie seduz um homem já idade, mas muito rico, atraída pela possibilidade lucrar financeiramente com a relação. Nesse instante, a protagonista percebe que o importante na vida é viver o presente e finalmente se entrega ao amor de seu jovem apaixonado e enxergar a vida de outra maneira. Antes ela estava acostumada a viver o cotidiano das outras pessoas que ela observava diariamente através dos vidros das janelas de sua casa, restaurantes e principalmente do próprio salão. As conversas fúteis de suas clientes colaboravam para que ela imaginasse que a felicidade é um sonho impossível. Esse olhar feminino, ora romântico, ora ácido, se deve muito ao fato do filme ser dirigido por uma mulher. Tonie Marshall conseguiu com esta sua visão peculiar de um salão de beleza faturar quatro troféus César, o Oscar francês, incluindo melhor filme, direção e roteiro. Ela construiu diálogos eficientes e realistas graças a sua pesquisa in loco, mas isso não torna a sua obra proibida para homens. Eles também têm subsídios suficientes na trama para se divertirem.

Muito interessante também os cenários, o contraste entre o sossegado salão e a selva das ruas. Para ampliar as diferenças entres esses dois ambientes, o instituto ganhou ares de butique ou até mesmo de um aquário. Muitas cenas mostram as pessoas se movendo naquele mundinho particular e as luzes de neon reforçam o lado kitsch do local. A concentração de pessoas por lá facilita a relação de intimidade entre personagens e espectadores, porém, limita demais o avanço da história, mas algo recuperado quando a câmera passeia por outras ambientações. De qualquer foram, a ação acaba sempre voltando para a casa dos cremes e maquiagens, onde as fofocas são feitas de forma educada e em ambientes reservador. Pode soar estranho, pois o modelo de salão de beleza brasileiro é bem diferente.




Muito sensível e envolvente, Instituto de Beleza Vênus é um ótimo exemplo de obra que equilibra bem características do cinema de arte com o comercial. A história de fácil assimilação, momentos divertidos e outros comoventes, só derrapa no final quando o tom realista abre espaço para o romantismo exacerbado explícito inclusive no visual. Os últimos minutos mostram-se tão artificiais quanto a ambientação do salão que vende a beleza como uma falsa tentativa de se encontrar a felicidade. Todavia, um longa muito bonito e que merecia encontrar um amplo público, pena que sua ausência no mercado nacional já dure vários anos. Talvez reflexo da pouca procura que teve quando lançado ou até mesmo da falência de sua distribuidora. Uma última curiosidade é que o filme fez tanto sucesso na França e em alguns outros países que acabou gerando a série televisiva "Vênus & Apollo" em 2005 mantendo o foco no mundo feminino através dos olhos das funcionárias de um instituto de beleza.

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