Hoje é a noite em que se
comemora o Halloween, popular festa americana que acabou sendo abraçada em
outros países, como o Brasil. Tradicionalmente as pessoas festejam a data se
fantasiando, principalmente de figuras assustadoras e folclóricas, mas como não
somos patriotas ao extremo ninguém até hoje elegeu o Saci, a Mula Sem Cabeça ou
o E.T. de Varginha como símbolo de nossa festa das bruxas. Na falta de uma
imagem representativa, os saudosistas podem eleger como figura-chave a
protagonista do longa Elvira, A Rainha das Trevas (1998),
um clássico das sessões da tarde que virou uma tradição da Rede Globo em exibi-lo
todo 31 de outubro. Pena que nos últimos anos a fita do filme foi engavetada
pela emissora e DVD dele nem sinal.
A trama é uma comédia
com toques de horror protagonizada por Elvira (Cassandra Peterson),
apresentadora de um programa de baixo orçamento que exibe filmes de terror, algo
típico para entreter adolescentes nos anos 80. A sua vida tediosa pode mudar
completamente ao saber que herdou da tia Morgana (também vivada por Cassandra)
uma mansão em uma pequena cidade em Massachusetts. Ela pretende vender a casa e
ir viver com todo o glamour possível de Las Vegas, mas quando vai visitar a
propriedade para tomar providências encontra certos problemas. A população
provinciana fica espantada com o modo de agir e de se vestir de Elvira e passa
a protestar contra a sua presença, movimento liderado pela intrometida Chastity
Pariah (Edie McClurg). Outro empecilho é Vincent Talbot (William Morgan
Sheppard), um parente que não herdou nada, mas deseja obter um livro que também
foi herdado por Elvira no qual estão anotadas receitas de feitiços que podem
transformá-lo em um poderoso bruxo.
Pelo enredo dá para
perceber o seu potencial para clássico da tarde, mas só vendo para crer como
uma produção assumidamente trash e debochada pode ser deliciosa. Os efeitos
especiais são péssimos, as atuações idem e a direção de James Signorelli é um
tanto desorientada. Porém, o longa conta com uma protagonista cheia de carisma,
divertida e com uma visual um tanto extravagante que conquista a atenção. Não
há como não reparar em sua cabeleira no melhor estilo roqueira, seu vestido
versão Mortícia Addams de sex shop e em seus fartos seios que quase pulam do
decote a cada movimento que ela faz. Aliás, seu par de peitos são os
responsáveis por uma cena hilariante e icônica da produção. É quando Elvira se
apresenta em um número musical e literalmente coloca os seios para dançar.
Outra cena clássica é a da receita que ela tenta fazer para alguns convidados e
acaba originando um monstrinho que a todo momento tenta dar o ar da graça
levantando a tampa com a cabeça. Bizarro, mas totalmente no clima da
produção.
O roteiro é da própria
Cassandra em parceria como John Paragon e Sam Egan, mas a personagem principal
não foi criada exclusivamente para o filme. Elvira é uma criação da própria
protagonista no final dos anos 70 justamente para apresentar filmes de terror
na TV. Sua inspiração certamente foi Vampira, mulher que ficou conhecida na
década de 1950 realizando a mesma atividade. O que poderia ser uma homenagem
acabou indo parar nos tribunais, caso relatado rapidamente no final do filme Ed Wood, de Tim Burton. Vampira não
conseguiu sucesso na carreira e não gostou nada de ver outra se tornando
sensação usando os mesmos artifícios.
Elvira, A Rainha das Trevas foi
lançado na carona do sucesso da apresentadora e poderia ser algo totalmente
dispensável nos dias atuais, ainda que Cassandra esteja viva, mantendo o mesmo
corpo de outrora e vez ou outra dando pinta trajada como a personagem. Bem, ao
que tudo indica a produção não significa nada mesmo para as distribuidoras de
filmes, só assim para explicar sua ausência no mercado. Estão perdendo tempo e
dinheiro. Certamente o DVD venderia horrores, afinal esta comédia marcou a
infância e a adolescência de muito marmanjo. Justamente por suas partes
técnicas e artísticas assumidamente de gosto duvidoso é o que o filme é tão
bom. Claro que ninguém pode esperar acrescentar algo de intelectual à sua vida
com tal produto, mas os momentos divertidos que ele proporciona compensam. As
opiniões sobre o humor oferecido podem ser diversas, mas uma coisa é unânime: a
experiência de acompanhar este produto é incomparável até hoje, ainda mais com
os aspectos e características típicos da década de 1980 acentuados pelo passar
dos anos e que dão um charme envelhecido irresistível à obra. Alguma empresa do
ramo tem um chefe que reúne coração e cérebro em iguais e boas proporções?
Então por favor, movam montanhas se for possível, mas coloquem Elvira e suas
maluquices em um DVD urgentemente para a alegria dos saudosistas!
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