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quinta-feira, 4 de agosto de 2011

JACK NICHOLSON, UM HOMEM, UMA LENDA


Com seu sorriso cínico e predileção em compor tipos totalmente diferentes, talvez ninguém acreditasse que o astro de filmes B da década de 60 se tornaria um dos maiores atores que Hollywood já teve e o recordista em indicações ao Oscar entre os homens. Jack Nicholson,é um artista muito carismático e talentoso que vem abrilhantando a história do cinema há várias décadas com interpretações inspiradas e marcantes, mas é claro que não escapou de dar alguns escorregões ao aceitar convites desnecessários, como viver um dono de um canil em O Cão de Guarda (1992) ou desaparecer em meio as loucuras do diretor Tim Burton em Marte Ataca! (1996). É certo que mesmo quando o personagem não é tão interessante ou é secundário, como na comédia Como Você Sabe (2010), ele não passa despercebido e seu nome estampado em um cartaz ou na capa de um DVD chama a atenção.

Nicholson nasceu em Nova Iorque em 22 de abril de 1937 e sua história de vida renderia um filme bem interessante. Sua mãe June Frances Nicholson era uma dançarina e se envolveu com um homem comprometido que trabalhava no mesmo meio que ela, o ítalo-americano Donald Furcillo. Os dois chegaram a se casar, mas o rapaz continuou vivendo na bigamia e mesmo assim se ofereceu para tomar conta do filho da esposa, esta que não revelava quem era o pai do bebê. Porém, com a vida conturbada do pai e o desejo da mãe em continuar no mundo da dança, uma criança seria um problema e acabaria crescendo em um ambiente desfavorável. Assim, o garoto foi criado acreditando que seus avós John e Ethel eram seus pais e sua mãe era sua irmã. Só foi descobrir a verdade quando já era adulto, em 1974, graças a uma entrevista para uma revista em que o repórter, sem querer ou por puro oportunismo, lhe revelou tudo. Apesar da situação inusitada, o ator lidou bem com o assunto e sem traumas, mas nunca soube nada de concreto a respeito do pai.

Curiosidades sobre sua vida pessoal à parte, Nicholson já era famoso quando descobriu a sua conturbada história familiar. Ele começou sua carreira com o diretor Roger Corman estrelando The Cry Baby Killer (1958), onde fez o papel de um delinqüente juvenil que mantém um grupo de reféns enquanto foge da polícia. A dobradinha ainda rendeu A Pequena Loja de Horrores (1960), no qual fez uma ponta como um paciente masoquista em um consultório de dentista. Para o ator, praticamente a década de 60 foi marcada por produções menores e esquecidas. Foi salvo pelo gongo em 1969 quando conseguiu seu primeiro personagem de destaque em Sem Destino interpretando um advogado chegado a bebedeiras que rendeu sua primeira indicação ao Oscar como coadjuvante. A nomeação como Melhor Ator na premiação veio com Cada Um Vive Como Quer (1970) interpretando um ex-pianista que volta para sua casa por causa da doença do pai e acaba dividido entre dois amores. O feito foi novamente repetido com o marinheiro que viveu em A Última Missão (1973), personagem pelo qual já havia vencido no Festival de Cannes.

Em Chinatown (1974), vivendo um detetive investigando uma trama de escândalos políticos e pessoais, novamente as premiações se renderam ao talento do astro, porém, mais importante do que o reconhecimento do seu trabalho, foi a amizade que fez com o diretor John Huston, com quem voltaria a trabalhar em 1985 no famoso A Honra do Poderoso Prizzi interpretando um matador profissional. Nesta época ele já se relacionava com a filha do cineasta, a atriz Anjelica Huston que também atua no longa, um envolvimento que durou cerca de dezessete anos, mas marcado por problemas e desconfianças. Sempre muito namorador, esse foi o casamento mais longo que Nicholson teve. Mesmo separados, voltaram a atuar juntos em Acerto Final (1995), vivendo um casal se divorciando devido a uma tragédia que atrapalhou a harmonia da família. Sob a direção do também ator Sean Penn, voltou a repetir a parceria em 2001 em A Promessa, mais uma vez encarnando um detetive.

Voltando a falar de prêmios, a famigerada estatueta dourada do Oscar só veio com Um Estranho no Ninho (1975), quando viveu um delinqüente que finge ter problemas mentais para fugir da prisão. O filme ajudou a perpetuar a imagem de louco, tipo que o ator sempre interpretou com sucesso em diversas oportunidades. Certamente este trabalho fez com que Stanley Kubrick lhe desse o papel principal de O Iluminado (1980), no qual Nicholson criou um dos personagens mais assustadores da história do cinema vivendo um homem que aceita um emprego em um isolado hotel onde ocorreu um cruel massacre. Enlouquecendo por causa da solidão, ele chega ao ponto de tentar matar sua família. Apesar do tema clichê, o talento do astro consegue dar um tempero extra a história que até hoje continua perturbadora.

Ainda na década de 80, mais um Oscar veio parar nas mãos do ator. Ganhou como ator coadjuvante por Laços de Ternura (1983) dando vida a um astronauta sedutor e provando que mesmo em papéis secundários não deixa a desejar. Ele voltaria a interpretar o mesmo papel em O Entardecer de uma Estrela (1996), mas não conseguiu repetir o sucesso do original. Um ano depois, Nicholson fez o público e os críticos se divertirem e se emocionarem e conseguiu faturar seu terceiro prêmio da Academia com Melhor é Impossível, mais uma vez interpretando um homem neurótico. Curiosamente, todas as vezes em que recebeu um Oscar, sua companheira de cena também levou o prêmio de atriz pelo mesmo longa. Foi assim com Louise Fletcher, Shirley MacLaine e Helen Hunt.


Nicholson é pop

Desde os anos 70, após a fase dos filmes B, o astro já estava selecionando melhor seus projetos e trabalhando com diretores conceituados como Michelangelo Antonioni em Profissão: Repórter (1975), mas sempre achou uma brecha ma agenda para projetos mais comerciais como a comédia As Bruxas de Eastwick (1987), onde aprontou todas que podia com as feiticeiras interpretadas por Susan Sarandon, Michelle Pfeiffer e Cher. No mesmo ano em que se aventurou no campo do humor rasgado, também emprestou seu talento para Ironweed, com direção de Hector Babenco, dividindo a cena com a grande Meryl Streep. Ambos interpretam alcoólatras vivendo em um mundo de fantasia para esquecer as tristezas do passado.

Apesar de um currículo repleto de grandes trabalhos e uma enorme legião de fãs, talvez o ator só tenha experimentado o gostinho do sucesso por completo quando surpreendeu o mundo ao aceitar o convite para dar vida ao vilão Coringa no filme Batman (1989). Indicado para o papel pelo próprio Bob Kane, criador da série passada na fictícia Gothan City, Nicholson criou um tipo único e inesquecível, sendo que sua imagem foi apenas apagada, e ainda parcialmente, pela interpretação visceral de Heath Ledger que recriou o personagem de uma forma bem diferente anos mais tarde, mas não viveu para ver o resultado. Pelo menos a conta bancária do veterano ator até hoje deve ter muito a agradecer ao Coringa, já que seu salário foi dado através de uma polpuda porcentagem da bilheteria que, diga-se de passagem, foi gigantesca.

Com tanta vivência sobre os bastidores do cinema, em 1990 Nicholson se sentou na cadeira de diretor para realizar uma continuação tardia de Chinatown intitulada A Chave do Enigma. A idéia era ter uma trilogia envolvendo o detetive Jake Gittes, seu célebre personagem no original, mas como esta segunda parte não rendeu o esperado nas bilheterias e nem arrancou elogios da crítica o projeto ficou só na intenção. Ele já havia investido na carreira atrás das câmeras dirigindo Christopher Lloyd e John Belushi em Com a Corda no Pescoço (1978), produção que também protagonizou como um homem que se casa forçado para escapar da morte.

Em Questão de Honra (1992), novamente os críticos o aclamaram e suas indicações aos principais prêmios da indústria cinematográfica já estavam reservadas pelo papel de um coronel do exército. A fita foi um sucesso até porque tinha Tom Cruise como um dos protagonistas. Porém, a boa fase não durou muito. Nicholson recebeu comentários desfavoráveis a sua interpretação como um líder sindical na cinebiografia Hoffa - Um Homem, Uma Lenda (1992) e quando aceitou viver um lobisomem no suspense Lobo (1994), mas nada de tão grava para manchar seu currículo.

Nos anos 2000, o ator diminuiu consideravelmente seu ritmo de trabalho e parece estar querendo mais é se divertir, mas ainda assim escolhendo bons roteiros. Lidou com o humor sutil e cheio de mensagens reflexivas no bem avaliado As Confissões de Schmidt (2002) no papel de um vendedor de seguros aposentado que questiona a própria vida. No ano seguinte, se entregou completamente a comédia se aliando ao astro do gênero do momento Adam Sandler em Terapia de Choque na pele de um terapeuta agressivo e com estranhos métodos de trabalho e ainda viveu uma engraçada relação amorosa com Diane Keaton em Alguém Tem Que Ceder. De genro ele passou a ser seu namorado nesta briga de foices entre dois grandes intérpretes. Seu último grande sucesso foi com Antes de Partir (2007), uma comédia dramática onde ele e Morgan Freeman vivem dois velhinhos de classes sociais distintas que se encontram na mesma situação: estão condenados a morte pela saúde frágil, mas cheios de vontade de viver intensamente seus últimos momentos.

Com diversos prêmios enfeitando sua casa e uma carreira sólida, o ator já poderia gozar de eternas férias, mas ele ainda faz questão de vez ou outra dar o ar de sua graça em alguma produção, modesta ou não. Certamente, no futuro, ele será uma lenda na história do cinema cuja obra fala por si só. Entre Clark Gable, Richard Burton, Charlton Reston e tantos outros, ele também estará na lista dos mais aclamados artistas de todos os tempos. Felizmente ele ainda está entre nós e com fôlego para nos dar muitas outras alegrias. Assim, literalmente, Nicholson é o que podemos chamar de uma lenda viva.

Um comentário:

renatocinema disse...

Bela homenagem.
Belo texto.

Fica em segundo, no meu gosto como ator. Só perde para De Niro.

Mas, não tenho como negar, o eterno coringa é malandro e pop.

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