Produções de todos os
gêneros já conseguiram marcar época até mesmo quando usam a simplicidade a seu
favor, como foi o caso do fenômeno A
Bruxa de Blair lançado em 1999 que faturou horrores apoiando-se em uma
inteligente e criativa estratégia de marketing que enalteceu um produto com
visual paupérrimo. No mesmo ano, mais especificamente alguns meses antes, os
holofotes estavam voltados a outro trabalho que também causou frisson, porém,
turbinado com um visual arrebatador e uma publicidade que na teoria não seria
funcional, mas contrariando expectativas colaborou e muito para sua fama e
bilheteria. Matrix chegou ao Brasil envolto a polêmicas fomentadas em
outros países por onde já havia estreado, mas ostentando um caixa de dar
inveja. O longa ganhou espaço nos noticiários devido as suas fortes cenas de violência
e tiroteios. Especialistas em comportamento alegavam que o emprego de tais
cenas aliadas ao estilo de vestimentas dos personagens, como se fosse uma
gangue cuja marca era os trajes negros e soturnos, poderia gerar problemas na
sociedade, principalmente entre o público adolescente que poderia ser
influenciado já que essa é uma fase da vida em que eles buscam referenciais e
precisam se sentir fazendo parte de algum grupo com o qual se identifiquem. O tempo passou e gangues de jovens surgiram, influenciados
ou não, mas o fato é que esse grande marco da ficção científica continua como
uma obra ímpar que nem mesmo seus realizadores conseguiram gerar episódios
seguintes com o mesmo grau de qualidade e inventividade. Dirigido pelos irmãos
Wachowski, dupla de cineastas que viu seus nomes serem catapultados da noite
para o dia ao estrelato, o roteiro trouxe à tona questões complexas e
existenciais, ainda que a premissa fosse a mesma de tantos outros exemplares do
gênero. Os humanos futuramente acabam sendo escravizados por máquinas dotadas
de inteligência artificial, o que gera uma guerra sem precedentes. Entre
teorias filosóficas e outras apocalípticas, boa parte do público que lotou os
cinemas estava mesmo é ávida por inovação e adrenalina.
A cena em destaque reúne diversas características que
se tornaram marcas registradas da produção. Com óculos e roupas escuras e
vivendo em uma realidade completamente nova e com visual estilizado, Keanu
Reeves viu seu prestígio aumentar ainda mais, principalmente entre os jovens,
tornando-se um ícone pop ao dar vida ao enigmático personagem Neo.
Curiosamente, pouco tempo após o lançamento de Matrix entraria em cartaz
o aguardado Star Wars – Episódio 1 – A
Ameaça Fantasma. Ambos representantes da ficção científica, cada qual com
seu estilo visual peculiar, esta foi uma das raras oportunidades do público
conferir quase que simultaneamente duas produções do mesmo gênero, uma
categoria que na época necessitava de uma injeção de ânimo após vários projetos
fracassados e com aura de filme B. O saldo final do trabalho inovador foi
bastante positivo. A ficção se tornou um dos maiores fenômenos cinematográficos
de todos os tempos, conquistou quatro merecidos Oscars técnicos e inovações
como o congelamento de um personagem no ar enquanto outros se movimentam ao
redor foram incorporadas definitivamente aos estilos de filmagem. Claro que
paródias surgiram aos montes nos anos seguintes, mas nada que desmerecesse a
produção, ao contrário, até serviram para aguçar a curiosidade de quem até
então não havia embarcado nessa viagem. Praticamente com um pé na virada do
milênio, a época era propícia para uma obra inovadora tanto no emprego da
tecnologia quanto em conceitos revolucionários, pena que nem todo mundo que
assistiu conseguiu dissecar o roteiro a ponto de captar a mensagem profunda
escondida por trás de tantos efeitos especiais. Ficaram na superfície do
assunto, mas o suficiente para se satisfazerem, afinal corre-corre e barulho
tem de sobra aqui.
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